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Domingo - 25 de Novembro de 2018 às 10:29
Por: Bianca Fujimori/Mìdia News

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Alair Ribeiro/MidiaNews
Jones Fernandes passou 20 dias na sapataria do pai para concluir os serviços
Jones Fernandes passou 20 dias na sapataria do pai para concluir os serviços

Na família de Jones Espíndola Fernandes, de 46 anos, a arte de consertar e fabricar calçados é passada de pai para filho.

Filho de Vicente Montiel Fernandes - paraguaio que inaugurou a Sapataria Majestade há 40 anos no Centro de Aquidauana (MS) e faleceu em outubro deste ano -, ele aprendeu o ofício ainda jovem e chegou a trabalhar ao lado do pai por 18 anos.

Por ser bem tradicional na cidade do interior de Mato Grosso do Sul, todos conhecem ou já ouviram falar da loja de conserto de calçados.

“Como tem poucos sapateiros, meu pai era um dos tradicionais lá. Meu pai sempre ficou no Centro da cidade, até morrer. Mesmo aposentado, ele continuava praticando o ofício”, revelou o filho.

Jones até tentou se afastar do ramo, mas se viu retomando a atividade. Em fevereiro deste ano, ele mudou-se com a família para Cuiabá e, em setembro, passou a atuar na área no Bairro Carumbé.

Geralmente os pais ensinam para os filhos. A maioria dos meus familiares são sapateiros, mas dificilmente ouço falar de alguém que ensina outra pessoa que não é da família a ser sapateiro

No mês seguinte, a fim de honrar o nome e os compromissos do falecido pai, ele passou 20 dias em Aquidauana (MS) concluindo concertos de calçados na Sapataria Majestade.

“A gente tem que procurar ser honesto com tudo. Então, para ninguém ficar no prejuízo, ficar insatisfeito, eu resolvi entregar”, afirmou Jones.

Aos 73 anos, Vicente descobriu que sofria com cirrose 12 dias antes de sua morte, que aconteceu no dia 20 de outubro deste ano. Como a doença já estava muito avançada, não havia mais possibilidade de tratamento.

Segundo o filho, o sapateiro não se deixou abalar pela enfermidade. Mesmo internado, ele manteve o alto astral pelo qual era conhecido.

“Até o décimo dia ele estava andando, conversando, fazia tudo normal. Sempre bem energético, apesar da idade. Muitas pessoas admiravam isso”, disse Jones.

De acordo com Jones, a oficina possuía quatro máquinas de costura e uma lixadeira, todas antigas e com grande valor para ele.

“Tudo da sapataria ficou para mim. Era um espaço bem grande mesmo. Essas máquinas possuem seu valor sentimental e histórico para mim”, afirmou

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Jones Espindola Sapataria

Jones aprendeu ofício com o pai, com quem trabalhou por 18 anos

Arte de família

Antes mesmo de Jones se tornar sapateiro, seus avós já executavam o ofício no Paraguai. O trabalho foi passado ao longo das gerações.

Ainda muito jovem, com cerca de 20 anos, Vicente se mudou para Aquidauana com sua recém-esposa. O casal se naturalizou no país e, então, abriu a sapataria.

“Geralmente os pais ensinam para os filhos. A maioria dos meus familiares são sapateiros, mas dificilmente ouço falar de alguém que ensina outra pessoa que não é da família a ser sapateiro”, explicou Jones.

Assim, o sapateiro sustentou seus seis filhos e a esposa. Conforme Jones, a família sempre viveu com qualidade.

Como parte de um processo natural da sua infância, o sapateiro contou que cresceu vendo seu pai trabalhar e assim aprendeu a arte.

“Eu era criança e, para a gente não ficar na rua, nossos pais nos levavam para acompanhar eles nos serviços. Aí, a gente foi vendo algumas coisas e aprendendo”, relembrou.


Jones diz que a profissão é considerada uma arte porque demanda criatividade do sapateiro.

“Você tem que ter criatividade, uma ideia para modificar, para recuperar aquele calçado. Meu pai já criou sapatos para pessoas deficientes, que tem pé torto, tipo um sapato ortopédico. O que precisar, faz”, afirmou.

Apesar disso, o sapateiro se preocupa com o fim do seu ofício. Segundo ele, as pessoas preferem comprar um calçado novo a consertar um que estragou.

“Hoje em dia a pessoa prefere comprar um novo na loja porque sai mais em conta. Tem que fazer um orçamento com os gastos de materiais e mão de obra. Só depois que você põe um valor e ai fica alto para as pessoas”, relatou.

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