'Conto de fadas não existe', alerta delegado sobre uso de app
“Conto de fadas não existe”, alerta o delegado da Ruy Guilherme Peral, da Delegacia de Repressão a Crimes Informáticos (DRCI). A afirmativa pode ser um tanto radical para os mais românticos, contudo em solo virtual a razão precisa falar mais alto que a emoção em encontrar o “match perfeito”. Aplicativos de relacionamento têm sido uma das portas de entrada para captação de vítimas para os mais diferentes tipos de golpes.
Interesse exacerbado logo no começo do relacionamento, grande diferença etária e financeira são alguns dos pontos que devem ser ponderados em todos relacionamentos, principalmente os que começam pelos aplicativos de relacionamentos, tão difundidos atualmente.
Em fevereiro, estreou na plataforma de streaming Netflix o documentário “o Golpista do Tinder”, que narra a história de mulheres vítimas de Simon Leviev. O homem se passa por bilionário, inicia romance pelo aplicativo e logo passa a pedir dinheiro emprestado para as jovens.
Após meses, as jovens descobrem que caíram em golpe e ele acaba preso. Contudo, ele logo é solto e segue com as conquistas. Após a publicação do documentário, o Tinder cancelou o perfil do homem. Porém, as jovens seguem pagando dívidas milionárias de empréstimos feitos para “ajudar” o então namorado que nunca as pagou. Além do prejuízo financeiro, há o abalo emocional sofrido pelas jovens.
Na avaliação do delegado, apesar de todo o enredo elaborado pelo golpista, era possível desconfiar da atitude e interesse repentino do homem. Ele alerta que crimes como o apresentado são comuns e todo cuidado é bem-vindo.
O policial afirma que criminosos que usam as plataformas para aplicar golpes já foram presos no estado e que a DRCI conta com a colaboração dos aplicativos nas investigações. Ou seja, não adianta ser fake, é possível descobrir a pessoa por traz do perfil e puni-la pelo dano causado.
“Em relacionamentos, pessoais ou virtuais, homens e mulheres devem estar atentos a alguns gatilhos que podem sugerir o golpe. Por exemplo, a pessoa que demonstra interesse repentino desproporcional, a grande diferença de idade ou de condição financeira. Não estou dizendo que uma pessoa muito rica não vá se relacionar com uma menos abastada, mas é preciso ligar o sinal de alerta”, afirma o delegado.
O policial afirma que após o primeiro contato via aplicativo, é importante que se pesquise quem é o outro. Busque saber se tem amigos em comum das redes sociais, identificar possíveis familiares e dê o bom e velho Google. Uma ferramenta útil nesse estágio é o site do Tribunal de Justiça. Pelo nome é possível pesquisar se o crush responde a alguma processo cível ou criminal. A consulta é pública e gratuita.
Os aplicativos são como uma vitrine de vítimas em potencial para os golpistas. Os crimes são concretizados em redes sociais que permitem outras mídias, não somente textos. Com a conversa mais “evoluída”, o delegado alerta para que não se forneça dados pessoas, códigos, clique em links encaminhados, mande vídeos ou fotos íntimas.
“Temos que ter muito cuidado com tudo o que é publicado na rede social, senão ela tem o efeito contrário da finalidade para a qual foi criada. Em vez de criar vínculos, ela vai trazer o mal para a pessoa. Limitar as informações fornecidas para uma pessoa num relacionamento e a exposição cria uma barreira para possíveis golpes”, explica.
O policial explica que os criminosos podem se utilizar dos falsos namoros para clonar o whatsapp da vítima, pedir dinheiro, subtrair quantias com o presente fake, entre várias outras modalidades de golpes. Muitas vezes a história inventada por essas pessoas já tem até público alvo para que a chance de êxito seja maior. Além de serem usadas com várias pessoas ao mesmo tempo, elevando as possibilidades de lucro.
“O golpe não acontece de um dia para o outro. Pode levar semanas, meses e, às vezes, até anos. A vida real se mistura com a ficção. Tudo isso realmente acontece, assim como mostrado no filme”, ressalta.
Golpe do amor
Esse golpe não é novo, mas ainda faz muitas vítimas. O criminoso, geralmente, mora em outro país e fala que tem um presente para mandar para a "amada". Ele encaminha o código de rastreio e a pessoa pode acompanhar o trajeto do mimo. Porém, encomendas internacionais correm o risco de serem taxadas e é isso que ocorre com o suposto presente. Para retirar, é preciso pagar o imposto. Parece tudo certo, mas a engenhosidade criminosa pensou em tudo.
