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Saúde
Segunda - 25 de Novembro de 2019 às 09:34
Por: Cíntia Borges e Lislaine dos Anjos/Mídia News

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Victor Ostetti/MidiaNews
O urologista Geraldo Bumlai:
O urologista Geraldo Bumlai: "Aumentaram os casos de câncer de próstata"

O câncer de próstata é a segunda doença que mais mata homens acima de 40 anos de idade no mundo, segundo o urologista Geraldo Bumlai, que atua na área em Cuiabá há 46 anos.

Por isso, ele destaca a importância de se ter um mês inteiro dedicado à conscientização sobre a importância do exame preventivo para diagnóstico e tratamento da doença, também conhecido como o Novembro Azul.

Segundo o especialista, é necessário que os homens com idade acima de 40 anos façam o exame retal periodicamente para que haja o diagnóstico precoce da doença.

No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 68 mil homens foram diagnosticados com câncer de próstata apenas em 2018.

Em entrevista ao MidiaNews, o urologista falou sobre os sintomas da doença - que é silenciosa em seu estágio inicial -, destacou a importância da descoberta precoce para a garantia de cura e defendeu a necessidade de desmistificação do toque retal – considerado o principal exame para o diagnóstico.

Para o médico, a resistência de alguns homens em se submeter ao exame ocorre por falta de conhecimento.

“O toque retal, na realidade, é um exame que você faz que leva alguns segundos. Não é um exame que demora e muda a vida completamente”, defendeu o médico.

O toque retal, na realidade, é um exame que você faz que leva alguns segundos. Não é um exame que demora e muda a vida completamente

À reportagem, o médico - que é membro da Sociedade Brasileira de Urologia e da Associação Americana de Urologia e atende no Complexo Hospitalar de Cuiabá - ainda falou sobre a incidência do câncer em homens negros, os mitos sobre o tratamento e os métodos para a cura da doença.

Confira a íntegra da entrevista:

MidiaNews - O senhor acredita que a dedicação de um mês do ano para conscientizar os homens sobre o câncer de próstata dá resultado? Qual a importância do “Novembro Azul”?

Geraldo Bumlai – O Novembro Azul consolida o trabalho que a gente faz o ano todo. E esse mês seria o “apogeu” dessa insistência para que os homens façam exame de próstata, porque a incidência do câncer aumentou muito. O câncer de próstata só perde para o câncer de pele, quando falamos de homens acima de 40 anos.

MidiaNews - Por que o exame é indicado apenas a partir dos 40 anos?

Geraldo Bumlai – Porque a incidência é muito pequena antes dos 40.

MidiaNews – Aumentaram os casos de câncer?

Geraldo Bumlai – Sim. Aumentou porque você começa a fazer diagnósticos de forma precoce. Hoje os homens fazem exame de câncer de próstata a partir de 40 anos. No passado, você só teria contato com o indivíduo com câncer se ele tivesse retenção urinária ou então fosse fazer uma investigação porque emagreceu muito. Mas aí a doença já não era mais "glândula confinada", ou seja, ela já estava começando a atingir outras regiões. Nessa situação, a radioterapia não adiantava mais, porque já era reta final, e só restava tratamento com bloqueio.

No começo da minha vida médica, a gente só operava um indivíduo com câncer de próstata quando ele era idoso e fazia retenção urinária, para ele não ficar dependente de sonda. Nós fazíamos prostotectomia aberta ou por endoscopia. O diagnóstico era dado no pós-operatório, com a análise do que você fazia. Quando dava câncer, você tinha um medicamentos: Ronvan, e pronto. Não podia se fazer mais nada.

Depois que houve evolução e chegamos a esse patamar que temos hoje. Vieram as cirurgias para cura do câncer de próstata localizado, em que você consegue tirar o indivíduo do sofrimento desde que o diagnóstico fosse feito em glândula confinada – restrita unicamente à próstata.

Radioterapia que foi melhorando também. Hoje, por meio de computador, ela irradia só a próstata, minimizando os efeitos intestinais e vesicais [relativo a bexiga].

MidiaNews - Hoje, então, os homens estão procurando mais os urologistas para cuidar da saúde?

Geraldo Bumlai - Eles procuram mais os médicos, sim. No início, era um transtorno. Você falava em fazer o exame de toque retal era uma coisa assim [de outro mundo] e muitos homens deixavam de fazer os exames. Os homem foram se conscientizando à medida que o câncer de próstata começou a ser tratado. Hoje, ainsa existe resistência, mas eles acabam fazendo. Tem que vencer a primeira vez. Aí acaba o tabu. O toque retal, na realidade, é um exame que você faz que leva alguns segundos, não é um exame que demora.

