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Economia
Domingo - 27 de Fevereiro de 2022 às 05:54
Por: Marianna Peres/Diário de Cuiabá

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Os custos das safras 2021/22 e a até mesmo da 2022/23 podem ficar bem acima do que vinham planejando os produtores rurais de Mato Grosso, altamente dependentes da importação de matérias-primas para produção de insumos – fertilizantes e adubos – e sujeitos às variações cambiais, já que a moeda que baliza as negociações do setor é o dólar.
Mato Grosso, maior produtor de grãos, algodão e detentor do maior rebanho de bovinos no Brasil, é também o maior consumidor de fertilizantes por hectare do mundo. Em 2021, por exemplo, o Estado importou mais de US$ 3,11 bilhões, sendo que 85% das aquisições foram relativas a adubos e fertilizantes, o que somou negócios de US$ 2,7 bilhões, o maior volume despendido na história das importações mato-grossenses.


As importações brasileiras de fertilizantes no mês de janeiro foram bastante influenciadas pelas tensões geopolíticas entre a Rússia e Ucrânia. No caso dos fertilizantes, a Rússia é um grande fornecedor global de adubos. Em relação aos potássicos, o país é responsável por cerca de 20% da produção global e é origem de 28% das nossas importações. Já para os nitrogenados, o pais é o segundo maior produtor global. Como fornecedor para o Brasil a Rússia participa com 21% dos nitrogenados e, no caso específico do nitrato de amônio, o país é praticamente o único fornecedor para o Brasil. No ano passado, o País consumiu mais de 40 milhões de toneladas de fertilizantes.


A invasão russa ao território da Ucrânia já movimentou o mercado e deve, no curtíssimo prazo, inflacionar ainda mais os preços das commodities internacionais como petróleo e seus derivados, o que deverá refletir imediatamente na economia nacional, inclusive no agronegócio, dependente desses insumos e com negócios balizados o tempo todo em dólar. A inflação que assola o Brasil deve ser intensificada, mediante o ritmo do conflito internacional.


Conforme analistas, os impactos ao agro mato-grossense podem ser contabilizados em duas vias, tanto nas importações como nas exportações. O fornecimento de fertilizantes pode sofrer prejuízos imediatos caso o Brasil seja convidado a participar das sanções econômicas à Rússia, ou mesmo compelido a seguir decisão de outras grande nações mundiais. Outro impacto negativo pode ocorrer nas exportações de Mato Grosso. A Rússia é um dos maiores importadores de carne suína.


A valorização dos preços dos insumos – reflexos da pandemia e da valorização do dólar sobre o real – já influenciou negativamente o planejamento dos produtores rurais de Mato Grosso em relação à safra atual, a 2021/22, e já estava sendo contabilizada nas planilhas do novo ciclo, o 2022/23. Antes mesmo da repercussão do ataque russo à Ucrânia, as principais entidades ruralistas já recomendavam o uso racional, ou mesmo o uso zero de fertilizantes na próxima safra, como forma de driblar os aumentos dos insumos, que têm matérias-primas importadas e com originação na Rússia, como nitrogenados. Economizar em adubos e fertilizantes será regra de ouro a partir de agora, com o novo conflito mundial.


Aliás, a parcela ´insumos’ na produção agrícola, é a que mais pesa sobre os custo dos produtores. O mais recente levantamento acerca de despesas no campo, feito pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), mostra que em fevereiro, o custo com fertilizantes representou 47,23% de todo o custeio da lavoura, que ficou estimado em R$ 4.639,19/ha para a safra 2022/23. “Com os altos custos estimados para a safra, é importante que o produtor esteja atento à relação de troca (RT) entre os preços dos fertilizantes e a cotação futura da saca da soja (contrato março de 2023). Esse cálculo auxilia o produtor no momento da negociação do seu produto”, aconselham os analistas.


ANÁLISE - Após o início da operação militar da Rússia na Ucrânia, o mercado internacional de trigo registrou fortes elevações. Em Chicago, os preços fecharam a sessão desta quinta-feira no limite de alta para o dia. As cotações dos fertilizantes ainda não variaram significativamente, mas a tendência também é de valorização.


Os consultores de SAFRAS & Mercado, Élcio Bento, especialista em trigo, e Maísa Romanello, especialista em fertilizantes, analisam o momento.


Conforme Bento, as commodities são ativos de risco e, normalmente, incertezas fazem investidores liquidarem suas posições e buscarem ativos mais seguros. “Esta situação específica, para o trigo, é diferente, pois a região do Mar Negro, onde estão Rússia e Ucrânia, é onde há mais trigo no mundo”. Ele lembra que a possibilidade de conflito já estava no radar dos investidores. “A preocupação, agora, é que o prolongamento possa trazer desabastecimento. Além dos efeitos imediatos de redirecionamento da demanda, há incertezas quanto à manutenção dos cultivos das lavouras para o próximo ano comercial”.
O analista ressalta que ainda é cedo para mensurar o potencial efeito da crise.


Já para os fertilizantes, conforme Romanello, o conflito traz de volta a incerteza ao Brasil. “A expectativa anterior, ainda de fevereiro, era de queda nos preços da ureia no Brasil. Isso acabou. Agora, a principal palavra, de novo, é incerteza”, lamentou. Ela explica que a elevação dos preços deve demorar a ser sentida no Brasil, uma vez que o produto é importado. “Há um certo ‘delay’ até que os produtores comecem a comprar fertilizantes e sintam a alta”, observou.


A alta dos preços leva em conta, basicamente, as sanções à Rússia, que deve interromper sua produção de gás natural, assim elevando os preços desta que é a principal matéria-prima para fertilizantes nitrogenados. Isso também pode afetar os preços do carvão, que também é matéria-prima importante. O mesmo vale para o petróleo que, além de matéria-prima, também afeta os custos dos fretes marítimos.





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