Sem vagas em UTIs públicas, recém-nascida com necrose facial corre risco de morte; SES realiza orçamento na rede privada

Com apenas 24 dias de nascida, uma bebê, identificada apenas como M. V. M. R., tem protagonizado uma batalha contra o tempo devido ao seu estado de saúde. Com um quadro grave de celulite, abscesso e necrose no rosto e em outras partes do pescoço, ela precisa passar por cirurgia de urgência em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI). Liminar expedida pela Justiça no sábado (13), após manifestação da Defensoria Pública de Mato Grosso, obriga o Estado e o município de Nova Canaã do Norte (717 km de Cuiabá) a evitarem o risco iminente de morte da criança, mas a Central de Regulação do Estado diz que no momento não há vagas de UTI Neonatal que conte com equipe de cirurgiões pediátricos. A Secretária de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES-MT), por sua vez, diz que neste momento realiza o orçamento do procedimento cirúrgico da recém nascida na rede privada.

Internada desde quarta-feira (10) no Hospital Regional de Alta Floresta (791 km de Cuiabá), de acordo com Vinícius Hernandez, defensor público que atua na comarca do município, o quadro da recém-nascida se agrava a cada minuto, pois o organismo dela não responde mais aos medicamentos usados pela equipe do Hospital Regional, para evitar o avanço da doença.

Desde o final da tarde de sábado (13), ele relata que Viviane Isernhagen, juíza plantonista da Primeira Vara de Fazenda Pública de Várzea Grande (região metropolitana de Cuiabá), concedeu liminar diante da urgência e iminente risco de morte da bebê, cujo caso foi classificado pelos médicos como de prioridade máxima (vermelho), com necessidade de atendimento imediato.

Diante do quadro, a Juíza determinou a imediata transferência da recém-nascida para uma vaga de UTI Neonatal do Sistema Único de Saúde (SUS) de um hospital público ou privado que tenha convênio com o SUS. No entanto, até o momento, as buscas por essa vaga não tiveram sucesso.

"A situação da família se torna ainda mais grave e desesperadora quando analisamos a precariedade do sistema de saúde de Mato Grosso, que não tem leitos suficientes de UTI Neonatal. Onde esses leitos existem, encontramos o problema de falta de estrutura adequada e de profissionais. Com a pandemia, a gravidade da situação ficou pior, pois o que era ruim, se tornou insustentável", declara o defensor que tem mantido contato frequente com a Central de Regulação.

Uma vaga de UTI Neonatal chegou a ser localizada no município de Tangará da Serra (244 km de Cuiabá), porém, Hernandez explica que o hospital não conta com equipe de cirurgiões pediátricos e que, desde ontem, ele não consegue retorno dos hospitais privados no envio de orçamentos, para que possa pleitear a vaga numa unidade particular.

Enquanto corre contra o tempo e não encontra vagas, o pai de M., Luiz Carlos Ruiz Júnior, de 25 anos, relata a rotina difícil da criança, que tem tomado muitos remédios fortes, e pede ajuda para quem puder ajudar a família a salvar a menina.

"Desde ontem ela não está se alimentando, ela está muito mal. Os médicos dizem que ela precisa urgente tirar a parte necrosada da pele para que a bactéria que provocou isso, pare de avançar. Os exames dela estão todos alterados e estamos desesperados, quero muito salvar a vida da minha filha, mas não acham essa vaga. Eu apelo e peço, por favor, nos ajudem".

O que diz o Estado

A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) diz que a demanda, apresentada pela liminar expedida pela Justiça após manifestação da Defensoria Pública de Mato Grosso, já foi encaminhada a Central de Regulação do Estado e que neste momento realiza o orçamento da cirurgia da recém nascida na rede privada.

"A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) informa que está cotando o procedimento cirúrgico da paciente M.V.M.R. na rede privada. O órgão estadual envia esforços para atender a paciente da forma mais breve possível", disse a Secretaria em nota enviada à reportagem.