Vestígios históricos raros carecem de proteção em SP
Cada vez menos visíveis em meio à expansão da cidade, raros vestígios históricos e geológicos na região metropolitana de São Paulo perecem à espera de projetos de conservação. Entre os locais ameaçados pela urbanização e o descarte de lixo estão um sítio arqueológico de 600 milhões de anos em Pirapora do Bom Jesus e antigas cavas no Jaraguá que ajudam a contar a história da mineração do ouro no País durante o século 16.
Localizada a 40 quilômetros da capital, Pirapora do Bom Jesus abriga um singular afloramento (exposição de rocha na superfície) chamado de lavas almofadadas. O nome vem do formato arredondado que resíduos de lava ganham após entrarem em contato com o oceano, o que evidencia atividade vulcânica do Período Mesoproterozoico, há mais de 600 milhões de anos.
Identificada por acaso por um professor da USP há três décadas, a formação fica em área urbana e virou ponto de visitação de alunos do curso de Geologia, que tiram fotos e analisam a estrutura. Em março deste ano foi colocada uma placa que identifica o ponto como praça geológica e traz dados científicos sobre a formação rochosa.
Entre os moradores, porém, não há a mesma empolgação. Além de lixo atirado sob a parede rochosa, um vizinho usa parte do terreno para depositar areia e brita. Ildo Paulino da Cunha, que tem uma loja em frente ao local e há 62 anos vive na região, diz que a fenda é só piçarra (terra misturada com pedra) sem importância. "A gente vê muita gente chegando em ônibus para conhecer. Para eles, deve ter algum valor", afirma o comerciante.
Segundo o geólogo e historiador Virginio Mantesso Neto, membro do Conselho de Monumentos Geológicos do Estado de São Paulo, estima-se que no País tenham sido classificados pouco mais de 200 geossítios como esse. Na Inglaterra, compara, há a identificação de 3 mil. "O patrimônio geológico é insubstituível e tem valor inegável. Em Lisboa, por exemplo, há afloramentos cobertos e protegidos por vidros", diz.
Cavas históricas
Às margens da Rodovia Anhanguera, resquícios da atividade mineradora de ouro em São Paulo ainda podem ser observados em quatro grandes cavas exploradas até por volta do ano 1650. Sem demarcação, no entanto, estão gradativamente encobertas por vegetação e pela construção de novas casas.
Com duas das cavas localizadas em área particular, os geólogos esperam que outras duas sejam preservadas por dois projetos em andamento. A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente promete publicar nos próximos dias um decreto que declara como de utilidade pública um dos pontos, no meio do bairro Morro Doce. O próximo passo, segundo a secretaria, é desapropriar partes do terreno para a construção de um parque municipal.
A outra cava, no Jardim Britânia, foi parcialmente aplainada para a construção de uma escola na parte de trás. A subprefeitura de Perus promete transformá-la em praça pública, mas no momento o local tem acumulado lixo.
Para evitar o desaparecimento desses pontos, a construção de parques e praças é a maior aposta dos geólogos. "Temos o desafio de torná-los atraentes, pois ninguém vai vir de longe apenas para conhecer um sítio como esse", diz Mantesso Neto. "Sabemos que parques apenas arqueológicos não sobrevivem, mas eles podem atrair interesse caso hajam locais para passeios e trilhas, por exemplo."
Segundo ele, há bons exemplos, como o parque natural criado na Cratera de Colônia, uma área de 2 quilômetros de raio ao sul de São Paulo originada há cerca de 20 milhões de anos após a queda de um meteoro. Para buscar soluções, o assunto deverá ser um dos temas de debate durante o Congresso Brasileiro de Geologia, que será realizado em setembro, em Santos. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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