BERÇO POLÍTICO
“Minha mãe deixou lacuna no Senado e eu gostaria de preenchê-la” Filha de Serys, médica é nome novo no cenário pré-eleitoral de MT e busca vaga em cargo disputado
Empresária e médica bem-sucedida, Natasha Slhessarenko decidiu se enveredar pela carreira política em 2022. Para tanto, se filiou ao PSB e anunciou pré-candidatura ao Senado.
Por meio de sua mãe, a ex-senadora Serys Slhessarenco, a médica teve os primeiros contatos com a vida pública. Natasha explicou que um dos motivos por escolher ingressar na política foi o argumento de que sua mãe havia deixado “uma lacuna” na política de Mato Grosso. Serys foi a primeira e única mulher do Estado a completar um mandato no Senado Federal.
“Muitas pessoas que chegavam para mim querendo que eu saísse como candidata, diziam: ‘Sua mãe deixou uma lacuna que há 10 anos não é preenchida’. Então, eu gostaria de preencher essa lacuna e fazer muito mais”, afirmou.
Ao MidiaNews, a médica evitou se posicionar sobre possíveis apoios aos pré-candidatos a presidência da República Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Falou sobre vacinação, pré-campanha eleitoral, defesas e pautas políticas e também sobre sua vida como filha de uma agente política.
Natasha Slhessarenko - Nasci em um berço político e isso sempre me aconselhou durante a vida. Há alguns anos, me tornei conselheira federal no Conselho Federal de Medicina para representar os médicos de Mato Grosso. E, aí, pude estar próxima da legislação, porque um dos pilares do CFM é fazer legislação para o exercício ético da medicina. E a gente faz muita interface tanto com o Senado quanto com a Câmara.
Aliados a isso, amigos e amigas, colegas médicos, vieram conversar comigo sobre a possibilidade de ser candidata. Eu comecei a refletir sobre isso, e conclui que consigo contribuir com a qualidade de vida das pessoas estando no centro político das decisões, especificamente no Senado Federal.
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"Nasci em um berço político e isso sempre me aconselhou durante a vida"
Com toda bagagem que adquiri com 32 anos de medicina e 54 anos de vida, tenho certeza que tenho condições de contribuir para a melhoria na qualidade de vida das pessoas. Não só na saúde, mas na educação, como professora que sou, e isso me credencia a estar no centro político das decisões.
E sinto que é possível, sim, a gente fazer política diferente desta posta há anos, que se repete. É preciso fazer com que as pessoas tenham esperança. Me apresento como uma pessoa que quer contribuir.
MidiaNews – Não tem receio, em função do jogo eleitoral pesado, que isso possa de alguma maneira arranhar a sua imagem?
Natasha Slhessarenko – Infelizmente, esse jogo sujo faz parte dessa política que a gente vive. Mas tenho uma vida aberta, não tenho nada a esconder de ninguém. Eu nunca fui política. Sou empresária, médica, professora e mulher e estou aqui para enfrentar isso.
Esse tipo de coisa faz com que muita gente boa deixe de entrar na política. Não tenho medo e como diz Guimarães Rosa: “O que a vida quer da gente é coragem”. E eu não tenho nada a perder, só quero contribuir.
Política não é carreira, nem negócio. Política é dom e ciência em favor de fazer o bem pros outros.
MidiaNews - A senhora vai enfrentar candidatos considerados fortes, como Wellington Fagundes, que atua há mais de 30 anos no Congresso e tem apoio do presidente Jair Bolsonaro, e Neri Geller com apoio do agronegócio. Além disso, a campanha para Senado é considerada caríssima, com informações de bastidores de nomes que chegam a gastar R$ 40 milhões. Acha que tem chances diante desse quadro?
Natasha Slhessarenko – Sim. Até porque estamos aqui para fazer uma política diferente dessa que está posta e eu não tenho medo. Quero colocar a minha verdade, quero ser autêntica com o eleitor. E depende do povo, o povo é quem decide. Se quer ficar com quem já está aí...
O Datafolha fez uma pesquisa que mostra que apenas 0,5% da população confia nos políticos. Enquanto, o médico é a profissão que a população mais confia. Não me lembro a última vez que tivemos um senador da Saúde, que represente os interesses e pautas da Saúde, ainda mais saindo de uma pandemia.
E eu não estou aqui para disputar quem tem mais dinheiro. Infelizmente, a política no Brasil é a política mais cara do mundo. Essa questão do fundo eleitoral, partidário, das emendas secretas.. Um país onde gente morre de fome, enquanto se gasta R$ 40 milhões em uma campanha... Isso é vergonha.
Não estou aqui para fazer esse tipo de política. Estou aqui para fazer uma política nova, diferente. E é possível, desde que o eleitor entenda a minha verdade, que estou aqui como opção para o voto. Não quero ser senadora de um grupo ou para defender interesses pessoais. Quero ser senadora de todos os mato-grossenses e brasileiros.
