DEU EM A GAZETA
Combustível mais caro tira 5 mil carros das ruas
Altas acumuladas de 31,9% na gasolina e de até 44,8% no etanol nas últimas 4 semanas em Mato Grosso impuseram mudanças na rotina de quem tem carro próprio e precisa sair de casa todos os dias. Depois do reajuste mais recente de preços dos combustíveis derivados de petróleo pela Petrobras, no último dia 11, o tráfego na maior cidade do Estado diminuiu. É que parte da população tem deixado os automóveis mais tempo na garagem.
Nas principais vias da Capital em torno de 5 mil veículos deixaram de circular nos dias 14, 15 e 16 de março, datas correspondentes à segunda, terça e quarta-feira. Nos mesmos dias da semana anterior à majoração dos combustíveis pela Petrobras, ou seja, nas datas de 7, 8 e 9 de março, o fluxo de veículos havia sido maior, conforme levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) de Cuiabá, a pedido do Jornal A Gazeta.
Servidora pública, Nathalia Teixeira Lima, 33, é um dos muitos exemplos de pessoas que abriram mão de usar o automóvel particular todo dia para diminuir gastos. Reduzi ainda mais o uso do carro próprio por conta do aumento do combustível, confirma ela, que tem se empenhado nisso há um ano. Como ela e o marido têm dois veículos, a intenção é se desfazer de um deles e ficar com apenas um para atender a família. Venho reduzindo o uso do carro para testar se conseguiremos encaixar a mudança na rotina. Até agora está dando certo. Como trabalho mais em casa (home office), não há tanta necessidade de ter um carro extra. Até por ser um bem que só causa gastos com manutenção, impostos e desvalorização com o passar dos anos, destaca.
Atualmente, ela e o marido optam por usar carro próprio nos fins de semana, para compras ou passeios em família.
Quando precisa trabalhar presencialmente, Nathalia recorre ao transporte privado por aplicativo. Trabalho perto de casa, numa região em que há muita disponibilidade, então compensa. Não espero tanto e sai num preço bom. Com o bônus de não precisar pagar estacionamento ou estacionar na rua, correndo risco, diz. Acrescenta que se fosse solteira, sem filhos, não teria carro.
Esta escolha foi feita pela empreendedora e jornalista Janaína Gahyva, 43. Após um incidente com o veículo, resolveu vender o automóvel, sem substituí-lo. A decisão foi tomada em junho de 2020, em plena pandemia, quando a circulação das pessoas estava restrita por conta da escalada do contágio por covid-19. Como estava mais tempo em casa (home office), podia esperar para ter um novo carro, afirma. E a disponibilidade de transporte privado por aplicativo supria a necessidade eventual de locomoção, explica.
Com a elevação dos preços dos combustíveis, porém, o atendimento por parte dos aplicativos de transporte ficou mais demorado e as corridas também estão mais caras, complementa Janaína. Para conseguir ser pontual nos compromissos, ela precisa se programar com antecedência em relação ao transporte. Situação que a leva a cogitar ter novamente um veículo. Penso nisso em alguns momentos, mas o carro também está muito caro. Subiu demais.
Apesar de algumas desvantagens de não ter um carro próprio, os benefícios no momento prevalecem, considera. É indiscutivelmente muito mais barato. Eu gastava em torno de R$ 2 mil (mensalmente) com meu carro, que já era quitado, lembra. Despesas com combustível, seguro, impostos - IPVA, licenciamento obrigatório, eventuais multas ou reparos pesavam no bolso. Hoje gasto em torno de R$ 600 por mês. Já gastei menos, mas as tarifas (cobradas pelos aplicativos de transporte de passageiros) subiram bastante e por conta dos cancelamentos de corridas tenho escolhido a opção mais cara (de transporte), em que o cancelamento é menor, expõe.
Quando tem mais compromissos ou precisa sair da cidade, Janaína aluga carro. Manter esta decisão, de não ter carro próprio, é mais fácil porque não tenho filhos. Penso que depende do estilo de vida. Hoje tem algumas coisas que deixo de fazer ou faço com menos frequência, finaliza.
Presidente do Sindicato dos Motoristas de Aplicativo (Sindmapp), Solange Menacho considera que pelo encarecimento dos combustíveis é mais viável abdicar do carro próprio e contratar os serviços do transporte coletivo privado. A alta dos preços do etanol e da gasolina afeta também a rotina dos motoristas de transporte por aplicativo. Cada vez mais vai diminuir a frota porque alguns pagam aluguel de carro e não conseguem manter. A manutenção (do veículo) também não está barata, além do combustível altíssimo. E os valores das corridas pelo aplicativo não suprem nem mesmo o combustível, desabafa.
Em Cuiabá, antes e depois do último reajuste de preços pela Petrobras, a quantidade de veículos que passaram em 3 dias pelas 5 principais avenidas da Capital mato-grossense diminuiu de 526.698 para 521.734, redução de 4.964 veículos ou 0,94%, detalha a Semob. Foi quantificado o tráfego nestes períodos nas avenidas Fernando Corrêa da Costa, Arquimedes Pereira Lima, Historiador Rubens de Mendonça, Miguel Sutil e Avenida das Torres.
Na quinta-feira, 24, o preço do etanol foi novamente majorado nos postos de combustíveis de Mato Grosso. Em alguns estabelecimentos no interior do Estado o biocombustível custa atualmente até R$ 5,75 o litro. Há 30 dias, era repassado para o consumidor final pelo mínimo de R$ 3,97 (l), segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP). Neste intervalo, o produto acumula alta de até 44,8% ou R$ 1,78 por litro.
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