Depois de investigar por conta própria a morte do filho e de um amigo, baleados por policiais na Zona Oeste de São Paulo em 1º de julho, Daniel de Oliveira conseguiu que a Justiça decretasse a prisão temporária de cinco policiais por suspeita de duplo homicídio. Já no dia das mortes, Oliveira seguiu para o local do crime com um sobrinho e registrou fotos que o ajudariam a iniciar as investigações.
“Busquei provas, mostrei para o DHPP e fui provando aos poucos a história verdadeira”, disse o pai, em entrevista ao SPTV. "Ele [o filho] morreu com 20 anos, mas ele foi homem, foi herói. Ele não era bandido. Nunca foi e nem vai ser."
César Dias de Oliveira, filho de Daniel, levou cinco tiros. O amigo Ricardo Tavares da Silva foi atingido por três disparos. Os dois tinham 20 anos. Eles foram baleados por policiais na madrugada de 1º de julho, na Avenida Pablo Casals, na Vila Dalva, Zona Oeste.
Segundo consta no Boletim de Ocorrência, cinco policiais militares envolvidos na ocorrência afirmam que estavam em patrulhamento de rotina quando perceberam uma motocicleta com dois indivíduos em atitude suspeita. Os jovens não teriam obedecido a uma ordem de parada e fugiram. Ainda segundo os policiais, o jovem na garupa atirou e o que dirigia a moto perdeu o controle e caiu. Mesmo depois da queda, os jovens teriam continuado atirando, foram baleados e levados para um hospital.
A versão, no entanto, é contrariada por testemunhas encontradas por Daniel. Em conversa com moradores do bairro, o pai soube que, naquela madrugada, os policiais voltavam de um confronto com traficantes em uma favela próxima. Os jovens teriam sido confundidos com criminosos. Testemunhas também disseram a Daniel que os policiais já chegaram atirando.
“Levei os investigadores do DHPP em cada casa de cada testemunha e elas foram intimadas a comparecer para prestar esclarecimentos”, conta o pai de César.
As mortes dos rapazes haviam sido registradas como resistência à prisão, mas com as provas levantadas por Daniel e os depoimentos das testemunhas, a Justiça decretou a prisão temporária dos cinco policiais militares. Todos foram levados, nesta semana, para o Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte.
Para o promotor responsável pelas investigações, os policiais simularam um confronto. “As vítimas estavam desarmadas, de moto, e a polícia praticamente as fuzilou”, diz o promotor José Carlos Cosenzo.
Em nota, a Corregedoria da Polícia Militar disse que não compactua com qualquer tipo de irregularidade praticada por PMs. O órgão informou ainda que apura rigorosamente os fatos citados na reportagem. Os cinco policiais presos são do 14º Batalhão de Osasco e não tinham autorização para atuar na capital.
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