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Internacional
Terça - 31 de Julho de 2012 às 15:21

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Poucos depois de receber as primeiras pedradas, a mulher desvaneceu. O homem gritou uma vez antes de se calar para sempre. Assim uma testemunha descreveu a condenação à morte por apedrejamento de um casal, cujo único pecado foi viver junto sem haver se casado antes. Trata-se do primeiro caso desde que grupos radicais armados - tuaregues e islamistas - tomaram o controle do norte de Mali, há quatro meses, e provocou uma forte condenação da Anistia Internacional.

O apedrejamento aconteceu no domingo, em Aguelhok, acompanhada por uma multidão de 200 pessoas cuidadosamente escolhidas pelos organizadores.

- Eu estava lá. Os islamistas levaram o casal até o centro de Aguelhok, colocaram os dois em duas covas e os carrascos os apedrejaram até a morte - disse uma das testemunhas à agência de notícias France Press, pedindo anonimato.

O casal tinha dois filhos - o mais novo, de apenas seis meses - e vivia nos arredores de Aguelhok, na savana, como informou outra testemunha.

A cidade está sob controle do grupo armado Ansar al-Dine (Defensores do Islã), aliado da rede terrorista al-Qaeda e um dos braços da milícia Gana Izo, composta por dois mil voluntários. Parte deles avançou no norte de Mali e estabeleceu uma base em Bambara Moude, a 95 quilômetros de Timbuktu, e outra em Douentza, a 300 quilômetros de Gao. Ambas as regiões são controladas pelo Ansar al-Dine e pelo Movimento pela Unidade da Jihad na África do Oeste (Mujao), outra organização radical que opera ali.

O avanço ao norte do país é a primeira etapa do que os milicianos chamam de "liberação do norte", cujo objetivo é eliminar todos os inimigos tuaregues do Movimento Nacional pela Liberação do Azawad (MNLA). Em 17 de janeiro, com o apoio de islamistas radicais, tropas do MNLA expulsaram o Exército das três províncias do norte do Mali: Gao, Kidal e Timbuktu. Os tuaregues iniciaram uma tentativa de golpe de Estado, que culminou na queda do presidente Amadou Toumani Touré, em março. O vice-presidente Dioncounda Traoré deixou o país em maio, depois de ser agredido por uma multidão de manifestantes, no palácio presidencial do país.

Os combatentes da Ganda Izo se consideram um grupo de “autodefesa” e aliados da milícia Ganda Koye, surgida nos anos 1990 no norte do país para combater os tuaregues. Composta por homens de todas as etnias do Mali - sobretudo songhais, peules e cidadãos de origem árabe -, as milícias Ganda Izo, Ganda Koye, a Frente de Liberação do Norte (FLN) e Bou Yan Ba Hawi (BYBA) não acreditam em uma reação do Exército do país, e nem querem ouvir falar da entrada de forças internacionais no país.

- As armas de que necessitamos estão quase chegando. Logo em seguida, vamos para o norte, com ou sem a ajuda do Exército do Mali. O que não podemos permitir é que soldados de outros países entrem aqui para resolver nossos problemas. Quem tem de resolvê-los somos nós - disse Mohamed Dioudara, comandante do BYBH.

Tropas da milícia Ganda Izo enfrentam treinamento sob sol escandante

No acampamento juvenil de Soufouroulaye, a poucos quilômetros de Mopti, há não menos de mil jovens. E o número aumenta a cada dia. É o coração da milícia Ganda Izo - “filhos da terra”, em shongay -, grupo armado que iniciou os avanços ao norte do país ao enviar 200 homens. O calor é intenso, mas o moral dos combatentes está nas alturas.

- Vamos dar o sangue por nossa terra, até a última gota, até o último cartucho de balas - garante o capitão Dadis Meiga.

As armas e alimentos estão cada dia mais escassos, mas, mesmo assim, os jovens se dedicam aos treinamentos militares, sob orientação de ex-soldados do Exército do país.

Os membros da Ganda Izo já entraram em conflito com integrantes do MNLA, em Douentza. O comandante Hamidou Diallo garante que os tuaregues chegaram em picapes e, por isso, tiveram que responder com disparos.

- Não firmamos nenhum acordo com o Mujao, nem com o Ansar Din. Mas, neste momento, compartilhamos um mesmo inimigo: o MNLA - disse o comandante Diallo. Os milicianos estão convencidos de que os rivais a serem batidos são os tuaregues.

Integrantes do Ganda Izo não confiam no Exército no combate a tuaregues

O comandante da Ganda Izo, Mahamadou Ousseyne Diallo - vestido com farda militar e turbante azul -, orienta os combatentes sob um sol escaldante.

- Estamos aqui, vindos de várias região do Mali, para libertar nossa terra - grita aos jovens.

O grupo planeja avançar ainda mais ao norte para "vingar a afronta", referindo-se à expulsão das tropas do Exército do Mali por tuaregues e islamistas, no mês de março.

- Como puderam ser vencidos, sem enfrentar os rebeldes tuaregues, deixando nossas famílias expostas a roubos, pilhagens, saques e abusos? Isto foi uma traição - disse o comandante Diallo.

A classe política agora estuda a formação de um governo de unidade nacional, a pedido da Comunidade Econômica dos Estados da África do Oeste (Cedeao), após a queda do presidente Amadou Toumani Touré.






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