Inflação de alimentos e preços administrados caminham em direções opostas
Os três meses de inflação negativa foram marcados pelo movimento oposto de alimentos e preços administrados pelo governo, que envolvem energia e combustíveis e planos de saúde, de acordo com informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Enquanto os valores dos itens monitorados apresentaram as duas maiores deflações da história nos meses de julho (-4,35%) e agosto (-2,55%), o grupo que analisa o comportamento de alimentos e bebidas desacelerou e só registrou uma taxa negativa em setembro (-0,51), a primeira desde novembro de 2021.
Patrícia Krause, economista da Coface para a América Latina, explica que o movimento é justificado pela redução das alíquotas do ICMS sobre gasolina e energia elétrica nos estados e pelo corte do PIS/Cofins sobre a gasolina e o etanol até o fim de 2022. O alívio sobre os itens de forte importância no cálculo do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deve ser sentido pelas famílias até o fim deste ano.
“O corte dos impostos ajudou com a forte queda do indicador nos últimos meses e permite uma projeção de deflação anual dos preços administrados. A parte de alimentos, depois de aparecer muito pressionada começa a sentir um alívio de preços, em linha com a melhora no valor das commodities [matérias-primas com cotação internacional]”, avalia a economista.
O corte de tributos foi também citado na última ata do Copom (Comitê de Política Monetária), que observa a inflação aos consumidores ainda elevada, movimento é visto como determinante para a manutenção da taxa básica de juros no maior nível dos últimos cinco anos.
“As divulgações recentes foram fortemente influenciadas pela redução de preços administrados, em função tanto da queda de impostos quanto, em menor medida, das quedas dos preços internacionais de combustíveis”, destaca a ata do Comitê.
Sobre a possibilidade de uma explosão dos preços administrados após o fim das isenções, como ocorreu em 2015 após a inflação de monitorados figurar por mais de dois anos abaixo da meta, Patrícia avalia que a alta esperada para os itens monitorados com o fim das isenções subirá a 9,4%.“A expectativa ainda é elevada, mas está distante de 18% [nível atingido em 2015]. A energia aparece como um fator importante ente os preços administrados e apresenta uma situação bem mais confortável. No mercado internacional, o preço do petróleo, embora continue alta, estão relativamente mais baixas do que no início do ano”, completa a economista.
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