MidiaNews – São alguns segundos que podem mudar a vida do paciente?

Geraldo Bumlai – Muda a vida completamente. Porque no início do câncer de próstata não há sintoma nenhum. Você só faz o diagnóstico se fizer os exames, como o toque retal, a dosagem dos marcadores tumorais, que é o PSA (sigla para Prostate-Specific Antigens, em português, antígenos específicos da próstata).

Hoje, vivem no Brasil 12 milhões de homens acima de 50 anos e, destes, 2 milhões deverão desenvolver câncer de próstata. Desse grupo, a cada 18 homens, três irão morrer pela doença

MidiaNews – E com qual periodicidade os exames devem ser feitos?

Geraldo Bumlai – Uma vez ao ano, desde que o paciente esteja com o PSA e o exame de toque na normalidade. Tem que fazer, porque depois de um ano pode mudar muita coisa. Se tiver alguma alteração, é preciso encurtar o tempo.

MidiaNews – Além do toque retal e do PSA, há outros exames que são feitos?

Geraldo Bumlai – Os exames devem ser feitos a partir de 45 anos. Todos os homens devem fazer o exame de prevenção de câncer de próstata, que é o exame de toque retal e o PSA. E fazemos ainda o ultrassom transretal. Em muitos lugares existem pessoas bastante habilitadas que fazem o ultrassom transretal e que mostram, de uma maneira bem segura, o ultrassom da próstata. Eles conseguem fazer uma análise bem perfeita.

MidiaNews – Atualmente a medicina pode traçar um perfil dos homens que tem mais chances de desenvolverem câncer de próstata?

Geraldo Bumlai – Hoje, vivem no Brasil 12 milhões de homens acima de 50 anos e, destes, 2 milhões deverão desenvolver câncer de próstata. Desse grupo, a cada 18 homens, três irão morrer pela doença.

Isso significa que as medidas preventivas adotadas ao longo do tempo para investigação do câncer de próstata, principalmente na fase inicial, quando não há sintomas, são bastante eficazes. Porque alguns tipos de cânceres são bastante indolentes - se desenvolvem lentamente e ficam estacionados anos sem progredir.

Com relação ao perfil, por exemplo, o oriental tem 70% menos chances de ter câncer de próstata do que o homem ocidental. Porém, se você pegar o homem oriental e colocar ele no ocidente, onde ele passa a ter outro hábitos de vida, essas chances se igualam. Isso sugere que há uma relação do meio ambiente com os costumes adotados por esse indivíduo.

Tentaram uma época relacionar os índices da doença com o consumo de carne vermelha, mas nada foi comprovado. Hoje, já nem se fala mais nisso.

MidiaNews - É verdade que os índices do câncer de próstata nos homens negros são maiores?

Geraldo Bumlai - Na raça negra a incidência é o dobro. E na raça negra, o câncer costuma ceifar mais vidas. Há ainda, outros fatores determinantes, como parentes – pai ou irmão – que tiveram câncer de próstata até os 55 anos. Nesse caso, você tem de duas a cinco vezes mais chance de desenvolver o câncer do que um individuo sem esse histórico. A obesidade e a vasectomia não têm relação com o câncer de próstata. Porém, se o indivíduo obeso tiver câncer de próstata, nele a doença se desenvolve de maneira mais agressiva.

MidiaNews – Como é o tratamento oferecido para um paciente diagnosticado com a doença?

Geraldo Bumlai – Hoje nós temos a cirurgia robótica, que é a mesma coisa de fazer a cirurgia aberta. Só que ao invés de ter cortes, você faz por robôs – como na videolaparoscopia. Então, a internação hospitalar é em um tempo menor e a recuperação é mais rápida. Mas é muito cara.

Hoje, se você quiser fazer essa cirurgia você tem que sair de Cuiabá, porque nós não temos o robô aqui. Mas os outros tratamentos nós temos aqui.

MidiaNews – Doutor, as piadas em torno do exame nunca se esgotam. Como lidar com isso?

Geraldo Bumlai – Não se esgotam, mas cada vez é menor, viu? Esse ano, por exemplo, eu recebi uma piada só. Os homens atualmente fazem comentários, piadas, mas fazem o exame. Antes nem chegavam no consultório. E se fossem até o consultório e descobrissem que teriam que fazer o exame de próstata, muitos iam embora e não faziam.

