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Saúde
Domingo - 05 de Dezembro de 2021 às 10:06
Por: Liz Brunetto/Mídia News

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O epidemiologista Diego Xavier é pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
O epidemiologista Diego Xavier é pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)

Há menos de um mês para as festas de final de ano e com o anúncio de uma nova cepa da Covid-19 (Ômicron) circulando no Brasil, o epidemiologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Diego Xavier, alertou para o perigo de viagens e aglomerações em eventos.

A recomendação, segundo o especialista, é adiar as viagens programadas para o fim de ano, evitando assim a possibilidade de uma nova disseminação do vírus. Já para aqueles que não puderem adiar ou optarem por não seguir a sugestão, o ideal é aumentar os cuidados necessários para evitar o contágio.

“Sabemos que é difícil, todo mundo quer ver os parentes, comemorar as festas, mas não temos uma situação extremamente confortável para fazer isso agora”, disse ele em entrevista ao MidiaNews.

Diego afirmou que a condição ideal para se pensar em retomar a realização de eventos de maior porte é ter no mínimo 80% da população vacinada e, preferencialmente, acima de 95%.

Ocorre que o cenário mato-grossense e nacional é bem diferente disso. No País, são 63% da população com o primeiro ciclo vacinal completo. Em Mato Grosso, são 55,2%.

Sabemos que é difícil, todo mundo quer ver os seus parentes, comemorar as festas, mas não temos uma situação extremamente confortável para fazer isso agora

“O poder público precisa avançar de forma acelerada na vacinação de primeira e segunda dose, exigindo o passaporte sanitário não só para as festas de fim de ano, mas para locais públicos de aglomeração”, defendeu.

“É preciso entender que o problema não acabou. Sim, está todo mundo cansado, mas cansaço não elimina Covid. A gente está trabalhando aqui [pesquisadores] há dois anos sem parar para tentar superar esse problema”, desabafou.

A história pode se repetir

Conforme o pesquisador da Fiocruz, nas comemorações do ano passado, aconteceu um fenômeno chamado de sincronização da epidemia. Em épocas anteriores, cada estado e cidade teve seus picos de infecções e morte em períodos diferentes. Após as festas, a pandemia sincronizou.

Segundo ele, basta olhar para os números de infectados graves e mortes do início deste ano para ter uma dimensão do problema.

“O fim de ano é um fenômeno de movimentação capilarizada. Muitos viajam e se aglomeram ao mesmo tempo e isso faz com que o vírus se dissemine mais”, disse.


A sincronização da pandemia provocou um colapso na saúde em quase todo o território nacional. “Essa movimentação expõe a população de risco com potencial de evoluir para um caso mais grave. E tudo indica que pode ter um aumento”, disse.

Segundo o pesquisador, o único diferencial e atenuante a esse risco iminente, é a vacinação - que ainda não tinha tido início nesta mesma época do ano passado.

“A vacina pode diminuir esse risco, mas as pessoas, além de se vacinar, precisam tomar alguns cuidados para frear o contágio”.

Decidiu viajar? Tome cuidados:

“Esse vírus gosta de duas coisas, que as pessoas se movimentem bastante e se aglomerem. As festas de final de ano fazem exatamente isso”, afirmou Diego.

Para tentar minimizar o risco de disseminação da doença, antes de tudo, segundo o pesquisador, é preciso verificar se as pessoas que estiverem no ambiente tomaram as duas doses, ou a terceira, de reforço.

Esse vírus gosta de duas coisas, que as pessoas se movimentem bastante e se aglomerem. As festas de final de ano fazem exatamente isso

“Só isso já vai diminuir muito o risco, porque quem não se vacinou tem uma capacidade de transmissão muito maior e pode infectar os vacinados”.

“Em segundo lugar, tente evitar situações de risco, locais fechados, não ventilados e faça o uso de máscara, mesmo em lugares abertos. Já quem estiver com os sintomas clássicos de gripe ou Covid, façam um exame do tipo PCR e confirme se está com a doença. Se estiver, não viaje em hipótese nenhuma”, explicou.

Outro alerta dado pelo especialista é sobre o consumo de álcool, em que as capacidade motoras e cognitivas ficam prejudicadas. “A pessoa pode até chegar na festa com a máscara e depois tirar e agir como se não estivesse acontecendo nada”.

“Tome cuidado com essas situações de risco e tente evitá-las ao máximo”, acrescentou.

Algo tão importante quanto os cuidados a serem adotados é a comunicação entre os que participaram dos eventos.

“Se tiver algum sintoma, teste e se der positivo comunique todas as pessoas com as quais você teve contato, para que elas tomem as medidas necessárias e seja possível quebrar essa cadeia de transmissão”.

Ômicron e os eventos

Diego afirmou que ainda é muito cedo para fazer especulações sobre a nova variante da Covid, a Ômicron, e o seu potencial letal.

A fronteira seca no Brasil é extremamente grande, nessa fronteira ninguém faz esse tipo de vigilância, é perfeitamente possível que a variante entre e se espalhe

A nova variante é considerada de preocupação e os primeiros casos registrados foram detectados na África do Sul. Apesar disso, não é possível, segundo o pesquisador, chancelar que ela tenha, de fato, surgido no continente.

Países da Europa e da América Latina, incluindo o Brasil, já testaram positivo para a nova variante. Nos últimos dias o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, decidiu fechar as fronteiras para seis países africanos devido a essa nova variante.

A medida, segundo Diego, é uma tentativa, mas dificilmente trará resultados expressivos.

“A única coisa que a gente sabe é que ela [Ômicron] tem um volume de mutações muito grande, maior do que o que a gente tinha observado em outras variantes. Agora, se ela vai ter escape da vacina, ou se ela vai ser mais letal ou mais transmissível, só vai conseguir identificar nas próximas semanas", disse.

“A fronteira seca no Brasil é extremamente grande, nessa fronteira ninguém faz esse tipo de vigilância, é perfeitamente possível que a variante entre e se espalhe de outras formas", acrescentou.

Para o especialista, o importante é dar um passo de cada vez e concentrar os esforços em passar pelas festas de final de ano de forma segura. Somente assim, vacinando a população, avaliando o nível de contágio, de internações e de óbitos, seria possível pensar em eventos futuros, como por exemplo o carnaval.





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