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Economia
Quinta - 07 de Novembro de 2019 às 06:41
Por: Diário de Cuiabá

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Os gastos com transporte já estão pesando mais do que a alimentação no orçamento dos brasileiros. É o que aponta a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017/2018 (POF), divulgada ontem pelo IBGE. Segundo o levantamento, 18,1% dos gastos mensais das famílias brasileiras eram com transporte coletivo, compra de combustíveis ou de veículos. As despesas com alimentação correspondiam a 17,5% do desembolsado com consumo. Esta é a primeira vez na série histórica da pesquisa, iniciada na década de1970, que essa inversão ocorre.

Na pesquisa anterior, de 2008/2009, a parcela do orçamento comprometida com as despesas de transporte era de 19,6% e, com alimentação, 19,8%. A inversão ocorrida na última década foi influenciada pelo aumento dos gastos das famílias de maior renda com compra de veículos novos e com gasolina ou etanol, que ficaram mais caros. Das despesas com transporte, 38% estavam relacionadas à aquisição de veículos. O gasto com gasolina também tem forte peso no orçamento das famílias: 20%. Já o transporte urbano tem participação mais tímida, de 8,9%, na média.

"Na alimentação, você consegue fazer escolhas, a substituição de produtos é mais fácil. No caso de transporte, você tem que pegar de qualquer maneira", explicou André Martins, gerente da POF.

A pesquisa mostra, no entanto, que o gasto com locomoção é desigual. Para as famílias mais ricas, com renda acima de 25 salários mínimos, as despesas com transporte eram 30 vezes o valor do gasto nos lares com rendimentos mais baixos.

"Os brasileiros ainda têm grande interesse em ter carro. Não é apenas efeito das políticas de IPI reduzido" (política vigente até 2014), avalia Fernando Gaiger, pesquisador do Ipea. As despesas com transporte e alimentação têm pesos distintos nos orçamentos das famílias. A fatia dos gastos com locomoção é maior entre os de renda maior, ao passo que, entre os de menor renda, a alimentação pesa mais.

O peso dos combustíveis no orçamento fez com que o carioca Flávio Uchôa, de 34 anos, deixasse o carro na garagem e utilizasse a moto para trabalhar e economizar: "Gasto pelo menos R$ 30 de gasolina todos os dias. Em casa, somos eu, minha mulher e três crianças. O gasto com comida é um pouco maior, mas isso não quer dizer que eu não gaste bastante com os veículos".

Para o barbeiro Roberto Oliveira, de 32anos, a despesa com uso do carro todos os dias representa R$ 900 mensais, apertando seu orçamento: "Parcelei o carro para poder comprá-lo. Moro longe do trabalho, dependo do carro para trabalhar. Mas, como uso o veículo todos os dias, o gasto com combustível, conserto e pedágio supera a minha despesa com alimentação".

Os brasileiros também estão gastando mais com alimentação em bares e restaurantes. Em 2018, as famílias gastaram, em média, 32,8% do orçamento (R$ 215,96) com alimentação na rua. A maior expansão foi percebida no Nordeste, de 23,5% para 32,3% em dez anos. Para o IBGE, o crescimento pode estar ligado à expansão dos empregos formais na região, o que proporcionou um aumento das despesas fora de casa. O barateamento das quentinhas também pode explicar o fenômeno. O comerciário Geovani Santos, de 36 anos, e sua mulher, a manicure Viviane Menezes, de 33, almoçam todos os dias no shopping, por R$ 10. A economia e o fato de trabalharem fora pesam na decisão.

"Em casa, gasta-se gás, água e, dependendo da situação, é preciso ter uma empregada doméstica. Está mais barato comer em restaurante do que comer em casa", afirma Viviane. O hábito, no entanto, pode ser prejudicial à saúde da população. Segundo Carlos Augusto Monteiro, médico e professor titular da Faculdade de Saúde Pública da USP, ao alimentar-se fora de casa o brasileiro está mais propenso a comer produtos de baixo valor nutritivo, como fast foods e lanches. A POF mostra, por exemplo, que os brasileiros diminuíram pela metade os gastos com arroz e feijão. Os dois alimentos foram trocados por produtos industrializados, cujo consumo cresceu na última década:

"Os dados do IBGE mostram a causa desse aumento da obesidade: as pessoas trocaram a alimentação tradicional por alimentos ultra processados", ressaltou Monteiro.





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