Em MT, mais de 63% das famílias vivem a insegurança alimentar No Estado, estudo revela que 631 mil de pessoas moram em domicílios com privação no consumo de alimentos e fome
Em Mato Grosso, 63,2% da população vivem com algum grau de insegurança alimentar, que ocorre quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente a alimentos.
Em números absolutos, são 2.254 milhões de habitantes que, entre 2021 e, neste ano, não tinham a certeza se teriam o que comer no futuro próximo, limitando a qualidade ou quantidade de alimentos para as refeições diárias no Estado, rico na produção do agronegócio.
Do total, 35% (1.109 mi) enfrentam insegurança alimentar considerada leve, 14,4% (514 mil) moderada e 17,7% (631 mil) grave.
Somente 36,8% (1.313 milhões) vivem em domicílios que têm a garantia de acesso a alimentos ou vivem em segurança alimentar, no território mato-grossense.
O cenário é revelado pelo 2º Inquérito Nacional Sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 (Vigisan) da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan), divulgado na quarta-feira (14).
As análises abrangem uma amostra de 12.745 domicílios localizados em 577 municípios de áreas urbanas e rurais, distribuídos nas cinco macrorregiões brasileiras e contemplando os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal.
A coleta de dados ocorreu entre novembro de 2021 e abril de 2022.
Em nível nacional, o relatório aponta que, em 2021/2022, 125,2 milhões de brasileiros não tinham certeza se teriam o que comer no futuro próximo, um aumento de 7,2% em relação a 2020.
“Se compararmos com dados de 2018 (última estimativa nacional antes da pandemia de Covid-19), quando a insegurança alimentar atingia 36,7% dos lares brasileiros, o aumento chega a 60%”, diz.
A maior proporção está nas regiões norte e nordeste do país.
Alagoas é o Estado em que os casos de insegurança alimentar grave são mais frequentes, atingindo 36,7% das famílias pesquisadas.
Depois, vem o Amapá, com 32% dos domicílios nessa situação.
Na sequência, estão Pará e Sergipe, ambos com 30% da população atingida.
Além do grande número de atingidos pela fome, os pesquisadores constataram que o problema se agravou após a pandemia, com queda na renda das famílias e aumento do custo de vida.
“A pandemia surge neste contexto de aumento da pobreza e da miséria e traz ainda mais desamparo e sofrimento. Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, aponta Ana Maria Segall, médica epidemiologista e pesquisadora da Rede Penssan.
Conforme o levantamento, as famílias com renda inferior a meio salário-mínimo por pessoa estão mais sujeitas à insegurança alimentar moderada e grave.
Em Mato Grosso, essa insegurança é verificada em 48,1% dos domicílios com esse perfil de renda.
A reportagem do DIÁRIO buscou um posicionamento da Secretaria de Estado de Assistência Social (Setasc) sobre o assunto, mas, até a edição desta matéria, não obteve um retorno.
Vale frisar que a insegurança alimentar leve ocorre quando há incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e/ou quando a qualidade da alimentação já está comprometida.
Na moderada, quando a quantidade de alimentos é insuficiente e a grave quando há privação no consumo de alimentos e fome.
FILA DOS OSSINHOS – O drama da falta de alimentos na mesa de moradores da região Metropolitana, especialmente, de Cuiabá, é reforçado pela extensa fila de pessoas esperando pela doação de um pacote de osso em mercado de carnes, no bairro CPA II, em Cuiabá.
As cenas viralizarem nas redes sociais e ganharam repercussão nacional no ano passado.
Na ocasião, as pessoas, principalmente mulheres e idosos, presentes na fila relatavam que esta era a única maneira de sentir da carne e de dar um pouco mais de sustância às refeições.
Também as secretarias de Assistência Social do Estado e da Prefeitura da Capital promoveram algumas ações como cadastramento das famílias para o recebimento de benefícios de transferência de renda e entrega de cestas básicas com alimentos e itens de limpeza e higiene, além de cobertores.
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