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Sábado - 01 de Maio de 2021 às 07:33
Por: Allan Pereira/RD News

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Stockphoto/Getty Images

Trabalhar de casa, o famoso home office, era para poucos trabalhadores. Mas aí chegou a pandemia de coronavírus chegou e mudou tudo. Por conta das medidas de biossegurança, empresas tiveram que colocar seus empregados para atuar em domicílio, viram que deram certo e planejam mantê-lo depois no pós-pandemia. Especialistas e pesquisadores garantem que essa tendência pode não ter mais volta.

A reportagem do ouviu dois trabalhadores, que foram para o home office, e que tiveram experiências diferentes com trabalhar de casa.

O analista de TI Arthur Messi, de 31 anos, será um dos que ficará trabalhando de casa depois do fim da pandemia. “Meu patrão me liberou para que eu migrasse definitivamente para o home office. Eu não precisava estar mais preso em Cuiabá. Hoje, eu continuo prestando o serviço para eles da mesma forma, do mesmo jeito, sem nenhuma alteração, mas eu posso estar em qualquer lugar do país”.

Arquivo Pessoal

 Analista de TI - Arthur Messi

Analista de TI Arthur Messi: home office depois da pandemia

Ele conta que, antes mesmo da pandemia, já era certo que passaria a trabalhar de casa em tempo integral. “A pandemia só acelerou essa mudança”, constata. A empresa pela qual o analista trabalha moveu sua parte administrativa e infraestrutura de servidores para São Paulo, e os funcionários já não precisava mais ficar cuidando dos equipamentos.

O home office também permitiu também que o analista morasse junto com a namorada, cujo relacionamento dura há quatro anos. Por três anos e meio, ele precisou fazer muitas viagens da Capital a Sinop para vê-la por uns dias e tendo que voltar a trabalho. O casal não tinha previsão de morarem juntos em uma cidade. “Quem conseguisse mudar primeiro, mudaria”, conta.

A situação parecia ficar assim até que chegou a pandemia de coronavírus, o profissional foi para casa de forma definitiva e ele pode morar enfim com a namorada. Ela trabalha como bancária em uma agência de Sinop e não conseguia uma transferência tão fácil para a Capital. “Hoje, estou livre se ela mudar para outro lugar, eu consigo acompanhar”, disse.

Já a professora Kátia Hartmann, de 34 anos, descreve que foi um momento de bastante apreensão quando começou o home office. Como ela fala, sua rotina antes da pandemia "era uma loucura!". "Dou aulas todas as manhãs, duas tardes e todas as noites", conta. Cada turno é em uma unidade de ensino diferente. "Então eu saia de casa muito cedo, 6h15 da manhã, chegava sempre a partir de 22h30 e ia dormir para começar tudo de novo no dia seguinte".

Era a primeira vez que ela dava aula on-line, de casa, para os alunos – até mesmo as três instituições de ensino não estavam acostumadas com o novo método. A orientação na primeira semana do sistema foi mandar atividades para os alunos e devolverem aos professores. Já na semana seguinte, com diretrizes e orientação do corpo pedagógico, Kátia passou a gravar aulas para os estudantes em duas instituições de ensino, e a terceira de forma ao vivo.

Para ela, trabalhar de casa foi "ligeiramente tranquilo". "Sou uma pessoa jovem, posso me considerar antenada. Já tinha notebook, que funcionava bem microfone e áudio. Mas acompanhei muitos colegas com dificuldade de se adaptar ao processo por que não tinha os equipamentos e o conhecimento”.

Experiência com o home office

Arquivo Pessoal

Professora K�tia Hartmann

Professora Kátia Hartmann apesar de jovem e ter se adaptado diz que home é desgastante

Na avaliação de Arthur, trabalhar de casa tem sido muito positivo. "Fico mais feliz hoje trabalhando de casa do que presencialmente. Foi até bem-vindo. Me sinto mais a vontade, consigo me focar mais no que tenho fazer. Querendo ou não, fico tranquilo". O analista conta que tem conseguido manter a disciplina e atender as demandas.

