Bom velhinho
Papai Noel pantaneiro leva cultura para comunidades rurais de MT Há 13 anos, Clovis Matos vive o personagem natalino e toca o projeto "Inclusão Literária"
Dono de um visual que remete a uma figura conhecida internacionalmente, Clovis Matos, de 63 anos, ocupa o posto de Papai Noel em um shopping da Capital há 13 anos. Fora dali, ele também encarna o personagem em comunidades da baixada cuiabana durante o Natal.
Conhecido como Papai Noel Pantaneiro, em suas viagens pelo interior do Estado ele adapta o típico traje vermelho para a realidade e o clima da zona rural.
“Eu não sou assim porque faço Papai Noel. Eu faço Papai Noel porque eu sou assim. Eu sempre fui desse jeito”, diz Clóvis, aos risos.
Dono do projeto Inclusão Literária, criado em 2005, ele conta que a iniciativa partiu da vontade de tornar a literatura mais acessível para pessoas de baixa renda. Mas para custear o projeto, Clovis precisava de uma renda extra. Foi aí que o cargo de Papai Noel pareceu ser uma boa ideia.
“Eu trabalhava em uma livraria aqui [no shopping] e uma menina do marketing vivia me chamando. Quando eu lancei o projeto eu pensei: ‘Vou precisar de grana’. Aceitei [o convite] e não larguei mais. É uma fonte de renda muito importante do projeto”, conta.
Reprodução/Facebook
Clovis Matos chegadando em uma das comunidades ribeirinhas da baixada cuiabana
O trabalho como Papai Noel é uma das principais fontes de financiamento do Inclusão Literária, que também conta com o patrocínio da Energisa e agora também do Shopping Três Américas, que cedeu um espaço para receber doações de brinquedos e livros de literatura infantil.
O lugar, batizado de Casa do Papai Noel Pantaneiro, fica localizado no primeiro piso do shopping e ficará aberto até o dia 24 de dezembro, no mesmo horário de funcionamento do shopping – de segunda-feira a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 14h às 20h.
Projeção nacional
Além de dar vida ao bom velhinho nos finais de anos, Clovis também é historiador e servidor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Ele ficou conhecido nacionalmente depois que teve a história de seu projeto contada no especial de Natal do programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo.
Durante sua passagem pelo programa, além da oportunidade de contar sua história e transmitir a mensagem do projeto, Clovis ganhou uma caminhonete nova e uma biblioteca móvel com mais de 3 mil livros dentro.
Antes do presente, Clovis desbravava as estradas de Mato Grosso com uma caminhonete 1974 e com uma kombi. Os dois veículos foram, por muito tempo, os únicos companheiros de jornada, mas limitavam o acesso a lugares mais afastados. O carro novo em folha alterou a logística das viagens.
“Estruturalmente, [mudou] tudo. Esse carro é fantástico, não tenha dúvida. Facilita muito meu movimento, as idas e vindas, e em contrapartida, aumentou a demanda”, conta.
Nesses 13 anos, Clóvis já rodou mais de 100 mil quilômetros e distribuiu aproximadamente 90 mil livros, que foram conseguidos por meio de doação. Os mais populares são os livros infantis de ficção. Em seguida, histórias em quadrinhos e livros de literatura para o público jovem-adulto.
Viajando pelo interior de Mato Grosso em várias épocas do ano, Clovis sentiu a necessidade de dar um pouco mais de atenção às comunidades ribeirinhas ao longo do Rio Cuiabá durante o Natal.
Ela conta que, seja na Capital ou no interior, a magia da data ainda mora na mente das crianças, que não perderam a crença no Papai Noel.
“A fantasia na cabeça da criança não se apaga. Na zona rural, principalmente, as crianças já ficam me esperando o ano todo. Esses tempos [atrás], apareceu um outro Papai Noel [no interior] distribuindo balinha. Eles falaram: 'Você não é o nosso Papai Noel, o nosso não veio ainda, estamos esperando ele’“, conta.
Reprodução/Facebook
Clovis e sua 'Furiosa': a caminhonete Ford F75 verde era companheira inseparável das viagens pelo interior de MT; em 2017, teve que ser aposentada depois que o motor estragou
Apesar do encantamento ser o mesmo, Clovis aponta que o comportamento das crianças da Capital e da zona rural são diferentes. “[As crianças do interior] são mais simples. A ligação com a terra faz com que elas sejam mais ligadas com as questões de família. A divisão do trabalho na zona rural é muito grande entre pais e filhos, o que na cidade é menor”, diz.
Em mais de uma década alegrando crianças e recebendo uma enxurrada de pedidos de presentes, Clovis sempre vai lembrar de um em especial: uma escada.
“Já tem alguns anos, já deve ser uma adolescente. Uma menina, de 4 anos na época, sentou no meu colo. A pergunta ‘o que você quer ganhar do Papai Noel?’ sempre surge, e ela me disse na hora: ‘Uma escada’. [Perguntei] ‘Uma escada!? Pra quê você quer uma escada, mocinha?’. Ela falou: 'Para chegar na lua e pegar uma estrela’ “, conta.
As pedras no caminho
Há 3 anos, o Inclusão Literária sofreu sua primeira perda. Um incêndio causado por um curto-circuito queimou cerca de 5 mil livros que estavam em uma casa que era usada como depósito.
Com ajuda da sociedade, Clovis conseguiu recuperar o acervo e continuou tocando o projeto.
O segundo baque veio em 2017 com o estrago do motor da Furiosa, a caminhonete que o acompanhou durante anos. Mas isso também não parou o trabalho, que continuou sendo realizado com a sua Kombi. Meses depois, Furiosa deu lugar à caminhonete Nissan Frontier dada pelo apresentador Luciano Huck.
No final de setembro deste ano, o antigo depósito que guardava os livros que foram consumidos pelo fogo foi atingido novamente por um incêndio. “Agora não pegou fogo, meteram fogo. Destruíram o resto”, conta. No lugar, havia apenas material que Clovis mandava para a reciclagem. Desta vez, o fogo atingiu drasticamente a estrutura da casa.
Os donos da residência são amigos de Clovis e alugaram o espaço anos atrás para que ele tivesse um local adequado para a triagem dos materiais. Agora, por conta dos danos estruturais causados pelo fogo, ela precisa ser reconstruída. O valor da reforma ficou em torno de R$ 60 mil, incluindo materiais e mão de obra.
Alair Ribeiro/MidiaNews
A Casa do Papai Noel Pantaneiro nasceu da parceria entre o projeto e o Shopping Três Américas, que cedeu o espaço para a arrecadação de brinquedos e livros de literatura
A ideia é que o espaço se torne um centro cultural e uma biblioteca pública, onde possam ser realizadas palestras, oficinas e cursos.
Por conta do alto valor da reforma, a jornalista Karina Cabral – amiga de Clovis – abriu uma "vaquinha" online para receber doações. Os interessados em ajudar podem acessar o site clicando AQUI.
Segundo Clovis, a doação de livros e brinquedos é mais intensa perto do Natal, mas pode ser feita o ano todo. Quem tiver livros de literatura infantil ou para o público jovem-adulto pode entrar em contato direto com ele pelo telefone (65) 9 8135-1176 ou através do e-mail clovismatos@hotmail.com .
GALERIA DE FOTOS
Reprodução/FacebookReprodução/FacebookReprodução/FacebookReprodução/FacebookAlair Ribeiro/MidiaNewsReprodução
Comentários