Alunos de high school avaliam experiência a “nascer de novo” Mesmo tendo que antecipar a volta ao Brasil, por causa do coronavírus, jovens mato-grossenses descrevem intercâmbio como inesquecível
Lucas Fernandes de Oliveira, 17 anos, aluno do 3º ano da Escola Liceu Cuiabano, conta que estar em uma cultura diferente e aprender uma nova língua durante o programa de high school é como nascer de novo. Por isso, ficou muito impactado quando recebeu a notícia que teria de voltar antes do previsto ao Brasil.
Por causa da pandemia do coronavírus, a organização responsável pelo intercâmbio nos Estados Unidos, pediu que todos os alunos internacionais retornassem imediatamente aos seus países. Cerca de 20 horas depois, ainda em março, Lucas já estava embarcando no voo de volta.
“Ainda faltava um mês e meio para terminar o semestre. Nem eu, nem a ‘host family’, estávamos preparados para a despedida, até o meu pai de lá chorou, porque criamos um vínculo muito forte. Ao chegar ao Brasil, o primeiro impacto foi climático, porque saí de uma temperatura de - 4º Celsius para 36º C”, descreve o jovem.
Lucas conta que a barreira mais difícil de vencer foi a linguística, pois possuía na época nível intermediário, mas recebeu apoio de colegas, amigos, professores e de toda a comunidade, o que tornou a experiência mais leve. “Fui muito bem tratado, como alguém da comunidade, todos me perguntavam o tempo como podiam me ajudar”.
A estrutura da escola pública é apaixonante. Segundo ele, oferece laboratórios, dezenas de tipos de aula, além do convencional, biblioteca, piscinas, quadras de esportes e uma academia completa para prática de exercícios. Ele costumava chegar às 7h30 e sair após as 18h. “Gostava da comida da escola, geralmente era costelinha, frango, hambúrguer e muitas opções salada e frutas”.
Apaixonado por esportes, Lucas treinou basquete nos primeiros 4 meses, época da temporada, depois “soccer” ou futebol brasileiro. Entre as aulas extras, optou por liderança, ciência da computação, culinária e “ganho de massa corporal”, algo que ele não sabe descrever, mas afirma que não há nada igual no Brasil.
“Essa sem dúvida foi a melhor experiência da minha vida, aprendi muitas coisas novas, fiz amigos, convivi com uma cultura totalmente diferente e me tornei parte dela, também passei a ter mais responsabilidade para lidar com meus problemas sozinho e a ter gratidão por tudo, principalmente a dar valor às pequenas coisas”.
Conforme a diretora da Experimento Intercâmbio Cuiabá, Magali Oliveira, mesmo com a pandemia, todos os estudantes e suas famílias foram devidamente assistidos e o retorno aconteceu apenas como medida de precaução. Mas não houve perdas do ano letivo que está sendo concluído online. Ao todo, 2 mil estudantes voltaram de vários países, sendo 700 vindo dos EUA, em meados de março.
Todas as participantes do programa Au Pair, que são estudantes maiores de idade, por sua vez, preferiram permanecer nos Estados Unidos, e estão fazendo a quarentena lá. Isso inclusive ajuda as famílias na nova rotina em casa com as crianças. “Para o início do novo ano letivo, os programas estão todos mantidos e os alunos devem viajar no início de setembro”.
Menos “mimada” e mais colaborativa
Aos 17 anos, Júlia Rodrigues Hasegawa, de Sinop, diz que voltou muito melhor do intercâmbio a Tampa, na Flórida. Ela também é uma das estudantes de high school de Mato Grosso que precisou antecipar o retorno por causa do covid-19. “Inicialmente, nós decidimos que eu ficaria, mas, como não sabíamos como seria nos meses seguintes, e se os aeroportos estariam funcionando, preferimos não arriscar”.
Ela narra a rotina em Steinbrenne High Scholl, onde cursou o 3º ano do ensino médio, como enriquecedora. A experiência lhe ensinou, por exemplo, que é preciso arriscar mais. Ao invés de escolher disciplinas convencionais (parecidas com a grade brasileira), se pudesse voltar atrás, teria feito coisas novas, como astronomia, ciência do corpo humano, culinária, história da 2ª Guerra Mundial, etc.
“A estrutura era fantástica, não dava para acreditar que era uma escola pública onde aprendíamos fazendo experimentos, aulas práticas. Além disso, o colégio era tão grande que levei algumas semanas para me adaptar e não me perder. O maior desafio foi justamente enfrentar essa rotina onde havia pessoas do mundo inteiro”.
Julia acordava cedo e pegava o ônibus para chegar à escola, que ficava a 15 minutos de onde morava. Costumava fazer o trajeto junto de outras estudantes da Alemanha e da Suécia. Chegava à escola, guardava o material nos armários (como a gente vê nos filmes) e aguardava a aula começar na cafeteria.
