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Domingo - 02 de Maio de 2021 às 09:58
Por: Liz Brunetto/Mídia News

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João Félix Dias, ginecologista e obstetra
João Félix Dias, ginecologista e obstetra

A economia, as relações e as rotinas, de uma forma geral, foram afetadas pela pandemia. Mulheres que planejam engravidar nos próximos meses, por exemplo, encontram um cenário de incertezas.

Diante do aumento de casos de Covid-19 e lotação das UTIs (Unidade de Terapia Intensiva), o Ministério da Saúde recomendou às mulheres adiarem seus planos de gravidez.

O ginecologista e obstetra João Félix Dias aprova a recomendação. Para ele, o ideal neste momento é adiar a tão desejada gravidez. "Acho que a mulher que está planejando uma gestação, se ela tem condições de aguardar este momento passar, seria mais seguro para ela e para o seu bebê", diz.

Confira a entrevista na íntegra:

MidiaNews - Recentemente o Ministério da Saúde recomendou que mulheres adiem a gravidez durante a pandemia. O senhor concorda com a recomendação?

João Félix Dias - Eu vejo que é uma orientação de bom senso. Acho que a mulher que está planejando uma gestação, se ela tem condições de aguardar este momento passar, seria mais seguro para ela e para o seu bebê.

Nesse momento estamos vivendo um alto índice de ocupação de leitos e de UTIs, pacientes que precisam de suporte podem ter dificuldade de encontrá-lo. Se você está planejando interromper o anticoncepcional, uma inseminação, uma gravidez, então, deixe passar esse momento mais crítico pelo menos.

Segundo o médico, a grávida é mais vulnerável e pode ter mais riscos de contrair uma forma mais grave da doença.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Eu vejo que é uma orientação de bom senso, acho que a mulher que está planejando uma gestação, se ela tem condições de aguardar este momento passar, seria mais seguro para ela e para o seu bebê

MidiaNews - Assim como hipertensão e diabetes, a gravidez é um fator de risco para a Covid?

João Félix Dias - A gestação provoca mudanças fisiológicas importantes no corpo da mulher. Algumas colocam ela em risco para eventos mais graves. Portanto, pode fazer a infecção pela Covid mais grave, principalmente se associado com algumas doenças, como obesidade, hipertensão, diabetes, entre outras.

Mesmo uma gestante completamente normal, pelas alterações fisiológicas que a gravidez provoca, apresenta alteração do sistema imune. Se considera que a grávida é "imunossuprimida", então ela tem um risco maior. Há também mudanças fisiológicas do sistema respiratório, que acontecem naturalmente em qualquer grávida, principalmente no último trimestre. Isso a coloca em uma situação mais vulnerável.

MidiaNews - Neste momento de pandemia qual a recomendação que o senhor dá para mulheres que estão grávidas?

João Félix Dias - As recomendações gerais continuam valendo. É importante que ela observe o distanciamento social, evitar se expor desnecessariamente, evitar aglomerações, mesmo que dentro da família. O cuidado com a higiene das mãos, o uso de máscarase álcool em gel tamém são muito importantes.

Manter uma alimentação saudável, repouso adequado, tudo isso vai fazer com que esse organismo fique na sua melhor condição de defesa de reação.

É fundamental que aquela mulher que já está grávida não abandone o pré-natal. Tem que continuar fazendo o monitoramento da sua gestação. A falta de cuidados pode ser um fator agravante para as mulheres grávidas que contraírem Covid.

MidiaNews - E qual a recomendação para aquelas que desejam engravidar?

João Félix Dias - A avaliação pré-concepcional é importante. Nela você pode fazer uma investigação mais aprofundada rastreando todas as funções vitais do corpo humano. Assim será possível avaliar se ela está no seu melhor momento para tentar uma gestação.

É fundamental que aquela mulher que já está grávida não abandone o pré natal, tem que continuar fazendo o monitoramento da sua gestação

Isso vale para aquela paciente que tem cardiopatia, nefropatia, hipertensão, diabetes ou qualquer outra doença sistêmica. É importante que ela faça a avaliação com o seu médico, para saber se ela está autorizada a seguir para uma gestação.

O ideal é que pacientes que tenham uma doença crônica sejam autorizadas a contrair a gestação. O médico a liberará na melhor condição e não deixará que ela engravide em um momento ruim, na qual a doença não está controlada.

A paciente também deve fazer as suas vacinas prévias, da rubéola, antitétano, febre amarela. Ela deve deixar tudo em dia. Isso é o recomendado para uma mulher que está procurando assistência pré-concepcional.

MidiaNews - O senhor defende incluir mulheres grávidas no grupo prioritário de vacinação?

