Esquemas e Cia
Vereador revela esquema de "rachadinha" e denuncia prefeito ao Gaeco Oswaldo Alvarez de Campos Júnior disse que recebeu vídeos em que secretários dizem devolver dinheiro ao prefeito de Araputanga
No município de Araputanga (345 km de Cuiabá), quatro vídeos foram deixados de forma anônima no escritório do vereador Oswaldo Alvarez de Campos Júnior (PSB) e mostram o prefeito Joel Marins de Carvalho (PSB) e dois secretários municipais falando sobre a existência de um esquema de rachadinha, na qual alguns integrantes do staff devolveriam parte dos salários ao gestor. Diante das imagens e da gravidade do assunto, o parlamentar e outros dois vereadores resolveram procurar o Ministério Público Estadual (MPE) e ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) para entregar as gravações e pedir investigação.
Em entrevista ao FOLHAMAX, Oswaldo Alvarez, que também é advogado, relatou que nas imagens aparecem os secretários Édio Cesário dos Santos (de Esportes) e Luís Carlos Henrique (Finanças) confirmando que devolvem ao prefeito parte dos valores que recebem. "O Édio Cesário fala que levou R$ 1.440 por mês. Numa conversa dele com o secretário de Finanças, Luís Carlos Henrique, que está até afastado por ordem judicial da comarca de Araputanga por desvio de dinheiro, licitações fraudulentas, foi alvo da Polícia Federal na quarta-feira passada, ele fala que no ano passado teria devolvido já mais de R$ 14 mil e esse ano já acima de R$ 6 mil", detalha o vereador.
Na conversa entre os secretários, segundo o vereador que já assistiu todos os vídeos, Luiz Carlos fala que todos os integrantes do staff praticam a rachadinha e fazem parte do esquema, mas Édio contesta argumentando que não são todos. "Do salário ele acredita que o Luiz não devolve, que devolve em compras e outros acertos, ele fala dessa forma".
Em outro vídeo, o prefeito Joel Marins e o secretário Édio Cesário falam sobre o esquema. Na conversa o prefeito fala que a Secretaria de Assistência Social, comandada por Valeria Neves Henrique, e a Agricultura também são do mesmo modo. "Num trecho do vídeo o prefeito fala que é a Valéria da Assistência social, que faz da mesma forma, mas não fala em valores. Na Agricultura é do mesmo modo", comenta o parlamentar sobre o teor da gravação. Atualmente, a Pasta da Agricultura está sem secretário titular, sendo comandada pelo gerente Willie Douglas Martes Ferreira.
Um terceiro vídeo mostra o secretário Édio Cesário conversando com o vereador Luiz Gonçalves de Seixas Filho (PSB), que é líder do prefeito na Câmara. No diálogo, o parlamentar relata que precisa devolver ao prefeito parte do salário e pontua que o vereador tem conhecimento da rachadinha. Por sua vez, Luiz Seixa diz que já alertou que a prática ilegal pode trazer problemas ao vereador e ao prefeito. "Ele diz que acha tudo muito errado e que não vai dar certo", descreve Oswaldo Alvarez.
Sobre a conversa do colega de parlamento e de partido com o secretário sobre o esquema, o vereador Oswaldo emite opinião. "Dá pra entender que ele sabe e compactua. Acha que está errado, mas se quiser manter, pra ele tanto faz. Ele não faz nada porque é o líder do prefeito desde a posse", argumenta, quando questionado sobre os motivos de o correligionário nunca ter denunciado a prática ilegal.
Dos quatro vídeos, segundo o vereador Oswaldo Alvarez, dois mostram diálogos entre o prefeito e o secretário Édio Cesário. Ainda nessa semana, o vereador junto com os colegas de parlamento, Diego Soares da Silva, conhecido como Diego da Rádio (PSDB) e Gilmar Ferreira Soares, o Dileca das Botas (PDT), pretendem buscar o Ministério Público e entregar as gravações.
"Acredito que esses vídeos foram encaminhados pra nós por sermos críticos à gestão e em virtude dessas operações que estão tendo em Araputanga, tanto da Justiça Estadual como da Polícia Federal. Acredito que a pessoa criou coragem e repassou esses vídeos para frente", relata o vereador explicando que nas gravações não constam a data em que as imagens foram registradas. O pendrive com os vídeos foi deixado embaixo da porta do escritório de advocacia do vereador.
BENS BLOQUEADOS
Em abril deste ano, a Justiça acolheu pedido do Ministério Público numa ação por improbidade e determinou o bloqueio de R$ 1,7 milhão do prefeito Joel Marins por suspeita de fraude no contrato de uma empresa de publicidade. Também foi determinado o afastamento do secretário de Administração, Luis Carlos Henrique, que é dono da empresa L7 Produções e Filmagens, contratada em janeiro para prestar serviços de assessoria de comunicação ao prefeito. Nas contas do secretário foi determinado bloqueio de R$ R$ 715,6 mil.
PAD CONTRA SECRETÁRIO
No dia 5 de maio deste ano, o prefeito Joel Marins publicou uma portaria instaurando um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para investigar o secretário de Finanças, Luís Carlos Henrique. Ele tomou como base fatos narrados e provas acostadas nos autos do precedimento investigatório de 2018 e um Inquérito Civil de 2019, ambos instaurados pelo Ministério Público Estadual. A previsão era de conclusão do PAD dentro de 60 dias, admitindo-se a prorrogação por igual período, desde que justificadamente.
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