Gado será garantia de crédito em projeto de multinacionais
Um chip pendurado na orelha do boi permitirá que pecuaristas ofereçam o animal em garantia ao banco para a contratação de empréstimos rurais.
A modalidade, amplamente usada para financiar casas e automóveis, é conhecida por alienação fiduciária. No campo, poderá ser uma opção para produtores rurais obterem crédito sem a necessidade de alienar a fazenda inteira.
Em parceria, Santander e Bosch estudam alternativa para melhorar os processos de garantia na concessão de crédito por meio de sistema de monitoramento do gado. O projeto está em fase piloto. Não há previsão de lançamento.
Atualmente, as taxas praticadas no setor rural, divulgadas pelo Banco Central, são de 9,1% no crédito livre para pessoa jurídica e 6,5% no crédito direcionado. Para pessoa física, os juros são de 10,1% e 6,6%, respectivamente.
Segundo o Santander, as taxas não serão reduzidas com a nova garantia, mas a iniciativa atende demanda que vinha sendo feita por pecuaristas.
Alguns, de acordo com o banco, já tinham o bem alienado e não conseguiam acessar novos empréstimos.
"O produtor que busca hoje uma linha de crédito com juros menores tem de dar como garantia sua fazenda e, muitas vezes, tudo o que tem dentro dela", disse Thiago Bernardino, economista agrícola e pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
A pecuária, diz, é uma atividade com retorno financeiro a médio e longo prazo. No entanto, o produtor continua investindo capital para custear novos animais, cuidar do gado, garantir a qualidade da pastagem e recorrer ao confinamento em épocas de seca.
"O crédito nesse setor costuma ter o papel de ajudar o pecuarista até o momento da comercialização", disse.
O sistema de monitoramento do projeto, na opinião do pesquisador, diminui riscos para pecuaristas e instituições financeiras.
O banco, disse ele, mantém o controle da garantia enquanto o produtor usa a tecnologia para acompanhar a evolução dos animais.
Paulo Rocca, vice-presidente da Bosch no Brasil, afirmou que o mecanismo desenvolvido em 2017 pela empresa viabiliza nova forma de emprestar dinheiro.
Antes de pedir o crédito, o pecuarista precisará contratar o sistema da Bosch, que tem custo.
A ferramenta inclui balanças de pesagem fixas e móveis, etiquetas eletrônicas de identificação para os animais e um sistema de software para rastreá-los.
No projeto, o pecuarista poderá escolher entre duas modalidades para contratar o empréstimo. O primeiro modelo, disse Rocca, oferecerá recursos para monitorar o rebanho.
"Com o segundo módulo, o produtor também poderá acompanhar a curva de crescimento do gado e comparar o efeito de troca de alimentos entre animais da fazenda", afirmou Rocca.
"Estamos fazendo adaptações no dispositivo porque agora o boi será uma garantia e precisará ser monitorado o tempo todo", disse.
O sistema, segundo ele, está sendo aprimorado para lidar com riscos e adversidades.
Situações como a perda de conexão com a rede de monitoramento e o desaparecimento de animais estão sendo aplicadas aos algoritmos do software. As experiências são colhidas em testes do projeto com pecuaristas.
"A responsabilidade dos riscos será analisada caso a caso na parceria. Mas, se apenas um animal morrer, por exemplo, é provável que o custo de sua reposição seja do proprietário", afirmou Rocca.
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