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Cidades/Geral
Segunda - 30 de Agosto de 2021 às 06:17
Por: Alecy Alves/Diário de Cuiabá

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Tirar os filhos da escola de ensino regular e passar a ensiná-los em casa, sendo seus próprios os professores.

Utilizar ou não livros e outros recursos das escolas regulares, porém com metodologias menos convencionais e de maneira contínua.

O nome disso é homeschooling ou, na tradução livre, ensino domiciliar.

Mesmo sendo considerado crime no Brasil, de abandono intelectual, segundo o Código Penal, esse modelo de ensino ganhou novos contornos com o advento da pandemia da Covid-19.

Este ano, a empresária Aline Barcelos não matriculou as filhas Theodora, de 8 anos, e Maria de Fátima, de 5, em escola oficial.

Aline decidiu que seria a professora das duas. Ensinando todas as disciplinas, desde o português até educação física.

A empresária conta que além das dificuldades enfrentadas pelas filhas na lida com a tecnologia, o ensino remoto não atendia às expectativas de aprendizagem.

Depois de diversas tentativas em fazer as crianças se interessarem pelo conteúdo e de permanecer por horas com elas na frente do computador, chegou à conclusão que não estava dando certo.

Aline conta que até o final do ano passado manteve as duas matriculadas. Cumpria as regras da escola, porém reforçava o ensino acompanhando-as. Chegava a assistir às aulas e depois passar o conteúdo e acompanhar as tarefas individualmente.

Também aplicava testes para avaliar o conhecimento adquirido a partir dos conteúdos transmitidos pelos professores, mas não gostava dos resultados.

Desde março deste ano, Aline Barcellos tem sido a única professora das filhas.

Ela diz que a caçula, Maria de Fátima, é portadora de Transtorno do Déficit de Atenção (TDH), distúrbio diagnosticado em 2018.

Até o final do ano passado, a menina sequer conseguia assistir às aulas remotamente. Agora já sabe ler e escrever.

Já a filha Theodora, de 8 anos, surpreende nos cálculos, na escrita, na leitura e até explicando os conteúdos que aprendeu.

Em vídeos postados pela mãe, Theodora aparece ensinando substantivos, adjetivos e verbos.

Aline diz que mantém a regra do ensino diário com as duas filhas, porém, com tempo variado.

Entretanto, tudo que faz junto com as filhas torna-se uma aula. Usando a receita de um bolo, por exemplo, ensina sobre peso, medidas, química, ciências e outros conteúdos.

Os testes avaliativos também foram mantidos. No entanto, agora tem a função de identificar e corrigir as dificuldades, e não como definição de nota.

Ao perceber que as filhas gostavam de artes, Aline começou a ensiná-las mostrando as obras e a vida de pintores, entre os quais Pablo Picasso e Tarsila do Amaral.

Quando pediu para "Fatinha" fazer uma releitura do quadro da Monalisa, a interpretação da filha, além de criativa, foi engraçada.

A menina desenhou a personagem dormindo. No entendimento dela, como explicou à mãe, Monalisa estava cansada de sorrir.

Aline Barcellos diz que não está renegando o ensino formal e que continua considerando fundamental o papel da escola. Também não está aviltando os professores.

Tanto que o filho Theo, de 15 anos, que este ano ingressou no ensino médio, continua matriculado e estudando remotamente.

Já no caso das filhas, percebeu que o resultado esperado não estava sendo alcançado. Conforme ela, essa mesma preocupação e queixas similares percebeu entre outros pais quando esteve na escola, no início deste ano.

Autônoma, sem marido e principal mantenedora da família, Aline diz que a responsabilidade que assumiu, mais um além de mãe, não tem sido fácil. Todavia, a executa com disposição, prazer e alegria.

Para conseguir trabalhar, fazer atividades domésticas e ser professora das filhas, Aline acorda às 5hs todos os dias.

Não tem folga nem aos domingos, pois é neste dia que faz o planejamento da semana seguinte. Ou seja, define o conteúdo e prepara as aulas.

Ela ainda não sabe como fará para que o que está ensinando seja reconhecido no sistema formal de ensino. É que no Brasil, tirar o filho da escola para ensinar em casa é considerado crime.

Mas, se preciso for, diz, buscará esse reconhecimento em outra região. Ela pesquisou e descobriu que o homeschooling é aceito em Santa Catarina.

Em Mato Grosso, a Secretaria Estadual de Educação, procurada pela reportagem do Diário, enviou nota dizendo que: "A compreensão do Supremo Tribunal Federal (STF) é que o homeschooling não tem legitimidade no Brasil".

Também lembrou que há um projeto na Câmara dos Deputados tramitando para retirar a educação domiciliar da lista de crimes de abandono intelectual, como está previsto no Código Penal.

Finalizou dizendo que a Seduc está acompanhando toda movimentação e discussão sobre o tema e aguarda uma lei que regulamente a prática.





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