“Foi importante morar fora da casa dos meus pais, porque sempre fui mimada e não ajudava muito, mas a nova família, apesar de carinhosa e prestativa, não limpava meu quarto, nem dobrava ou lavava minhas roupas, tive que aprender a me virar sozinha, usar a máquina de lavar, acredito que voltei melhor e mais madura da viagem”.
Os pais dela, Cristiane e Rudiar, ficaram satisfeitos com o resultado, confirmam que a estudante retornou mais independente, autoconfiante e com mais autonomia para fazer as próprias escolhas. “Sempre vimos o intercâmbio como um investimento de carreira, para ter fluência em uma segunda língua. Mas também era o sonho de toda a família”.
Antes de tomar a decisão, o casal pesquisou, ouviu relatos, para poder optar por uma empresa que oferecesse suporte à filha e aos pais. “Com a tecnologia, é mais fácil driblar a saudade. No começo, fazíamos vídeo chamadas diárias, depois, passamos a deixar a Julia nos procurar, até porque ela precisava entrar no ritmo da nova vida e construir novas relações, nós tivemos que dar espaço”.
Aulas de como instalar tomada!
Hecttor Andrade Monteiro, 15 anos, aluno do 1° ano do ensino médio, de Cuiabá, fez high school na cidade de Belding, interior do estado de Michigan, em uma escola com 400 alunos. Costumava sair de casa às 7h, com o “host dad”, que levava os irmãos para as respectivas escolas. Só retornava após as 15h.
“Uma das aulas curiosas era de Basic Home Maintenance (BHM), onde basicamente os alunos aprendiam a arrumar uma casa. O professor ensinava a instalar dry-walls, pintar, instalar tomadas e passar fiação, entre outras coisas. Ele era um dos melhores, paciente e explicava tudo bem devagar”.
Uma coisa que estranhou: a alimentação. Hecttor explica que após a terceira aula vinha o almoço, que geralmente era um hambúrguer com suco, que ele pegava na cafeteria para comer com os amigos. “Eles normalmente não ligam muito e comem algum lanche, nada muito especial”. E esse foi o principal desafio, sair de uma rotina onde se alimentava bem no café da manhã, almoço, lanche da tarde e no jantar.
Mesmo tão jovem, ele precisou aprender a gerenciar o próprio dinheiro, cuidar e ajudar os irmãos da ‘host family’, sendo que no Brasil ele é filho único. “Tive que fazer e lidar com muita coisa que eu não teria se estivesse na minha casa, e isso me fez abrir a mente e crescer como pessoa”.
Super independência
Júlia De Paula Silva, 16, estudou na escola que é referência nos Estados Unidos, Cats Academy Boston, na cidade de Braintree, no estado de Massachusetts. Viajou no início de setembro e também retornou em março, em razão da pandemia.
“Eu estava fazendo um curso de inglês em Vancouver (meu spring break) quando o primeiro-ministro anunciou que iriam fechar a fronteira do Canadá para entrada de estrangeiros, os voos começaram a ser cancelados e eu tinha só mais alguns dias, pois estavam todos em quarentena. Como o curso de inglês cancelou as aulas presenciais e a Cats também, até o término do semestre, achamos melhor voltar direto para o Brasil”.
Julia morava em dormitório dentro do campus da escola, todas as refeições eram feitas na escola (boarding student). A escola tem diversos clubes, biblioteca, atividades físicas extras e para descontrair da rotina estressante. Embora seja particular, as públicas também oferecem várias matérias que não existem no Brasil.
“Escolhi, por exemplo, aula de introdução ao direito e literatura de justiça social como minhas eletivas. Temos 4 matérias obrigatórias e outras como desenho, escultura, pintura, produção teatral, teatro, produção de filme, macroeconomia, aulas especializadas para treino do TOEFL e SAT (para entrar em faculdade nos EUA), etc.
Morar longe da família e em dormitório foi algo que fez a jovem crescer, ser responsável por absolutamente tudo incluindo lavar roupa, comida, organização, limpeza, o próprio dinheiro. “Passei a ver as coisas de maneira diferente, me adaptei ao jeito deles, à alimentação e a como as coisas funcionam lá, inclusive quero voltar para me formar nos Estados Unidos”.
As partes mais difíceis foram o frio, a alimentação e viver em dormitório. “Eu sou uma pessoa que zela muito pela privacidade, por mais que eu tivesse meu quarto, as paredes eram muito finas e eu conseguia ouvir absolutamente tudo. Algo inesquecível foi ver a neve, mas era difícil acordar cedo para ir para a aula com -18°C”.
Serviço
A Experimento Intercâmbio em Cuiabá fica no Shopping 3 Américas - piso térreo, em Cuiabá, com horário de atendimento de segunda a sábado, das 10h às 21h. Durante o período de pandemia, você pode obter informações via e-mail e telefone: (65) 99645-3329, cuiaba@experimento.com.br.
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