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Segunda - 07 de Janeiro de 2019 às 09:58
Por: Karina Stein/Mídia News

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Aparecida e Cléber fizeram transplante em São José do Rio Preto
Aparecida e Cléber fizeram transplante em São José do Rio Preto

A união de um casal de Mato Grosso foi além dos laços do matrimônio. Depois de ser diagnosticado com insuficiência renal crônica, Cléber Luiz de Mello, de 54 anos, passou por um transplante de rim, que foi doado por sua esposa Aparecida Dias de Mello, de 53 anos.

Moradores da cidade de São José dos Quatro Marcos (a 309 km de Cuiabá), Aparecida e Cléber são casados há 32 anos e têm dois filhos. A preocupação com a saúde sempre esteve presente na vida do casal. “Ele sempre fazia tratamento em Quatro Marcos com problemas de ácido úrico, sempre estava com dor no tornozelo, inchado”, conta Aparecida.

O diagnóstico de doença renal crônica veio só depois de uma consulta em Cáceres, em 2010. Aparecida conta que seu marido teve certa resistência em fazer a hemodiálise, tratamento que faz o papel dos rins e filtra o sangue por meio de um aparelho. “Ele não aceitava, ele acreditava que poderia com chás e outros meios melhorar do rim”, diz.

A rejeição do marido ao tratamento convencional durou até 2016, quando Cléber começou a sentir novos sintomas, como fraqueza e sangramentos pelo nariz. A única solução seria mesmo a hemodiálise, que ele se recusou a fazer pela segunda vez. “O médico falou que não ia se responsabilizar se acontecesse alguma coisa com ele”, conta Aparecida.

É gratificante ver em vida que você ajudou uma pessoa. Deus me mostrou que eu seria capaz de ser uma doadora para sentir essa emoção

Depois de uma conversa franca com a família, Cléber então começou a fazer o tratamento, já que os seus dois rins haviam parado de funcionar. Ele saía de São José dos Quatro Marcos para Cáceres pelo menos três vezes por semana para fazer a hemodiálise.

Devido ao tratamento pesado, Cléber precisou se afastar do trabalho como técnico agrícola e recebia o auxílio-doença do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e se aposentou logo em seguida.

No começo, além de tratar a insuficiência renal, Cléber teve que fazer um tratamento específico para anemia. As viagens para passar pela hemodiálise aconteceram durante um ano e seis meses.

O transplante

A possibilidade de transplante surgiu ainda no início do tratamento, em 2010, na primeira vez que vieram para Cuiabá cuidar do caso.

“Perguntei para o médico se eu tinha a possibilidade de ser doadora. Ele me perguntou se eu queria e falei sim, para salvar uma vida e tirar a pessoa do sofrimento”, conta.

O transplante, porém, ocorreu apenas no segundo semestre de 2018. Enquanto Cléber continuava com o tratamento, Aparecida fazia os exames necessários para saber se sua saúde estaria boa para doar o rim e se seria compatível com seu marido.

Parte dos exames e a cirurgia foram feitos no Hospital de Base em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, que é referência em transplante de órgãos no país. A maioria dos exames e a cirurgia foram realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O casal foi acompanhado pelo programa de Tratamento Fora do Domicílio (TFD), instrumento legal do SUS que garante tratamento médico a pacientes que tem doenças não tratáveis na sua cidade de origem por falta de requisitos técnicos. Além do transporte, o sistema oferece ajuda de custo para hospedagem e alimentação tanto do paciente quanto do acompanhante.

Aparecida conta que decisão de doar um de seus rins para o marido pegou alguns de seus familiares de surpresa. “Sempre tem aquele pontinho e interrogação por parte da família da gente, ficaram preocupados. Mas eu expliquei para eles”, diz.

Mesmo sendo compatível com Cléber, o rim de Aparecida corre o risco de ser rejeitado pelo organismo depois do transplante. O risco de rejeição existe tanto em órgãos de doadores vivos quanto em órgãos de foram doados após a morte de alguém. Para combater isso, a pessoa que recebe o transplante toma medicamentos imunossupressores depois da cirurgia.

Sobre o tratamento que ela e o marido receberam durante o processo, Aparecida é só elogios. “Fomos muito bem tratados, o hospital é coisa de primeiro mundo. A gente não tem o que reclamar daqui”, afirma.

Reprodução/Arquivo Pessoal

aparecida e cleber transplante de rim

A maioria dos exames, consultas médicas e a cirurgia foram realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS)

O casal continua o acompanhamento médico em São José do Rio Preto. Para as pessoas que ainda têm receio em se declarar doadores de órgãos, Aparecida aconselha a dexarem o medo de lado.

“É gratificante ver em vida que você ajudou uma pessoa. Deus me mostrou que eu seria capaz de ser uma doadora para sentir essa emoção”, diz.

Doação de órgãos

Existem duas possibilidades para quem necessita de um transplante de órgão. A primeira é se inscrever em uma lista de espera do Sistema Nacional de Transplantes e aguardar que um doador seja compatível. Nestes casos, os doadores são pessoas que tiveram a morte encefálica confirmada e a doação dos órgãos ocorre mediante autorização da família.

Outra opção é ter algum familiar ou amigo disposto a ser doador de alguns órgãos em vida, como é o caso de rins, medula óssea e partes do pulmão, fígado e pâncreas. Em casos onde não há grau de parentesco, é necessário entrar com uma autorização judicial para o procedimento.

De acordo com o relatório da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), entre janeiro e setembro de 2018, cerca de 33.407 pacientes aguardavam na lista de espera de doação de órgãos.

Em Mato Grosso, todos os 125 pacientes que aparecem na fila aguardam por transplante de córnea.





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