MidiaNews – Qual é o tabu em torno do exame?

Geraldo Bumlai – O constrangimento em se fazer o exame ocorre, muitas vezes, por não saber como ele funciona. Depois que se faz a primeira vez, que vê que não há mistério nenhum e é apenas um exame, aí acaba o problema.

No toque retal, não há como examinar a próstata inteira. Quando você faz o exame por via transretal e você vê uma parte da próstata que é a zona periférica. E a incidência do câncer nessa área é maior do que nas outras. E isso você tem acesso com a polpa digital.

MidiaNews – Em 46 anos de medicina, como é lidar com pacientes mais resistentes ao exame? A família ajuda nesta conscientização?

Geraldo Bumlai – Ajuda. Eu tenho por norma no meu consultório que se eu fizer um diagnóstico de câncer de próstata eu mando chamar a família: a mulher, os filhos e todas as pessoas envolvidas diretamente com paciente. Eu não converso nada com ele sobre a doença se não tiver ninguém junto. Os familiares ajudam na conscientização sobre o tratamento. É um momento delicado na vida de um homem: você vai falar que ele tem um câncer.

Aqueles pacientes que são um pouco mais resistentes ou relaxados, que vão em um ano, ficam sem ir dois ou três anos, depois voltam e passam mais dois [anos] sem vir, eu peço que ele faça o exame junto com a mulher. Eu pergunto para ele: quando a sua mulher faz exame de prevenção ginecológica? Então, eu coloco ele no mesmo mês que a mulher dele faz.

Os homens atualmente fazem comentários, piadas, mas fazem o exame. Antes nem chegavam no consultório

Porque a mulher é mais rigorosa com relação à saúde dela. A maioria das mulheres fazem exame de prevenção periodicamente, e eu coloco o marido junto, porque ela carrega ele.

MidiaNews – O senhor afirmou que no início a doença não apresenta sintomas, mas quando eles começam a aparecer, quais são? Com o que os homens devem ficar atentos?

Geraldo Bumlai - Os pacientes começam a apresentar sintomas sempre quando a doença já está fora da próstata. Dor, emagrecimento, sangramento, esperma com sangue. Isso tudo é quando a doença está mais avançada.

A chance que o indivíduo tem hoje é fazer o diagnóstico da doença em glândula confinada, ou seja, restrita unicamente a próstata. Porque aí ele tem chance de cura e pode, inclusive, optar pelo tratamento que desejar, como a cirurgia ou a radioterapia. Nessa circunstância, o resultado do tratamento é praticamente igual.

O resultado dos tratamentos são diferentes quando se tem um tumor mais agressivo. Aí a cirurgia passa a ter melhor resultado. Porque se você faz a cirurgia, e por acaso tem a doença localmente diagnosticada, você pode fazer a radioterapia como complemento, e se tem um sucesso muito grande.

Agora, se você faz só a radioterapia para doença mais agressiva, a pelve é congelada e não é possível fazer mais a cirurgia. Então, ele perde uma etapa. Nessa situação, os resultados são melhores com a cirurgia.

MidiaNews – E como são os sintomas já na fase terminal? O paciente sofre muito?

Geraldo Bumlai – É uma doença que judia bastante do indivíduo. Ele sente dor, dor, dor. A próstata está localizada em um local muito próxima aos rins, então de cara ela já obstrui dos dois rins. E os tratamentos que dependem de um funcionamento normal do rim já são excluídos.

É uma doença que judia bastante do indivíduo. Ele sente dor, dor, dor.

Vai para o osso, dói. Tem paciente que sofre uma barbaridade. A doença vai consumindo, vai deteriorando o paciente.

MidiaNews – E há possibilidade de evitar o aparecimento do câncer quando se é jovem?

Geraldo Bumlai – Não há o que se fazer. Só quem tem histórico na família que é importante ser rigoroso no preventivo. Porque não há sintomas. Se você tem o histórico na família, o risco é alto.

MidiaNews – Existe algum tipo de exame que pode dispensar o exame retal?

Geraldo Bumlai – Tem um estudo que está sendo desenvolvido na Alemanha, e em 2017 vazou um pré-resultado dessa pesquisa. Foi uma avalanche de gente para lá e eles tiveram que fechar para o público. Então, não dão mais informações até que os trabalhos sejam concluídos. Hoje, nós não sabemos. De repente, pode estar vindo alguma tecnologia que pode nos deixar os homem em uma situação muito melhor.





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