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Terça - 08 de Dezembro de 2020 às 11:11
Por: Allan Pereira/RD News

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Rodinei Crescêncio
Padre Felisberto Samoel da Cruz, da Cúria Metropolitana, explica que a Imaculada Conceição é uma das representações de Maria, mãe de Jesus Cristo
Padre Felisberto Samoel da Cruz, da Cúria Metropolitana, explica que a Imaculada Conceição é uma das representações de Maria, mãe de Jesus Cristo

Entre as mil faces da Virgem Maria, Cuiabá comemora apenas uma no seu calendário oficial, o dia da Nossa Senhora da Imaculada Conceição, celebrado hoje (8). O dogma católico é tradição forte da cuiabania, mas poucos conhecem sua história e de como chegou aqui, confundindo ela até como padroeira da cidade – o que para alguns é, o que para outros não é. Apesar do desagrado de setores da sociedade, a data é considerada feriado municipal.

Segundo o padre Felisberto Samoel da Cruz, da Cúria Metropolitana, a Imaculada Conceição é uma das representações de Maria, mãe de Jesus Cristo. “Ela é apresentada de forma diferente para cada região e para cada necessidade”, diz. Por exemplo, Nossa Senhora Aparecida que concede graças e milagres, Nossa Senhora de Guadalupe, que apareceu em socorro para índios perseguidos e mortos no México ou Nossa Senhora do Livramento que livra os fiéis do mal.

Rodinei Crescêncio

Nossa senhora imaculada da concei��o

Imagem da Igreja Bom Despacho

Mas, no dia 8 de dezembro em específico, é comemorado o dogma de que Maria nasceu sem o pecado original. “Para ser a mãe do Salvador, ela teria que ser pura, sem manchas, sem maldade, perfeita em todos os sentidos de ser. Então, a Igreja prega – e eu acredito nisso – que, como ela não teve que dormir com um homem para gerar Jesus, ela tornou-se imaculada”, pontua o padre Felisberto.

A data já era celebrada e festejada pelos católicos nos fins do primeiro milênio da Era Cristã. Em 1477, a festa da Imaculada Conceição foi inserida no calendário litúrgico pela Igreja Católica. Mas só foi em 1854, no auge da Revolução Industrial, que o Vaticano reconheceu oficialmente que Maria nasceu sem o pecado original, oficializando o dia 8 de dezembro em seu nome e decretando que é um dia de guarda, ou seja, os católicos são obrigados a ir à missa nesse dia.

O padre ressalta que a figura católica não se trata de uma santa. "Não podemos confundir Nossa Senhora como Santa fulana de tal”, enfatiza. Em Cuiabá, ela se tornou feriado em abril de 1968. Mas, em dezembro de 2004, ela foi transformada em ponto facultativo pelo então prefeito Roberto França. A comunidade católica ficou revoltada com a situação e, apenas em agosto de 2012, conseguiu devolver o status de feriado ao dia 8 de dezembro por um projeto de lei proposto pelo vereador falecido Totó Cesar (PTB).

A chegada do culto em Cuiabá

A forte tradição cuiabana a celebração da Imaculada Conceição chegou pelos padres europeus. Desde a fundação de Portugal, ela é celebrada pelos católicos e tornou-se padroeira do país no século XVI. Quando invadiu o Brasil, o navegante Pedro Álvares Cabral também trazia uma imagem da Nossa Senhora da Conceição.

Em Cuiabá, a celebração ao dia da Nossa Senhora Imaculada Conceição se tornou tradição praticamente desde sua fundação, principalmente entre a elite. Segundo o livro Patrimônio Cultural Religioso, da historiadora Simone Ribeiro Nolasco, a imagem da Imaculada era incidente na casas dos cuiabanos na época da colônia. "[Ela] era a padroeira do Reino e suas colônias, o que fez com que sua festa se oficializasse também em todo o Império, tornando-se o culto mais difundido nas fundações primitivas na América portuguesa", escreve.

Uma das imagens históricas da Imaculada Conceição está na Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho (outra faceta da Virgem Maria). Em 1954, a imagem foi colocada em substituição de um velho cruzeiro que havia no local. A homenagem foi da Arquidiocese de Cuiabá para celebrar o centenário do dogma da Imaculada Conceição, em 1954, durante o arcebispado de Dom Aquino Correia.

O primeiro local de formação para padres de Mato Grosso também leva o nome da imaculada – o Seminário da Conceição. Localizado ao lado da Igreja Bom Despacho e fundado no final do século XIX, o local se tornou um internato para estudos de meninos (na época, as meninas eram proibidas de acesso a educação formal). "Não foi simplesmente para formar padres", diz o padre Felisberto.

No entanto, o Seminário, como escola, teve vida curta. Apenas 30 anos. Como centro de formação de padres, a história foi mais longa, durando até 1964, até ser transferido para Seminário Cristo Rei, em Várzea Grande. Em 1977, a Fundação Cultural de Mato Grosso tombou o Seminário da Conceição como monumento histórico estadual e instalou nele o Museu da Arte Sacra, que funciona até os dias de hoje.

Polêmica da padroeira

Apesar dos anos recentes a Nossa Senhora da Imaculada Conceição receber a alcunha de padroeira de Cuiabá, ela não é reconhecida como tal pela Arquidiocese de Cuiabá. "Ela não é, não existe isso", enfatiza o padre Felisberto. O verdadeiro padroeiro é o Bom Jesus de Cuiabá, figura que representa o próprio Jesus Cristo.

"Onde Jesus Cristo é o padroeiro, ela [Imaculada Conceição] não aparece. Eu vejo assim, de uma coisa muito interessante hoje em Cuiabá, que os católicos de Cuiabá celebram Jesus, mas eles têm muito mais devoção a São Benedito. É minha análise contextual da realidade do nosso povo cristão. A partir do momento que derrubaram a Catedral antiga, o povo começou a ir para São Benedito e super valorizou a devoção a São Benedito", analisa.

Para o padre, os pedidos e graças são muitas vezes pedidas a São Benedito e demais Santos do que ao próprio Jesus. A imagem do Bom Jesus de Cuiabá também ficou esquecida e Felisberto fala que é complicado fazer com que os cuiabanos voltem a cultuar o verdadeiro padroeiro. No vídeo a seguir, ele explica mais sobre a origem e imagem do padroeiro Bom Jesus de Cuiabá.





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