Já a professora relata uma experiência contrária. "É muito desgastante", diz. Com o trabalho de casa, ela sente que a carga aumentou absurdamente. "Por que a preparação teve que ser muito maior”.

Ela explica que se costuma fazer debate, questionamentos, resoluções de exercícios e leituras em uma aula presencial. "Isso se provou ineficiente na aula on-line. A gente tem que estar muito mais o tempo todo focada no conteúdo em si. Toda a aula é falada e acaba cansando muito".

Kátia detalha também que acaba passando o dia inteiro na frente do computador, chegando ao final do dia de jornada com cansaço na vista e no corpo, exatamente por estar sentado em frente ao equipamento.

Tempo livre no home office

Uma das análises e críticas de especialistas à atividade remota é que ele não define o limite entre o horário de trabalho e o da vida pessoal. Arthur conta que esses dois aspectos da vida tendem a atravessar, mas que tem conseguido conciliar. A empresa definiu o horário de entrada e saída continuam os mesmos que o trabalho presencial. Ele e os demais colegas de trabalho compartilham uma sala virtual e ficam a disposição um d'outros para auxiliar. Quem está nesse ambiente, é como se não tivesse em expediente.

Já a professora Kátia diz que, nas suas tardes livres do trabalho, está sempre ocupado com ideias e preparações para as aulas. "O tempo livre está frequentemente ocupado por atividades de preparação de aula, correção de atividades e organização dos equipamentos tecnológicos", diz. Esse tempo é conciliado com afazeres domésticos, como limpar casa, resolver burocracias, ir ao supermercado.

Outro ponto discutido pelos especialistas é de quem assume os gastos, como energia, telefone e internet, durante o home office. Arthur conta também que a empresa está ajudando a pagar essas despesas com o auxílio locomoção, que seria usado para compra de passagem ou combustível. Já a professora conta que não está tendo essa ajuda e que as despesas aumentaram por ter passado mais o dia inteiro em casa.

Espaço para negociar

Arquivo

Juiz do Trabalho Andr� Molina

Juiz do trabalho André Molina diz que nova forma de trabalho abre possibidade de negociar

O juiz trabalhista e presidente da Associação dos Magistrados do Trabalho (Amatra), André Araújo Molina, destaca que a Consolidação das Leis do Trabalho, a famosa CLT, define de forma geral as responsabilidades do empregador para manter o funcionário trabalhando de casa. "A lei regulamenta essas situações e garante que ambas as partes possam negociar isso. Ela não é tão detalhada, mas dá os parâmetros gerais para as partes negociar", aponta.

Cita que, caso o empregador abusa do empregado e o chame para atender demandas do trabalho a todo o momento do dia, é cabível ação na Justiça do Trabalho. Há grandes possibilidades do patrão ser condenado a pagar uma indenização ao trabalho por conta dessa falta. Pagamento de horas extras também é outra situação comum.

No caso das atividades que não é possível manter o home office, o juiz lembra que a empresa deve cumprir normas de biossegurança contra o coronavírus, como máscara, álcool-gel, orientações de higiene e distanciamento social.

O futuro do home office

O analista Arthur e o juiz André acreditam que o home office veio para ficar. “Essa é uma percepção que já vínhamos sentido aos poucos. E a pandemia nos obrigou a tomar essas medidas e, com isso, acabou acelerando uma série de inovações que viria de toda forma. Superada a pandemia, nem todo mundo volta mais para o trabalho presencial”, avalia o magistrado.

Já a professora Kátia vê que essa situação não deve se aplicar aos educadores. “Se me perguntasse isso ano passado, eu talvez teria uma resposta diferente. Eu imaginava que estaria muito mais presente que hoje. Hoje, eu acredito que não. Estamos em abril, já em 2021, e nós já tivemos o retorno às aulas híbridas. Já não tenho mais home office. Estou percebendo que, até as reuniões que preferencialmente se faziam virtuais, já estão vindo para o presencial”, constata. Por isso, ela crê que, no máximo até dois anos, não vai ter mais home-office.





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