MidiaNews - Com quais recursos espera fazer a campanha? Quanto o partido já disponibilizou e quanto espera arrecadar?
Natasha Slhessarenko – Isso ainda esta em conversa, mas do ponto licito existe um teto a se gastar e é ele que irei gastar. Farei o que está na legislação eleitoral.
Quando se fala em R$ 40 milhões, e o teto da legislação não chega a R$ 3 milhões. Como se gasta três vezes mais? O político tem que dar exemplo de idoneidade, de integridade, ética e decência. E isso começa na eleição. Se há alguém que foi eleito com 10 vezes mais daquilo que se pode gastar, depois vai querer de volta esse dinheiro. Quem gasta R$ 40 milhões, depois terá que pagar para alguém. Como isso funciona?
É importante que o povo comece a fazer esse tipo de raciocínio. Ninguém vai gastar essa fortuna toda para fazer uma boa política.
MidiaNews - A senhora tem se colocado até agora um pouco mais a direita no espectro político, mas a sua mãe, Serys Slhessarenko, sempre esteve mais a esquerda. A senhora acabou se filiando ao Partido Socialista Brasileiro, o PSB. Com qual das correntes se identifica mais?
Natasha Slhessarenko – Em um país onde se tem mais de 30 siglas partidárias, é muito difícil se falar em ideologia. Eu tenho os princípios da justiça social, igualdade social, da equidade de gênero, da não discriminação e isso está completamente alinhado com o PSB.
MidiaNews – Mas a senhora chegou a ser convidada por diversas siglas. Por que a escolha do PSB?
Natasha Slhessarenko – Conversei com várias siglas e acabei me decidindo pelo PSB por uma série de coisas, dentre elas a questão da identidade ideológica. É um partido de Ariano Suassuna, de Eduardo Campos e o José do Pátio [prefeito de Rondonópolis]. Então, temos nomes da política que realmente fizeram muito pelo nosso país. Estou muito satisfeita no PSB. Fui acolhida pelo [deputado estadual] Max Russi, que é um presidente que está me dando toda a força.
MidiaNews – A senhor citou o prefeito José Carlos do Pátio, ele encabeça uma frente pró-Lula em Mato Grosso. As pesquisas eleitorais mostram uma eleição presidencial polarizada entre Bolsonaro e Lula. Neste cenário, a senhora está de qual lado?
Natasha Slhessarenko – O Lula ainda nem registrou a sua pré-candidatura. Agora, sou do partido do ex-governador Geraldo Alckmin, que é médico também, já tive a oportunidade de estar com ele.
A gente precisava parar de discutir direita, esquerda, Bolsonaro e Lula e pensar em andar para frente, fazer política pensando no Brasil e não para ganhar eleição. A gente precisa pensar na política para fazer um país melhor. Temos mais de 660 mil mortos pela Covid-19. O Brasil precisa de cuidados. Eu tenho a impressão de que o Brasil é um país doente e que está na UTI.
Não tenho interesse nenhum de entrar na política para fazer carreira, porque tenho a minha e sou completamente realizada. Nós temos um país maravilhoso com povo extraordinário, mas precisamos fazer coisas urgentes e uma delas é renovar a política brasileira. Precisamos retomar a esperança do povo brasileiro.
MidiaNews - Acha que as mulheres são bem representadas no Congresso Nacional?
Natasha Slhessarenko - Não estamos, não. As mulheres representam 16% dos agentes políticos no Brasil. Na Câmara dos Deputados, são 513 cadeiras, e 77 mulheres. No Senado, 81 senadores e apenas 12 mulheres. Como que a gente se sente representada com essa porcentagem? A minha mãe foi a única senadora mulher até hoje em Mato Grosso. Teve a senadora Selma Arruda, que foi cassada.
Como as nossas dores vão ser sentidas por homens? Os homens não passa por aquilo que a gente passa. Nós somos 53% da população brasileira e não temos essa representação política. Além de ser 53% da população, e não temos essa representação política. Além de ser maioria, somos mães, tias, avós, dos 47% restantes. É importante levar essa energia que gera a vida e alimenta que a energia da mulher. E grande parte dos lares brasileiros são comandados por mulheres.
MidiaNews – O papel da sua mãe te influenciou na decisão para concorrer como pré-candidata?
Natasha Slhessarenko – Minha mãe sempre me inspirou muito. Tenho muitas inspirações, mas ela é uma das grandes inspirações. Eu me sentiria extremamente honrada de continuar o legado dela.
