Facções estão recrutando menores como 'soldados', diz procurador Paulo Prado diz que organizações criminosas, como o PCC e o CV, aliciam mais meninos e meninas para o crime
Mensagens escritas nas portas dos banheiros das escolas ou espalhadas em redes sociais, anunciando massacres, têm causado pânico e aterrorizado pais e trabalhadores da Eucação de unidades, localizadas em Mato Grosso.
Além dos avisos de supostos ataques, casos de agressões e brigas envolvendo alunos têm sido registrados no entorno dos estabelecimentos de ensino.
Um dos casos foi registrado no último dia 23, quando uma briga em frente à Escola Estadual Rodolfo Augusto T. Curvo, no Residencial Paiaguás, em Cuiabá, terminou com uma das alunas envolvidas com nariz fraturado.
Na quarta-feira (25), a Polícia Militar foi acionada, por volta das 13 horas, para atender uma ocorrência na Escola Estadual Juarez Rodrigues, que fica no bairro Santa Laura, na Capital.
De acordo com a Polícia, um áudio em que uma pessoa, até então não identificada, ameaçava matar “todo mundo” na unidade, foi compartilhado por meio do aplicativo WhatsApp.
Com a circulação da gravação, alunos e professores entraram em pânico.
Os policiais foram até o estabelecimento, onde foi feita uma varredura, mas nada de irregular foi encontrado.
Antes, no último dia 24 deste mês, ocorrência semelhante foi registrada na Escola Estadual Welson Mesquita, no bairro Pascoal Ramos.
Por conta da situação, alunos, professores e funcionários chegaram a se trancar no interior da unidade, até a chegada da PM.
A Polícia Civil investiga os casos. O Ministério Público do Estado (MP-MT) afirma que acompanha o problema.
De acordo com o procurador de Justiça da Procuradoria Especializada em Defesa da Criança e do Adolescente, Paulo Roberto Jorge do Prado, a área de inteligência do MP vem dialogando sobre a situação com as áreas de inteligência da PM e da PC.
“O que está preocupando é que as facções criminosas, o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho, estão recrutando muitas meninas, muitos meninos”, disse o procurador, em entrevista à TVCA.
“Nós precisamos atacar essas facções, atacar esses grupos criminosos que querem recrutar meninos e meninas para fazer parte, como soldados, do seu segmento criminoso”, completou.
Prado disse que não poderia dar detalhes das estratégias que vêm sendo estudadas para o enfrentamento da problemática, e reforçou que a temática estará em debate no 1º Encontro Estadual de Enfrentamento à Violência Contra Crianças e Adolescentes, aberto na quinta-feira à noite.
Promovido pelo MP-MT, o evento é realizado em parceria com o Poder Judiciário, Secretaria de Estado de Educação (Seduc), PJC e PM, além de contar com a participação de membros da rede de proteção e integrantes da sociedade civil.
Entre as reflexões a serem feitas no encontro, é por que a violência aumentou.
“Nós estamos levantando algo que é preocupante, que é o fato de aproximadamente 60 a 70 mil crianças, em todo Estado de Mato Grosso, tanto das escolas municipais como estaduais, não retornaram à sala de aula. Por que não retornaram? E as que voltaram como retornaram?”, citou.
“Elas ficaram dois anos na pandemia muito próximas do agressor, que, geralmente, é alguém próximo, é um tio, padrasto, avô, pai ou irmão mais velho. E onde ela passa boa parte de sua vida é na escola, é onde ela vai extrapolar, desabafar e mostrar toda a violência que sofreu. É onde ela vai reproduzir essa agressão que sofreu”, acrescentou.
Como estratégia, Prado propõe o fortalecimento da rede de prevenção.
“Nós temos que implementar nas escolas em todo o Estado de Mato Grosso o fortalecimento da rede de proteção e atendimento, tanto para quando o adolescente é o agressor ou para quando ele é a vítima”, apontou.
Uma das linhas de investigação da Polícia é a prática dos desafios que circulam nas redes sociais.
Mas isso vem sendo apurado pela Delegacia Especializada do Adolescente e do Direito da Criança e do Adolescente (Deddica).
Já a Seduc informou, recentemente, que o Núcleo de Mediação realiza palestras de orientação e dinâmicas com os estudantes e professores como forma de orientação e prevenção.
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