Mãe sonha em oferecer almoço farto aos 4 filhos
“Hoje tenho o almoço para dar, mas se você me perguntar o que vamos comer na janta, eu ainda não sei te dizer”. Essa é a realidade vivida todos os dias por Patrícia Martins da Silva, 36 anos, que mora com os seus 4 filhos em uma das casas do Residencial Jonas Pinheiro 3, em Cuiabá. Há praticamente 3 anos luta sozinha para garantir o sustento dos filhos de 3, 4, 6 e 10 anos de idade.
Batalhadora, a renda de Patrícia para cuidar das crianças vem somente de um auxílio do Governo Federal, do pão caseiro que faz para vender e de alguns materiais recicláveis que consegue juntar. Com o pouco que ganha, a família conta sempre com ajuda e solidariedade de vizinhos, que apesar do pouco que têm ainda sabem dividir.
Ela mesmo, quando não consegue vender todos os pães, divide o que ficou com os demais. “Aqui é assim, a gente se ajuda muito e assim vamos vivendo”. Durante a entrevista, por diversas vezes ela se emociona, como quando contou que a filha de 6 anos, Rhaymura, teve um acidente vascular cerebral (AVC) no ano passado. Apesar de não ter ficado com sequelas, a criança faz tratamento e precisa tomar, de forma contínua, um medicamento que custa R$ 136 e não é distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“A médica disse que esse remédio é essencial e todos os meses preciso dar um jeito de comprá-lo”. Com a proximidade do Natal, a mãe esforçada se emociona novamente ao se lembrar que não tem uma renda que permita planejar uma ceia ou um almoço especial para a família. Patrícia explica que assim como no passado, neste ano que não terá nada especial para data.
“Não sei nem mesmo se as crianças vão ganhar algum presente esse ano”, diz, recordando que no ano passado os filhos só ganharam brinquedos porque o Grupo Gazeta de Comunicação escolheu o bairro para o Natal da Solidariedade, quando houve distribuição de presentes para todas as crianças.
Apesar do desabafo doloroso, ela reconhece que o seu maior prazer neste Natal é poder estar com os filhos e que é grata a Deus por isso. Quando questionada sobre um pedido ao Papai Noel, responde sem precisar pensar e sem dúvida nenhuma que seria a garantia de que a casa onde está será sua, um teto para os filhos. A casa de Patrícia, assim como as de outras 200 famílias que vivem no residencial, é fruto de uma invasão e de uma briga judicial que dura anos.
As famílias estão com mandado de reintegração de posse prevista para ano que vem, mas buscam na Justiça o direito de moradia permanente no local. “Não queremos de graça assim como muitos pensam, queremos pagar por elas. Temos fé que serão nossas”.
Além do desejo da casa própria, o mesmo de todos que estão ali no Jonas Pinheiros, ela conta que mais desejos para o Natal se projetam apenas no bem estar e saúde dos filhos. Neste ano ela gostaria de poder ofertar um Natal diferente, com uma mesa farta, muitas guloseimas e presentes para alegrá-los. No ano passado ela se recorda, em meio a lágrimas, que os 5 ficaram sozinhos em casa, observando vizinhos comemorando com familiares. “Escutamos daqui as festas nas casas, mas a gente mesmo não tinha nada especial. Jantamos arroz, feijão, macarrão e fomos dormir”.
Como toda mãe, Patrícia afirma que dói ver as crianças sonharem com presentes, doces e outras delícias, com um Natal diferente, quando mesmo dando o seu máximo por elas, ainda não consegue realizar todos esses desejos. O caçula, Leandro, de 3 anos, afirma que já pediu ao Papai Noel uma bicicleta, que aliás é o mesmo pedido do irmão mais velho, Ruan, 10, e parece ser o sonho de quase todas as crianças do residencial. Já as meninas sonham em ganhar bonecas. Rhaynura conta que quer uma bárbie, e Rhanya, 4, diz que quer uma boneca bebê.
Diante de toda luta diária e das dificuldades para criar os filhos, ela lembra que não abre mão de incentivá-los aos estudos e reconhece que essa é a única oportunidade para terem uma vida melhor. Relembra que mesmo com o sonho de fazer uma faculdade, parou com os estudos no 2º ano do ensino médio e, desde então, não fez mais planos para a vida além de cuidar dos filhos. “Parei de sonhar com grandes coisas quando tive meu primeiro filho, daí vieram os outros e a gente para de pensar na gente para pensar apenas neles”.
Doações
Patrícia afirma que qualquer ajuda é sempre bem-vinda, seja de alimentos, leite, comida, roupas, sapatos e brinquedos. Quem quiser ajudar a família a ter um Natal pode procurá-la através do telefone (65) 99310-0949.
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