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Cidades/Geral
Quarta - 25 de Maio de 2022 às 10:23
Por: Joanice de Deus/Diário de Cuiabá

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A precarização na área da assistência da saúde mental é vista como uma política de Governo, nos moldes do “passando a boiada”
A precarização na área da assistência da saúde mental é vista como uma política de Governo, nos moldes do “passando a boiada”

Familiares e pessoas que sofrem com transtornos mentais lutam para garantir tratamento e atendimento digno, nos municípios em Mato Grosso.

A precarização na área da assistência da saúde mental é vista como uma política de Governo, nos moldes do “passando a boiada”, com sucateamento da rede serviços, fechamento de ambulatórios, a falta de medicamentos e déficit de profissionais que possam garantir a assistência adequada aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

A denúncia foi feita durante audiência pública realizada na Assembleia Legislativa.

“Estão fechando os ambulatórios, o único é o do CEM, onde estou sendo assistido. Mas, tem muita gente que não vem sendo assistida, têm muitas famílias sofrendo sem assistência psicológica, sem psiquiatria. Falta até medicação, não tem uma dipirona. O sofrimento da gente é muito grande. Não tem assistência nem da saúde municipal ou estadual”, afirmou Antônio Pereira Ramos Filho, paciente do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), em Cuiabá.

Como exemplo, Antônio Ramos cita o caso de uma paciente que precisa de atenção diuturnamente, caso contrário chega a sair para rua sem roupa.

“A mãe não dorme cuidando dela 24 horas”, disse.

“Tem paciente sem medicação há mais de oitos meses, não tem psiquiátrica para ele. Eu não sei que saúde pública é essa”, lamentou.

Segundo ele, entre os serviços ambulatoriais fechados estão o do Verdão e do Planalto.

“Da Policlínica do Planalto mandaram a gente lá para o Coxipó, sem saber se temos dinheiro para ir para lá, se tem vale transporte e, depois, socaram a gente lá no CEM, onde você sua para esperar a hora de ser atendido”, criticou, contando que, para manter a medicação, tem gasto cerca de R$ 400,00 por mês.

Conforme a farmacêutica do Ciaps Adauto Botelho, Josivane Araújo, as consequências com a interrupção do tratamento podem trazer prejuízos aos pacientes.

“O medicamento é um pilar dentro do atendimento da saúde mental e, com as falhas, teremos consequências lá onde trabalho, que é o Adauto Botelho, por que vai haver mais internações e num surto psicótico a gente nem sabe o que pode acontecer”, alertou.

Ela explicou que o fornecimento dos remédios é uma atribuição tripartite, ou seja, uma responsabilidade da União, Governo do Estado e municípios.

Já a professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Larissa Rezio, afirma que a luta antimanicomial está mais viva do que nunca atualmente.

“A boiada está sendo passada em todos os âmbitos e está passando e, muito, na saúde mental que está sendo sucateada para justificar o fechamento (de unidades). Essa é a política desse governo. É uma política de morte”, afirmou.

Ela fez referência ao termo usado pelo ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de que era preciso "aproveitar" a pandemia do coronavírus para "ir passando a boiada" de desregulamentações na área ambiental.

“Se a gente está num estado de precarização do trabalho, o servidor adoece, ele não quer ficar”, completou.

O abandono do setor é reforçado pela representante do Capsi Infanto-Juvenil, Ana Paula Carnaíba.

“Ao longo dos últimos anos estamos percebendo um descaso por parte dos governos federal e estadual, principalmente, no que diz respeito ao número de pessoas trabalhando lá. O Capsi trabalha com crianças e adolescentes com transtornos mentais severos, com espectro autista e são situações em que a pessoa precisa ser atendida olhando não só a doença, mas precisa olhar essa criança, a família. A gente olha desde a escola, contexto onde mora, social-econômico, tudo isso faz parte de um tratamento saudável e não temos equipe”, disse.

“A gente está sem equipe”, completou.

A presidente do Sindicato dos Servidores da Saúde de Mato Grosso, Carmem Machado, corrobora sobre a falta de profissionais.

“O único Capsi Infantil conta com apenas quatro profissionais, então imagine se é possível fazer um atendimento humanizado e de excelência à população”, disse.

Representante da Secretaria de Estado de Saúde, Maria Aparecida Milhomem informou que o Estado tem algumas ações para garantir atendimento e minimizar os problemas, como a manutenção do curso de residência médica de psiquiatria, realização de cursos de especialização em saúde mental e psicossocial e cofinanciamento de serviços como os Caps.

Atualmente, segundo ela, são 43 centros no Estado.

“Está precisando de uma revisão, o que está sendo feito dentro da Secretaria de Estado de Saúde para modificar isso”, comentou.

A audiência foi requerida pelo deputado estadual e médico sanitarista Lúdio Cabral (PT) e marca a Semana da Luta Antimanicomial.

Entre as medidas que devem ser propostas estão a ampliação de recursos para a área da saúde mental e a realização de concurso público, entre outros.

“Não é com manicômios, com hospitais psiquiátricos, com internação, que vamos resolver o atendimento à saúde mental. Em algumas situações, há necessidade do hospital, mas toda a rede precisa ser organizada e ter estrutura para atender aos pacientes. O Estado não tem fornecido nem medicamentos, que é o básico. O paciente precisa dos medicamentos regularmente para se cuidar em casa e controlar surtos. Há um esforço enorme de profissionais de saúde e experiências positivas. Mas, como política pública, ainda há muita carência na assistência à saúde mental”, disse.





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