Rejeitado até no MDB, Emanuel Pinheiro esperneia pelo Paiaguás A base eleitoral do prefeito não vai além do perímetro entre o Trevo do Lagarto e o Coxipó
O prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), em meio a um mar revolto de problemas, mantém o sonho de ser governador de Mato Grosso.
Emanuel administra bem o esqueleto do paletó que roubaria o sono de qualquer outro político, mas que não o abala.
Aquele escândalo em que ele deixa cair do bolso do paletó um maço de dinheiro recebido a sós de Sílvio Corrêa, então chefe de gabinete do à época governador Silval Barbosa, ganha contornos de volatilização cinco anos após ser exibido nacionalmente pelo programa Fantástico, da Rede Globo.
O mar revolto de problemas tem duas marés: uma é a falta de lideranças para formação de grupo com vistas ao Palácio Paiaguás, uma vez que caciques e imediatos já se dividiram em sua maioria entre Mauro Mendes (UB) e Carlos Fávaro (PSD).
Outra é a mão de ferro do cacique Carlos Bezerra, que dá as cartas no MDB.
Resumindo: o deputado federal Bezerra não sai do partido, mas o leva por estranhos caminhos.
E Emanuel sabe muito bem que isso pode significar a rejeição de sua candidatura pela convenção partidária, tal qual aconteceu em escala menor com o ex-juiz federal Julier Sebastião da Silva.
Emanuel costura com o olho no posicionamento de Bezerra, à espera de um afago do cacique, que faz mistério, limitando-se a dizer que Emanuel e a deputada estadual Janaína Riva são "bons nomes ao Governo", mas nada além disso.
Tem outro olho no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que julgará um recurso do Ministério Público, pedindo seu afastamento da Prefeitura da Capital, como ocorreu recentemente.
Caso a decisão do STJ não ocorra antes de 2 de abril, Emanuel será salvo pelo gongo, pois, a partir daquela data, com ele sem mandato para disputar eleição, não haveria fundamentação para o julgamento.
Porém, se o caso for submetido aos ministros e esses acolherem a manifestação do Ministério Público, seria um duro golpe em suas pretensões.
Mesmo pisando em brasas, sem perder a serenidade, o prefeito de Cuiabá sabe que, em caso de afastamento, todos os olhares de Mato Grosso estarão voltados para ele.
Ao contrário do que aconteceu em 2020, quando se reelegeu em segundo turno, mesmo sob fogo cerrado em Cuiabá, por conta do episódio do paletó, mas sem pressão estadual, pois naquele pleito as atenções do eleitorado se voltavam para as disputas em suas cidades, o que foi um bálsamo para ele, que soube bem alinhavar apoio de 10 partidos, do movimento comunitário e da esfera sindical.
Com poucos nomes, correndo atrás do empresário Francis Maris, o tucano que foi prefeito de Cáceres; de Roberto Dorner (Republicanos), que administra Sinop; e de Zé Carlos do Pátio (trocou o SD pelo PSB, neste domingo, dia 27)), prefeito reeleito de Rondonópolis, Emanuel ouviu três vezes a palavra não, em três das quatro maiores cidades mato-grossenses.
E ele não foi à quarta cidade, que, na verdade, tem o segundo maior eleitorado, Várzea Grande, pois o prefeito Kalil Baracat (MDB), embora seja seu correligionário, reza pela cartilha de Jayme Campos (UB), marido da ex-prefeita Lucimar Campos,que deverá figurar na chapa de Fávaro.
A movimentação de Emanuel não pode ser rotulada de grupo do "eu sozinho", mas ele, aparentemente, tem muita dificuldade em conquistar apoio de lideranças
E esse apoio fica ainda mais complicado porque o prefeito sequer tem definição quanto ao partido pelo qual poderá concorrer.
A base eleitoral de Emanuel não vai além do perímetro compreendido entre o Trevo do Lagarto e o Coxipó, que é a região metropolitana.
Na Câmara Municipal, sua sustentação é grande e fiel quando se trata de instalação ou funcionamento de CPI, mas, na hora do voto, a mosca azul leva muitos vereadores à candidatura em busca de cadeira à Assembleia e, até mesmo, no Congresso.
Com o leque de partidos que compõem a Câmara Municipal, Emanuel perde apoio, pois vereadores terão que acompanhar as decisões de seus diretórios, no apoio ou a Mauro Mendes ou a Fávaro, além, é claro, de eventuais outros nomes que surjam ao Governo.
Emanuel sabe de tudo isso e muito mais. Inclusive, que seu projeto ao Governo pode prejudicar ou, até mesmo, afastar seu filho, Emanuel Pinheiro Neto (PTB), da disputa por novo mandato de deputado federal.
Porém, nada disso o abala, pois sua têmpera absorve bem todos os percalços.
O problema fica para após a votação, quando a abertura eletrônica das urnas tira o sonho e os pesadelos dos políticos, dando-lhe a frieza do resultado.
Sobre ele, certa vez se disse que "não é fácil traçar o perfil de Emanuel Pinheiro. Ele é o típico cidadão que se subir ao cadafalso e, se o carrasco lhe der um minuto para suas últimas palavras, os dois trocarão de lugar e, antes do último suspiro, o executor estará pensando que fez bom negócio".
É com essa decisão que o prefeito vai à luta, não importa por qual partido, nem quem esteja em seu palanque, pois, para ele, o que conta é o carrasco acreditar que levou vantagem.
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