OPERAÇÃO BERERÉ
Empresa acusada de lavar dinheiro contratou babá para "despistar" investigações Para investigação, depoimento reforça que Santos Treinamentos é de "fachada"
A babá Lucilene de Souza Dias Gomes, ex-funcionária do empresário Roque Reinheimer, reforçou a suspeita do Ministério Público Estadual (MPE) de que a empresa Santos Treinamento e Capacitação de Pessoal LTDA seja de “fachada”. As declarações dela ocorreram em depoimento na Delegacia Fazendária, durante as investigações da “Operação Bereré”, e foram divulgadas pelo site Midianews.
Em depoimento, Lucilene confirmou que, apesar de registrada como funcionária da Santos Treinamentos, trabalhava como babá da filha de Roque. “Fui contratada pela pessoa de Roque Anildo Reinheimer para trabalhar em sua residência como babá de sua filha Maria Eduarda por um salário mínimo. Não me recordo o valor vigente à época”, cita no depoimento.
A empregada informou que o patrão dela disse que iria registrá-la na empresa Santos Treinamento, para que ela tivesse benefícios trabalhistas, que não ocorreria caso trabalhasse como babá. “A minha carteira de trabalho foi devidamente registrada pela empresa Santos Treinamento e Capacitação de Pessoal Ltda, a qual segundo ele [Roque] seria sócio, e quando deixei de trabalhar na residência da pessoa de Roque Reinheimer, este providenciou a baixa da carteira de trabalho”, contou.
Lucilene confessou que não sabe qual era a atividade desenvolvida pela Santos Treinamento. Além disso, sequer sabe o endereço da empresa, que fica no escritório de advocacia de Antonio Eduardo da Costa e Silva. “Todo o período em que consta como registrada como funcionária da empresa Santos Treinamento e Capacitação de Pessoal Ltda, exerci a função de babá, na residência da pessoa de Roque Anildo Reinheimer”, confessa.
Para a Delegacia Fazendária, o registro da babá como funcionária da Santos Treinamento foi uma "estratégia" dos proprietários para mostrar que as empresas estavam em pleno funcionamento. Todavia, a empresa, apesar de movimentar grande quantia em dinheiro, não tinha sequer sede.
BERERÉ
Deflagrada no dia 19 de fevereiro de 2018, a operação Bereré, do Gaeco e da Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e contra a Administração Pública (Defaz-MT), desbaratou uma quadrilha que lavava dinheiro e desviava recursos públicos por meio de empresas que prestam serviços ao Detran-MT. O bando agia desde 2009 e teria desviado em torno de R$ 1 milhão por mês.
Os principais alvos da operação são os deputados estaduais Eduardo Botelho e Mauro Savi, ambos do PSB, além do ex-deputado federal Pedro Henry. As investigações tem como base os depoimentos de colaboração premiada do ex-presidente do Detran-MT, Teodoro Lopes, o “Doia”, além do empresário Rafael Yamada Torres, outro delator do esquema.
Segundo as investigações, a Santos Treinamento e Capacitação é uma empresa fantasma que já teve entre seus sócios o presidente da AL-MT, Eduardo Botelho (PSB). A organização recebia recursos desviados da FDL Serviço de Registro, Cadastro, Informatização e Certificação de Documentos, que realiza junto ao Detran-MT o registro de financiamentos de veículos em alienação fiduciária.
Um dia depois da deflagração da operação, em 20 de fevereiro, Eduardo Botelho admitiu que conhecia a fraude e se disse “arrependido” de não ter deixado o quadro societário assim que soube do esquema, em 2011.
O desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), José Zuquim Nogueira, determinou no dia 16 de fevereiro de 2018 o sequestro de R$27.722.877,38 de 17 pessoas, entre físicas e jurídicas, envolvidas no esquema de lavagem e desvio de dinheiro no Detran de Mato Grosso. De acordo com o despacho do magistrado, o recurso era “desviado” do órgão para “retirar-lhe a sujeira que cobre a sua origem”. Entre as pessoas atingidas pela medida estão os deputados estaduais Eduardo Botelho, Mauro Savi, o ex-deputado federal Pedro Henry, além de sócios e lobistas que participaram do esquema.
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