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Polícia Brasil
Quarta - 01 de Agosto de 2012 às 15:20
Por: Giovana Sanchez

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A estudante Júlia Zelg, em sua casa (Foto: Giovana Sanchez/G1)
A estudante Júlia Zelg, em sua casa (Foto: Giovana Sanchez/G1)

 

Faz um ano que a estudante de canto lírico Júlia Zelg assumiu a homossexualidade para a família e para os amigos - e quando isso aconteceu, ela sabia que enfrentaria olhares tortos e comentários desagradáveis. Mas, segundo ela, nada disso se compara às ameaças que diz ter sofrido quando estava com a namorada num ônibus de São Bernardo do Campo, no ABC, na última segunda-feira (30).

Neste dia, Júlia conta que por volta das 17h20 foi buscar a namorada, Daiane (ela não quis ter o sobrenome divulgado), no trabalho, e as duas entraram em um ônibus do terminal Ferrazópolis com destino a Santo André. "Sentamos no primeiro banco, do lado do motorista, estávamos de mãos dadas. Não lembro se nos beijamos, mas se sim foi no máximo um selinho. Estávamos bem comportadas", contou Júlia ao G1.

Alguns minutos depois de entrarem, segundo Júlia, dois homens que aparentavam ter 20 anos começaram a falar alto no fundo do ônibus. "Percebendo que éramos um casal gay, eles começaram a falar ofensas num tom alto. Foi muito humilhante, o ônibus inteiro escutou. Coisas como "é bicha", "é sapatão", "que coisa horrível ver uma ciosa dessas na rua"."

Depois de um tempo, segundo Júlia, eles passaram para as ameaças, levantaram e caminharam até elas falando coisas como "tem que matar uma pessoa dessas", "temos que bater nessas pessoas". "O motorista, que era o responsável pelo veículo, não fez absolutamente nada. Na minha opinião, ele tem essa obrigação. Porque, até se tem alguém escutando som alto dentro do ônibus, é o motorista que diz que não pode, não é?"

As duas ficaram com medo e pediram para o motorista parar o ônibus e desceram - longe do ponto que precisavam desembarcar. "Pensamos que eles iam bater na gente. [...] Ficamos arrasadas, eu chorei, fiquei tremendo de nervoso", conta a estudante.

Júlia diz que chegou a tentar fazer um boletim de ocorrência, mas que foi desaconselhada na delegacia, pois não tinha os nomes dos supostos agressores. Ela também diz que ligou várias vezes para a empresa Metra, que opera a linha de ônibus, para fazer uma reclamação e solicitar as imagens de gravação para tentar identificar os homens, mas que não foi bem atendida. "Me trataram super mal e me falaram que, se eu decidi descer do ônibus, o motorista não poderia fazer nada. Mas eu meio que fui obrigada a descer do ônibus, né?[...] Como se fosse culpa minha."

Empresa diz ter sido acionada
Procurada pelo G1, a Metra informou que recebeu a reclamação da passageira, e que a orientação aos funcionários, tanto nos terminais quanto nos ônibus, é intervir e, se for o caso, solicitar apoio quando é notado qualquer distúrbio que coloque em risco a segurança e o conforto dos passageiros.

A empresa também disse que não incita agressões, violências ou qualquer outro distúrbio em suas dependências e se colocou à disposição para mais esclarecimentos.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, qualquer pessoa pode registrar qualquer ocorrência em qualquer delegacia, mesmo sendo um crime de ameaça e sem nome os dos supostos agressores.

A discriminação homofóbica também pode ser denunciada na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), Núcleo de Combate à Discriminação, Racismo e Preconceito, da Defensoria Pública, e na Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual, da Secretaria de Justiça.

"Quando você é assumida, e sai com a sua namorada de mão dada pela rua, as pessoas olham, algumas comentam. Mas dessa forma eu nunca tinha passado", comentou Júlia. "Acho que falta educação. Nas escolas a gente nunca aprende sobre diversidade, principalmente a sexual. Também falta punição e educação em casa, respeito. A pessoa pode não ser homossexual, mas ela não tem nada a ver com a vida dos outros.

Coragem
Para a jovem, é fundamental denunciar para evitar novos casos. "Também acho que falta mais coragem por parte dos homossexuais de se assumir e de denunciar. Quanto mais as pessoas se assumem, mais isso fica comum aos olhos da sociedade. Algumas gerações podem sofrer se assumindo e enfrentando isso, mas vai ser uma coisa boa no futuro, porque os netos delas vão pder viver no mundo um pouco melhor."





Fonte: Do G1 SP

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