Técnicos em necropsia tem trabalho fundamental para resolução de crimes Servidores fazem parte da carreira da Politec e atuam em conjunto com os peritos oficiais
- Foto por: Sarah Mendes/ Politec-MT
Quando acontece um crime com vítima fatal por morte violenta, acidental, ou com suspeita criminosa, é necessária a presença dos técnicos em necropsia da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), para em conjunto com os peritos oficiais, e demais agentes de Segurança Pública, darem início ao processo de investigação criminal.
Este profissional fornece as informações relativas às características do local onde foram encontrados os restos cadavéricos e das condições dos cadáveres e dos restos mortais encontrados, para a perícia médico-legal.
Entretanto, a remoção das vítimas do local de crime - função mais conhecida pela população em geral, é apenas uma dentre as atribuições destes profissionais. O trabalho técnico especializado destes é indispensável para a realização da necropsia, que é o exame realizado no cadáver, para se verificar a causa e como ocorreu a morte.
São estes profissionais que, inclusive, realizam as incisões para abertura das cavidades e exposição dos órgãos a serem examinados pelo perito médico legista. A recomposição decorosa também é realizada pelo técnico.
Após o término da necropsia, os técnicos são responsáveis pelos atendimentos aos familiares das vítimas, recebimento das documentações, preenchimento da Declaração de Óbito e liberação do cadáver à família.
Segundo define o técnico em necropsia e Coordenador de Perícias em Mortos do IML de Cuiabá, Valter Ferrari de Castro, a atribuição exige conhecimentos voltados à assistência técnica apurada na área de anatomia humana e tanatopraxia, bem como um perfil de assistencialismo social para lidar com diversidades de comportamento social.
“O técnico de necropsia em Mato Grosso é o servidor do estado que está na linha de frente no atendimento a essas famílias que sofrem a perda de um familiar devido morte violenta”, completou.
Cabe também a eles, o trabalho de acolhimento às vítimas nos atendimentos de violência contra mulher e violência sexual, responsável também pelas coletas de materiais biológicos para exames de DNA, alcoolemia, toxicologia e anatomopatologia.
O técnico de necropsia trabalha em conjunto com os Peritos Oficiais Médicos Legistas em organizações como o IML (Instituto Médico Legal), hospitais e laboratórios. O estado de Mato Grosso possui atualmente 61 profissionais efetivos, lotados nas principais regionais da Politec na capital e interior.
Além dessas atribuições, os técnicos desenvolvem atividades de gestão em muitas localidades como em setores da Diretoria Metropolitana de Medicina Legal, na capital e em vários setores de gerências em regionais do interior.
O ingresso ao cargo é realizado essencialmente através de concurso público. O último certame realizado para o cargo foi em 2017, para a formação de cadastro de reserva. Um dos requisitos exigidos ao cargo é a graduação em nível superior em qualquer área de formação.
Há 25 anos no IML, Valter Ferrari de Castro relembra que os momentos que mais o marcaram na profissão é ver a gratidão no olhar de cada pessoa atendida, apesar da tristeza que envolve a dor dos familiares pela perda trágica dos seus entes queridos.
“Durante meus tempos de trabalho aprendi como profissional e procurei me reciclar a cada dia para melhor desempenhar minhas funções técnicas dentro da instituição. Mas paralelo a isso uma grande luta enfrentei, uma imensa batalha, foi aprender lidar com situações inesperadas, momentos de dor emocional e muitas vezes sentir-se impotente diante situações jamais previstas. O que mais me marcou profissionalmente é que muitas vidas são ceifadas pela imprudência no trânsito, o cidadão precisa ter consciência disso. Os crimes contra a vida já não devem ter justificativas, mas as motivações que alimentam cada dia mais a violência com óbitos é assustador. Vivemos tempos difíceis”, relata o servidor.
Valter relembra casos marcantes vivenciados em sua careira que jamais esquecerá. Em uma delas, uma menina de 8 ou 9 anos morreu após ser picada por uma cobra no interior do estado enquanto estava indo com sua irmã menor para casa da avó. Como já era tarde do dia e o escuro tomou conta, a irmãzinha sem reação ficou ali ao lado do corpo da irmã até no outro dia, até aparecer alguém em busca delas.
“E outro fato foi ver uma mãe me dizer que se lembrava de mim muito bem, e quando indaguei de onde, a mesma me reportou que eu a atendi nesse IML de Cuiabá nas duas vezes em que ela perdeu seus filhos para a droga. Fatos que fazem você refletir sobre o homem, a vida, a família, o amor, a oportunidade, Deus e a morte”, citou.
Em 2020, os técnicos auxiliaram na realização de 2.954 necropsias em Mato Grosso.
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