João Félix Dias - A grávida não está doente, mas ela está em um estado fisiológico diferenciado. Nessa diferenciação fisiológica, ela está mais suscetível a infecções mais graves, por isso eu acho que pode ter benefícios sim. Para aquelas grávidas que são do grupo de risco, seria mais importante ainda essa proteção.

A Coronavac, por exemplo, é uma vacina com o vírus morto, não tem possibilidade de transmissão da doença. Então ela tem um efeito mais seguro. Já existem outras vacinas que são de partículas virais e de vírus atenuados. A própria vacina da Influenza é utilizada rotineiramente em todas as gestantes anualmente. Devido a essa correlação se pode, por analogia, pressupor que essa vacina vai trazer mais benefícios do que malefícios.

Isso faz parte da prevenção que deve ser passada para a grávida, e é claro, se ela optar por não ser vacinada, ela deve ser apoiada. Ninguém vai obrigar a grávida a fazer o que ela não quer fazer. Não se pode matar o estado de direito de livre arbítrio, a pessoa tem condições de dimensionar o seu risco e aí decidir o que fazer.

Mas se você tiver oportunidade de se vacinar, não deixe de discutir com seu médico.

MidiaNews - A pandemia afugentou muitos pacientes dos consultórios por medo da contaminação. O pré-natal também foi prejudicado nesta pandemia?

João Félix Dias - Isso realmente repercutiu, houve uma diminuição da frequência aos ambulatórios e consultórios. Às vezes as pacientes espaçavam mais o tempo entre as consultas, perdendo fases importantes do acompanhamento, como o exame morfológico e a realização do rastreamento do diabetes gestacional.

Isso não é recomendável. A grávida deve procurar manter o seu seguimento. E, é claro, prestar atenção nas clínicas e hospitais para que o atendiemento seja feito nos horários de menor aglomeração. O atendimento deve ser mais restrito e com os devidos cuidados, principalmente em um ambiente mais suscetível ao contato com alguém que está contaminado com a doença.

MidiaNews - O que pode acontecer com a mãe e o bebê em razão desse não acompanhamento do pré-natal?

João Félix Dias - Sem assistência, a paciente pode se descobrir doente em um estado já grave. A falta de pré-natal está associada com as patologias e intercorrências maternas e fetais que seriam o trabalho de parto prematuro, a restrição de crescimento do feto e infecções congênitas.

Aquela grávida que estava fazendo o acompanhamento, que diagnosticou em tempo uma doença, que fez os exames, fez as medicações nos tempos adequados, essa com certeza terá mais sucesso.

Por exemplo, a hipertensão na gestação pode ocasionar preeclampsia, eclampsia e síndrome hellp, que são complicações gravíssimas. Isso só será de conhecimento da pessoa se ela estiver em acompanhamento. O médico vai ter condições de fazer o diagnóstico e de agir preventivamente.

MidiaNews - Existe comprovação de que a gravidez se torne um agravante para a gestante caso ela contraia o vírus e manifeste a doença? Se sim, que efeitos seriam esses?

João Félix Dias - A repercussão da infecção pelo Covid na gestação está associada, pelo que há de relatos até o momento, com o abortamento de primeiro trimestre (início da gestação), restrição de crescimento intrauterino (comprometimento do crescimento fetal), e também associação com maior risco de trabalho de parto prematuro.

Outras repercussões que poderiam acontecer na gestação de paciente com Covid é a infecção grave da doença.

A contaminação pode acarretar na internação em UTI, comprometimento das funções vitais, da coagulação sanguínea, falência múltipla de órgãos e o óbito, tanto materno quanto fetal. Isso, é claro, no extremo da situação.

MidiaNews - Suas pacientes têm demonstrado medo por estarem grávidas nesse período? O medo poderia causar sintomas de ordem psicológica, não sendo necessariamente sintomas da doença viral?

João Félix Dias - A gente tem percebido isso mais acentuadamente naquelas pacientes que positivam para o teste de Covid. Mesmo estando assintomáticas, o estado de estresse e de preocupação vai no limite.

A mente engana, ela é poderosa. Nesse estado de estresse e de tensão, ela vai tender a valorizar qualquer sintoma que aparecer. Então uma dor na lombar, que é comum em grávidas, uma dor de cabeça, uma febre, uma infecção qualquer, para essa pessoa que está nesse nível de tensão, passa a ser um sintoma confundido com a Covid.

Isso gera toda uma reação e uma dificuldade de manejo que se você não tiver o apoio laboratorial e uma avaliação médica, vai persistir e levar a um comprometimento emocional maior.





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