O código é gerado em um site falso e o presente não existe. A taxa que a pessoa paga, que pode ser alto valor, vai direto para a conta do criminoso e ele desaparece. O alvo fica com o prejuízo financeiro e a desilusão amorosa.
Dinheiro perdido
O delegado chama atenção para que não se empreste dinheiro, cartão ou pague contas com a promessa de ressarcimento para a pessoa que conheceu recentemente.
Assim como as vítimas do Simon Leviev, o dinheiro perdido não pode ser recuperado. No caso de dívidas com cartão, lojas ou bancos, o estabelecimento não tem relação com o golpe. Exceto se o criminoso for funcionário do local e tenha induzido a vítima a contrair os débitos.
Extorsão por nudes
Esse é o mais clichê de todos, como afirma o delegado. Em Mato Grosso, criminosos já foram presos por este crime, que tem pena prevista de 4 a 10 anos de prisão. De houver mais criminosos envolvidos a penalidade sobe.
Neste cenário, o golpista manda foto ou vídeo para a vítima (que não necessariamente é dele, pode ser uma montagem da internet) e pede a imagem íntima da vítima. Com isso em mãos, passa a pedir dinheiro sob ameaça de publicar o conteúdo na internet ou mandar para conhecidos.
Isso também ocorre com conteúdos de conversas mais apimentadas. “A extorsão é pesada. A vítima, geralmente, é uma pessoa de bem, que tem um nível moral de moralidade. Ela tem receio de ser exposta e acaba cedendo. Mas o melhor a fazer é não pagar, porque a extorsão nunca acaba”, pontua.
“Extorsão é um crime muito pior que o estelionato. Temos criminosos presos por isso. As pessoas pensam que a internet é terra sem lei, mas não é. Temos meios de chegar até o bandido e os aplicativos colaboram com a polícia. A grande maioria dos golpistas usam perfis fake, mais ele vai ser descoberto”, declara.
Clonagem
Esse também é comum e a melhor prevenção é ativar as duas etapas de segurança.
Aqui o golpista inventa qualquer história envolvendo código ou link, como ingresso para algum evento, e consegue clonar o celular da vítima. Assim passa a pedir dinheiro para amigos e familiares.
Encontro marcado
Com os cuidados em solo virtual, se previna no date real.
O delegado recomenda encontros em locais públicos e movimentados. Que algum amigo seja avisado do lugar e com quem vai sair. Pode levar alguém para que o observe a distância.
Se o crush homem mora em outra cidade, não vá. Convide para que o encontro ocorra sem sua região.
“É questão de segurança, você não conhece, não sabe as intenções daquela pessoa”, argumenta.
Tinder alerta
Os aplicativos têm páginas com dicas de segurança aos usuários. Também possuem opção para denúncia de perfis e bloqueio.
Na página do app, são incentivas denuncias dos principais comportamentos:
Você sabe quando alguém passou dos limites, e quando isso acontece, queremos saber. Bloqueie e denuncie quem violar nossos termos. Aqui estão alguns exemplos de violações:
Pedidos de dinheiro ou doações
Usuários menores de idade
Perturbação, ameaças e mensagens ofensivas
Comportamento impróprio ou prejudicial durante ou depois de se encontrar pessoalmente
Veja todas as recomendações aqui
Perfis falsos
Spam ou ofertas, incluindo links para sites comerciais ou tentativas de vender produtos ou serviços
O alerta do delegado Rui Guilherme cita o Tinder, um dos mais famosos, mas vale para todos os aplicativos de relacionamento.
O aplicativo
Badoo, Happn, Par Perfeito, Facebook Namoro também são aplicativos de relacionamentos, porém o Tinder ainda é o mais popular dele e muitas vezes usado para se referir a qualquer plataforma do seguimento.
Criado em 2013, o app já tem 100 milhões de usuários no mundo todo e 55 bilhões de Matches, segundo dados da plataforma.
Como segurança, ele oferece a verificação para certificar que a pessoa da foto é a mesma na vida real. Desfazer o match se não quiser mais contato com a pessoa e superlike para sinalizar que você está muito interessado na outra pessoa. Ela vai te identificar por meio de uma estrela azul.
Existe a versão gratuita e paga, que permite ver quem te curtiu e garantir o match.
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