Em ano eleitoral, saúde e economia lideram preocupações do brasileiro Instituto também aponta que maioria vê piora na imagem do Brasil no exterior sob Bolsonaro
Questões ligadas à saúde e à economia estão no topo das principais preocupações do brasileiro neste ano eleitoral, segundo pesquisa do Datafolha.
Em levantamento do instituto feito entre a terça (22) e quarta-feira (23), os entrevistados foram questionados sobre qual é o maior problema do país atualmente.
Na esteira da crise do coronavírus, a saúde voltou a ser o assunto mais citado, com 22% das menções. O tema, que tem ficado no topo da lista desde 2019, tinha sido mencionado por 26% em dezembro passado.
As respostas são colhidas espontaneamente nesse questionamento (sem que opções sejam apresentadas ao entrevistado). No item saúde, também estão englobados termos próximos, como "Covid" e "pandemia".
Esta rodada da pesquisa também confirma a consolidação de temas econômicos no alto do ranking.
A economia em si, item que também abarca menções à situação dos combustíveis, foi citada como maior preocupação para 15%, seguida por desemprego (12%) e inflação (10%).
Na pesquisa feita no fim de 2019, a inflação nem sequer havia pontuado.
A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O Datafolha ouviu nesta rodada 2.556 pessoas em 181 municípios de todo o país.
Entre outros temas, também há destaque para a questão da educação, mencionada por 9% dos entrevistados. Ainda na seara econômica, há na lista 6% de citações ao problema da fome/miséria.
Não souberam responder 5%.
Eleitores do ex-presidente Lula (PT), que lidera a pesquisa de intenção de votos à Presidência, demonstram ser mais preocupados com questões econômicas.
O trio economia/desemprego/inflação foi listado como uma das maiores preocupações por 42% nesse segmento, ante 37% da população em geral. O petista, em entrevistas e eventos da pré-campanha, tem reiterado críticas à alta dos combustíveis e prometido descolar os preços do país do mercado internacional.
A crise inflacionária foi simbolizada por um reajuste de 18,8% no preço da gasolina anunciado no último dia 10.
Nos últimos 12 meses, a alta acumulada do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo acumulado) é de 10,54%. Já são mais de seis meses com o índice nesse patamar.
Entre os jovens de 16 a 24 anos, a menção à economia chega a 20%. A preocupação com a inflação atinge 14% entre quem tem escolaridade fundamental.
A questão da corrupção, citada por 5% dos entrevistados, sobe para 10% ao se levar em conta apenas os eleitores do presidente Jair Bolsonaro (PL). No auge da Operação Lava Jato, o assunto chegou a liderar o ranking.
A violência/segurança foi mencionada agora por 3%. As respostas espontâneas dos entrevistados incluem ainda itens como o salário (1%), o Supremo Tribunal Federal (1%) e o presidente Bolsonaro (1%).
Imagem do país
O Datafolha também questionou os eleitores nesta rodada sobre a imagem que o Brasil passa para o resto do mundo no atual governo.
Disseram que ela piorou desde o início da gestão Bolsonaro 52% dos entrevistados. Para 24% a imagem do país ficou igual, e 23% entendem que ela melhorou. Não soube responder 1%.
Ao longo do mandato, o presidente se indispôs com líderes mundiais e enfrentou isolamento nos debates internacionais.
Bolsonaro, por exemplo, fez críticas aos presidentes da Argentina, Alberto Fernández, e dos Estados Unidos, Joe Biden, quando os dois ainda eram apenas candidatos. Também ofendeu a mulher do francês Emmanuel Macron e criticou a alemã Angela Merkel.
O ex-chanceler Ernesto Araújo, que chegou a dizer que não se importaria se o Brasil fosse um pária, foi demitido em 2021 sob pressão de aliados do presidente e do Congresso. Ele foi um dos representantes na formação do governo da chamada "ala ideológica", indicado pelo escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo e que morreu neste ano.
Mais recentemente, Bolsonaro despertou controvérsia ao se aproximar do russo Vladimir Putin em plena tensão pré-guerra da Ucrânia, e foi criticado pelos Estados Unidos.
Um dos principais focos de desgaste da imagem do Brasil internacionalmente é a questão ambiental. Bolsonaro já chegou a atribuir as queimadas na Amazônia à ação de ONGs e falou em assembleia das Nações Unidas que o país era vítima de uma "campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras".
Na COP-26, conferência sobre o clima promovida em 2021, o presidente participou apenas com um vídeo gravado de 30 segundos, e a tentativa do Brasil de assumir compromissos foi vista com desconfiança.
O levantamento do Datafolha mostra que os mais ricos e mais escolarizados estão mais pessimistas com a imagem do Brasil.
Entre os entrevistados com ensino superior, a porcentagem que vê piora sob Bolsonaro passa para 58%. Já entre quem tem renda familiar mensal superior a dez salários mínimos, a taxa fica em 56%.
No segmento que computa apenas eleitores do ex-presidente Lula, o índice negativo vai a 76%.
Entre os segmentos mais favoráveis ao presidente, estão os eleitores com 60 anos ou mais (onde 28% entendem que a imagem do país melhorou) e os evangélicos (33% veem melhora).
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