Muitas pessoas que chegavam para mim querendo que eu saísse como candidata, diziam: “Sua mãe deixou uma lacuna que há 10 anos não é preenchida”. Então, gostaria de preencher essa lacuna e fazer muito mais. Há quem diga que a criatura é melhor que o criador, não é? Essa é a lei natural da evolução das espécies.
MidiaNews – E sobre a pré-candidatura ao Senado, foi uma conversa com a sua mãe ou foi uma escolha feita junto ao partido?
Natasha Slhessarenko – Isso é um projeto que está sendo construído há várias mãos e ao longo dos anos. E a minha mãe nunca interferiu na minha vida, sempre foi dada muita liberdade. Tanto é que meu pai é economista, advogado e militar, minha mãe é pedagoga e advogada. Meus irmãos são médicos, advogado, engenheiro civil e psicóloga. Então, seguimos diferentes áreas.
MidiaNews - Com que idade tinha quando sua mãe entrou na política? Como foi sua juventude tendo sua mãe na política, como vereadora, entre outros cargos?
Natasha Slhessarenko – Sou a mais velha de quatro filhos. A minha mãe sempre trabalhou fora e eu sempre a ajudei. Me senti mãe dos meus irmãos por isso. Meu pai era do exército, chegou a dar aula de matemática particular em casa. Então, o exemplo que todos tivemos é de meu pai e minha mãe trabalhando muito.
Minha mãe começou na vida política como secretária de Educação, quando Dante foi prefeito de Cuiabá, e eu tinha 16 anos e estava me preparando para o vestibular. Eu já queria fazer medicina e só estudava.
MidiaNews - A sua mãe foi autora de uma lei que tipifica o crime organizado e estabelece normas para a delação premiada. O que acha dessa lei? Acha que a delação premiada hoje está banalizada?
Natasha Slhessarenko – A minha mãe conta que queria deixar um legado para o Brasil e fez a lei do crime organizado e a colaboração premiada é uma parte dessa lei. Infelizmente, a lei da colaboração premiada está sendo desvirtuada. Ela é perfeita se usada em critérios técnicos, mas, infelizmente, ela sofreu uma banalização e muitas vezes foi usada com critérios políticos. Aí, a lei perde sua consistência.
MidiaNews – A legislação pode ser aprimorada?
Natasha Slhessarenko – Não é a lei, é o uso da lei. São as pessoas que usam a lei e devem usá-las sob critérios técnicos e não políticos.
MidiaNews - No Senado, em caso eleita, qual será seu foco de trabalho? Será na Saúde, a mulher, a educação?
Natasha Slhessarenko – Tenho algumas bandeiras. Como médica, não tem como não defender essa bandeira. E o primeiro é o investimento no SUS, que é maravilhoso, com princípios da universalidade, equidade, da integralidade, mas precisa de uma melhor gestão, de melhor dinheiro, de contratação emergencial. É necessário fazer um plano de carreira aos profissionais do SUS.
Na questão da educação, a primeira infância tem que receber toda atenção por parte da União, Estado e municípios. Porque se não faltar amor e comida, essa criança será um adulto saudável. A escola precisa ser um espaço democrático e a comunidade escolar precisa se sentir protagonista da educação.
Há também a bandeira da mulher. Estamos falando tanto da representatividade feminina. Tem a bandeira do meio ambiente, temos um Estado que tem três biomas: cerrado, pantanal e amazônia. Como não ser a favor de políticas de sustentabilidade para o nosso Estado?
MidiaNews - A senhora, como médica, sempre se posicionou favorável à vacinação contra a Covid-19. Em um entrevista ao MidiaNews, chegou a criticar o presidente Bolsonaro pelo posicionamento negacionista. Será oposição ao Governo nessas eleições?
Natasha Slhessarenko – Não vou ser oposição. Quero um Brasil melhor, quero um Brasil que faça política para quem mais precisa de política. E não um Brasil que pensa em eleição o tempo todo.
Bolsonaro tem coisas boas? Tem. Tem coisas ruins? Tem. E eu vou estar lá para defender os interesses do meu Estado e do meu País, independe de ser bandeira de um ou outro. Isso precisa parar no Brasil.
E eu vou ter um gabinete como minha mãe teve: sem cor partidária. Eu quero continuar fazendo a política como ela fez.
MidiaNews - Com relação a pandemia, com os números da vacinação, com mais de 80% já com duas doses, é possível dizer que o Brasil venceu o negacionismo?
Natasha Slhessarenko – Se tivéssemos vencido, estaríamos com quase 100% das pessoas vacinadas. O que temos é uma cultura, que é o PNI que vai fazer 50 anos no ano que vem, que é o maior programa de imunizações do mundo.
Nós temos que parar de questionar o valor das vacinas, que junto com o saneamento básico, revolucionaram a Saúde no Brasil e no mundo. São os instrumentos que fizeram a Saúde sair de onde saiu e hoje entrassem em outro patamar.
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