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Cidades/Geral
Domingo - 07 de Novembro de 2021 às 10:49
Por: Dantielle Venturini/Gazeta Digital

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“Hoje ainda não tem nada para comer, mas Deus nunca me desampara”. É assim que Ana Maria Sebalho da Silva, 57 anos, vive a maioria dos seus dias, confiando apenas no amparo divino. Era por volta das 11h da manhã quando ela recebeu a equipe do jornal A Gazeta em sua casa, no Residencial Jonas Pinheiro 3, em Cuiabá, e relatou as dificuldades que vive e o medo da situação se tornar ainda pior com o fim do benefício do Programa Bolsa Família.

Dependente de cuidados para a realização de tarefas básicas, com tristeza no olhar, ela afirmou que ainda não sabia o que iria comer no almoço da última sexta-feira (5). Na cozinha da pequena e humilde casa, que já está sob ordem de desapropriação, dentro das panelas sobre o fogão havia apenas um pouco de óleo. Na geladeira, algumas frutas e verduras que, segundo ela, ganhou de vizinhos que buscam sobras de alimentos em feiras da Capital. As frutas, naquele dia, era o que vinha comendo desde cedo, enquanto esperava pela provisão do filho.


Há dois anos lutando contra as sequelas de um aneurisma, ela contou que sempre trabalhou, mas hoje vive apenas com o auxílio doença, no valor de um salário mínimo, e dos bicos que o único filho, de 30 anos, consegue fazer.


Há algumas semanas ela ainda contava com o Bolsa Família, que era essencial para ajudar a garantir as necessidades do mês. Com o fim do programa, ela afirma que conta agora com a providência de Deus. O auxílio doença ajuda, mas mal dá para pagar as medicações e a comida para o mês. Apesar de toda dificuldade, a fé tem de sobra. “Se não for o meu filho, o único que tenho, e os serviços que ele faz e ajuda, não sei como seria, mas confio que Deus não me desampararia”.


No mesmo bairro, vivendo sob o mesmo risco de despejo e também enfrentando dificuldades, está a família de Luane Mayara Ferreira de Almeida, 25 anos. Mãe de 3 meninas e já esperando a quarta, a jovem que conta apenas com a renda do marido, deixa transparecer no rosto a incerteza do futuro, em especial quanto ao fim do benefício do Governo Federal. “A gente fica com medo, não sabemos se o novo programa vai dar certo”.


Luane recebia R$ 250 pelo programa e conta que a quantia ajudava bastante, em especial com as crianças, já que com o valor ela garantia frutas e alguns mimos. Agora, com o fim, ela afirma que a prioridade será o básico como o arroz o feijão, mas lembra que criança não entende bem as limitações. “Criança sempre quer um doce, alguma coisa e isso eu conseguia com esse dinheiro”.


A jovem afirma que não sabe como vai ficar sua situação em relação ao benefício, uma vez que ainda não foi informada sobre migração de programa ou qualquer outra forma de auxílio. “Tudo que a gente fica sabendo é por boca dos outros, mas nada oficial”.


Ela lembra ainda que a pandemia agravou a situação de desemprego e preços de alimentos e que graças ao retorno das escolas muitas famílias no bairro têm um pouco mais de conforto, pois as crianças acabam se alimentando lá, mas que ainda não sabe como vai ser caso tenham que deixar a casa onde moram, pois não tem para onde ir com os filhos. “Estamos tentando resolver isso há tempos, não queremos de graça as casas, queremos pagar por elas”.


No bairro, mais de 450 famílias vivem sob a ameaça de uma reintegração de posse prevista para dezembro deste ano. O drama das famílias do Residencial Jonas Pinheiro 3 já dura mais de 3 anos. Em 2018, quando chegaram na área, os moradores contam que as casas ali construídas estavam depredadas e abandonadas, utilizadas, somente, por usuários de
drogas, e para a prática de prostituição.


Em setembro deste ano uma ordem de despejo para o local foi suspensa pela Justiça, após uma recomendação da Defensoria Pública da União por causa da pandemia e da situação de vulnerabilidade econômica e social das famílias. A suspensão é válida até 3 de dezembro.





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