Alimentação fora do lar
Empresas se reinventam para atravessar crise Restaurantes e padaria criam alternativas para continuar produzindo delícias e alimentando pessoas em casa
O isolamento social imposto para conter o avanço da contaminação do novo coronavírus afetou drasticamente o segmento de alimentação fora do lar, um dos segmentos atendidos pelo Sebrae em Mato Grosso. Em Cuiabá, donos de restaurantes estão tendo que se reinventar para minimizar os efeitos da crise econômica.
Marlete Giroldo, proprietária do Natural Club, passou a apostar mais no ramo de congelados, segundo ela, o “filho menor” da empresa calcada em três pilares de fontes de receita - o restaurante self service por quilo, a linha congelados e o delivery, que existe desde o nascimento da empresa. “Quando perdemos o pilar do restaurante, do salão, que era a maior receita, tivemos que nos esforçar para que esse dinheiro entrasse pelos dois outros caminhos”. Diz que a queda no faturamento foi de aproximadamente 65% da receita e reduzir esse percentual é a meta.
Ela criou outras receitas e aumentou o número de pratos do cardápio de congelados, para evitar que os clientes enjoassem com a repetição. O resultado foi um crescimento nas vendas. Segundo ela, a clientela que frequentava o restaurante passou a pedir por delivery e consumir os congelados.
Para aumentar as vendas e a receita da empresa, ela revela que o comercial busca incansavelmente ampliar o número de clientes. “Como nós fizemos algumas promoções de combos de congelados, nosso comercial ligou para o grupo de clientes inativos e conseguiu resgatar alguns que estavam ausentes há mais de seis meses”, revela.
Por conta da crise, colocaram em prática uma ideia antiga, a rotisserie do Natural Club. A primeira experiência, batizada com o nome “Que seu dia seja massa”, consiste em produzir dois sabores de lasanha – queijo com brócolis e bolonhesa – e fazer as vendas através de mídias sociais. A intenção é ampliar o cardápio da rotisserie. Outro produto criado é o pão sem glúten, vendido sob encomenda.
Marlete conta que há um ano e quatro meses, quando abriram a loja do bairro Quilombo, chamada Natural Club Express, o objetivo era operar em delivery e take away. “A gente numa imaginava essa pandemia, mas esse formato coube direitinho nesse momento que estamos vivendo”, constata.
Pesquisa realizada pelo Sebrae Nacional, feita em abril, mostra que empresas do ramo de alimentos e bebidas, entre outros, conseguiram equilibrar o fluxo de caixa. Dentre os 14 segmentos analisados na sondagem - restaurantes, lanchonetes, marmitarias e afins - são exemplos de como a adaptação e a inovação podem render resultados positivos. No segmento de alimentos e bebidas, por exemplo, 92% dos que aumentaram o faturamento adaptaram o negócio ao modelo de entrega (delivery).
Esta foi opção de Francyne Rabaioli, chef de cozinha e sócia do restaurante Canto, especializado em alta gastronomia. “Sempre fui muito resistente ao delivery, não passava nem perto da minha cabeça fazer, pois acho que não tenho uma comida de ‘transporte’, minha comida é para ser ‘experienciada’ no local. Mas, hoje o delivery tem sido nossa única forma de chegar até as pessoas com a nossa comida que alimenta a alma. Mudei o cardápio, fiz adaptações e cortes dos pratos que sabia que não chegariam legais na casa das pessoas. Tivemos que renascer neste momento de dificuldade”.
Ela conta que até conquistaram novos clientes com esta modalidade de serviço. “Temos algumas pessoas novas pedindo. Nosso movimento do almoço tá bem legal. Mas, nosso jantar caiu 90%, o que tem sido bem difícil”, constata, mas sem perder a esperança. “Pensamos já ter atravessado mais da metade do caminho e não vemos a hora de voltar a receber as pessoas em nosso restaurante”, revela.
Selma Zarur, do Rock Burguer, aposta num produto que se encaixa perfeitamente nesse momento de maior convívio em família. Trata-se do Kit Hamburgada, composto por 04 pães, 04 Burger, queijos, maionese e cebola caramelizada. “Começamos com esse produto em janeiro, mas as vendas eram bem tímidas. Agora, com o distanciamento social, percebemos a importância de fortalecer a venda e deu super certo. As pessoas ficaram em casa e o kit Hamburgada facilita esse convívio. É uma boa oportunidade de reunir a família na cozinha ou em torno da churrasqueira para prepararem juntos seus hambúrgueres”.
A empresária conta que aumentou a equipe de entrega, visto que conquistaram novos clientes nesse momento, embora muita gente ainda prefira fazer a retirada no local. “Percebemos que os clientes estão muito carentes de sair de casa, quando chegam para buscar o pedido, ficam felizes escutar um bom rock and roll”, pontua.
Padaria
Como as demais, a padaria artesanal Bakehouse 44 está aberta, porém com as restrições impostas para evitar a proliferação do novo coronavírus. Por esse motivo, o proprietário Marcelo Oliveira resolveu incrementar ainda mais a cesta de café da manhã, antes feita em datas especiais, como Dia das mães, dos pais, namorados. “A gente já trabalhava com ela, mas não com tanto afinco, porque nós sempre nos dedicamos muito ao atendimento de mesas na padaria, que era bem movimentada”.
Segundo ele, o foco maior nas cestas de café da manhã se deu em razão de uma demanda dos próprios clientes. “Por conta do distanciamento social, do fato das pessoas não estarem se vendo com tanta frequência, ficou muito comum presentear os entes queridos com uma cesta de café da manhã”.
Em razão da pandemia da Covid-19, todo o cardápio da padaria pode ser levado por delivery, inclusive pão, o que não era feito antes. “Foi um grande sucesso, graças a Deus”, festeja Marcelo.
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