Sinop
Eucalipto cresce mais em sistemas ILPF comparado ao plantio em monocultura
A inserção de árvores nos sistemas integrados de produção agropecuária, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), ainda encontra resistência por parte de alguns produtores. Cada vez mais, entretanto, dados de pesquisas mostram que, se bem manejado, o componente arbóreo gera ganhos produtivos e econômicos.
Pesquisa realizada na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT), em uma área de ILPF com Eucalyptus urograndis plantado em linhas triplas e renques distantes 30 metros, mostrou que nos cinco anos iniciais, as árvores no sistema integrado cresceram 18% a mais do que árvores plantadas em monocultura. As árvores da ILPF ganharam em média 3,8 cm/ano, enquanto aquelas em silvicultura solteira ganharam 3,2 cm/ano.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Hélio Tonini, a diferença evidencia a maior competição por luz na monocultura. Embora o crescimento fosse distinto, não havia se verificado variação significativa no volume de madeira entre os indivíduos comparados.
O manejo das árvores, com a retirada das linhas laterais e manutenção da linha central, entretanto, mudou esse quadro. Em dois anos, o ganho em volume da área de ILPF com linha simples chegou a ser 54% maior do que na área com monocultura e 25% maior do que na área com renques de linhas triplas.
"Antes do desbaste havia um efeito de competição muito grande. As linhas das bordas acabam suprimindo o crescimento da linha central. A média de crescimento do renque era alta, mas, se pegássemos somente a linha central, pensando em serraria, ela estava perdendo em crescimento. Quando fizemos o desbaste, convertendo de linhas triplas para simples, ele retomou o crescimento e isso possibilitou o ganho", explica o pesquisador da Embrapa Maurel Behling.
As árvores suprimidas no decorrer do experimento foram utilizadas para produção de postes, outdoors e também como lenha. Em uma situação de fazenda, isso representa renda para o produtor antes mesmo do corte final da madeira.
Esse manejo das árvores suprimindo as linhas laterais do renque triplo também resultou em maior ganho para o sistema. Nos tratamentos em que havia lavoura, a soja chegou a ter perda de produtividade de 24% no quinto ano, quando comparada a uma lavoura solteira. Após o desbaste, porém, recuperou a produtividade, igualando à lavoura sem árvores. A pecuária também se beneficiou da maior entrada de luz para as pastagens, preservando a sombra para os animais. No sistema com árvore, o ganho de peso de novilhos nelore por hectare em um ano foi de 40 arrobas, cerca de 30% maior do que em um sistema sem árvores.
Behling explica que a decisão sobre o manejo das árvores deve ser tomada de acordo com a estratégia definida e com o propósito do uso da madeira.
"Se o objetivo é usar como biomassa, quanto menos intervenções, melhor, já que há um custo elevado de mão de obra para as podas e desramas. Agora, se o objetivo é ter madeira de qualidade para serraria, os manejos são necessários. Para isso, o valor agregado da madeira tem que compensar as despesas do produtor", pondera.
"F" ALÉM DO EUCALIPTO - De acordo com dados da Associação Rede ILPF, dos 11,5 milhões de hectares com sistemas ILPF no Brasil na safra 2015/2016, somente 17% eram em configuração com árvores. O eucalipto ocupa a maior parte dessa área. Porém, não é a única espécie.
Pesquisas desenvolvidas pela Embrapa em seus campos experimentais e em áreas comerciais, as chamadas Unidades de Referência Tecnológica (URT), testam e validam o uso de outras espécies. Os resultados têm servido para comprovar a viabilidade de algumas delas, para gerar dúvidas sobre outras e também para descartar algumas.
Em Mato Grosso, uma espécie que tem se sobressaído é a teca. Com alto valor agregado, a árvore tem um cenário econômico favorável e boas características silviculturais.
"Assim como o eucalipto, a teca já tem seu manejo consolidado. Além disso, ela se adapta bem às condições climáticas e tem alto valor agregado, chegando a R$ 1.500/m³", explica Behling.
O bom rendimento financeiro, entretanto, vem à custa de uma longa espera até a teca atingir ponto de corte. Em monocultivos, os primeiros cortes ocorrem com 20 a 25 anos. Na ILPF, no entanto, a tendência é de haver redução na espera em até cinco anos. Isso ocorre devido à menor competição por luz entre as árvores. A expectativa em algumas URTs de ILPF é de se fazer o corte aos 18 anos.
Uma desvantagem da teca é a perda de folhas no período seco em algumas regiões, reduzindo o conforto térmico para o gado.
"A desfolha varia de acordo com as características de solo e clima de cada local. Mas se o objetivo do produtor é ter conforto térmico para o gado, uma opção é fazer um consórcio, usando a teca com outras espécies", argumenta o pesquisador da Embrapa.
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