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Terça - 10 de Janeiro de 2023 às 09:47
Por: Eduardo Gomes/Diário de Cuiabá

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Atos golpistas em Brasília, que marcaram a noite de domingo passado
Atos golpistas em Brasília, que marcaram a noite de domingo passado

Em dois momentos históricos da vida institucional brasileira, Mato Grosso invadiu o Palácio Paiaguás: em 1964 e no domingo (8).

O resultado da primeira foi a cristalização do regime militar que vigorou daquele ano até 1985.

A segunda ainda está envolta numa bruma enquanto inquéritos policiais e investigações tentam chegar à raiz do acontecimento que seria organizado e financiado pelo bolsonarismo radical.

O ato chocou o país e provocou reações internacionais contrárias àquele ato.

Em 1964 o mundo estava polarizado entre os Estados Unidos e a União Soviética, e boa parte dos brasileiros ainda não havia se recuperado do medo que sentiram dois anos antes com a crise dos mísseis em Cuba, que botava frente à frente os arsenais nucleares das duas potências.

Os americanos investiam pesado na América Latina temerosos que surgissem governos de esquerda, a exemplo de Havana, e tentavam por todos os meios derrubar os existentes, como era o caso do Brasil com Jango Goulart.

Para Washington, Jango precisava ser deposto e o ambiente político nacional era favorável a isso. Adhemar de Barros (SP), Magalhães Pinto (MG) e Carlos Lacerda (GB), os três governadores mais influentes queriam a queda de Jango.

Na caserna, o sentimento era golpista. A aristocracia rural, o novato parque industrial de São Paulo e a poderosa elite financeira da avenida Paulista pediam um golpe de estado, com todas as letras na Imprensa.

"Não à cubanização", gritavam os golpistas incentivados pelo embaixador americano Lincoln Gordon, com total retaguarda da CIA. Passeatas de mães por Deus, pátria e família tomavam as ruas. O cerco fechou sobre Jango quando o general Mourão Filho saiu de Juiz de Fora (MG) à frente de suas tropas para ocupar o Rio de Janeiro – então Capital República. Militares e civis, cada um na sua área, minaram o poder constituído, mas faltava o bote final, o xeque-mate e, esse foi reservado para o então 16º Batalhão de Caçadores de Cuiabá (16º BC).

Primeira invasão

Em 1964, Cuiabá com 58 mil habitantes era uma pequena cidade isolada no centro do continente. Uma estrada carroçável fazia sua ligação com Brasília via Rondonópolis, Jataí (GO) e Goiânia.

Comunicação somente por rádio em ondas tropicais ou pelos escassos jornais do Rio e São Paulo, trazidos por passageiros da Varig, Vasp, Transbrasil e Cruzeiro do Sul.

Nos grandes centros o Brasil fervilhava com o avanço dos militares sobre o Planalto Central, com apoio dos governadores Ademar de Barros (São Paulo), Magalhães Pinto (Minas) e Carlos Lacerda (Guanabara).

Os militares sufocavam o governo de esquerda do presidente Jango Goulart, mas faltava o bote certeiro para consolidação da tomada do poder e, isso aconteceu quando dezenas de mato-grossenses invadiram o Palácio do Planalto seguindo seu comandante, o coronel do Exército Meira Mattos.

A tropa que ocupou o Planalto era do 16º Batalhão de Caçadores (16º BC), de Cuiabá, que mais tarde seria rebatizado 44º Batalhão de Infantaria Motorizado.

General Meira Mattos

General Meira Mattos

Herói na tomada de Monte Castelo, pela Força Expedicionária Brasileira (FEB), Meira Mattos usou a experiência que conquistou nos campos de batalha na Itália para sair discretamente de Cuiabá, percorrer quase 1.200 quilômetros sem chamar atenção por onde passava, entrar em Brasília e dar o bote certeiro tomando o ambiente de trabalho de Jango, que pouco antes fugiu em busca de asilo no Uruguai.

Mais tarde, Meira Matos fecharia o Congresso Nacional.

Na carreira militar, Meira Mattos chegou a general de divisão. Comandou a Academia Militar de Agulhas Negas (Aman) e uma tropa brasileira numa missão de paz na República Dominicana, em 1965. Foi adido militar na Bolívia. Obteve o título de Doutor em Ciências Políticas na Universidade Mackenzie.

Foi considerado uma das maiores autoridades brasileiras na formulação de geopolítica. Escreveu livros, publicou artigos em jornais e revistas.

A esquerda brasileira não perdoa o general Meira Mattos e o crucifica por dois fatos que ela julga serem crimes imperdoáveis: a ocupação do Palácio do Planalto e a invasão do Congresso Nacional, em 1966, quando o mesmo foi fechado por ordem do presidente Castello Branco. Meira Mattos e Castelo Branco foram irmãos combatentes no teatro de guerra na Itália.

O presidente depositava total confiança nele – tanto que também lhe entregou a missão de invadir e fechar o Congresso Nacional.

Mato Grosso entrou no contexto da ditadura de 1964 com a tropa do 16º BC ocupando o Palácio do Planalto. Trata-se de um episódio pouco divulgado e que sequer consta da biografia do general Meira Mattos.

ELE – O general de divisão Carlos de Meira Mattos nasceu em 23 de julho de 1913, em São Carlos (SP). Morreu em 26 de janeiro de 2007 em São Paulo capital.

Segunda invasão


Sem apoio de governadores e de partidos políticos, militantes do bolsonarismo avançaram sobre a sede dos três poderes em Brasília, no domingo (8).

Ao contrário da reação favorável e imediata em 1964, os Estados Unidos condenaram a invasão e a depredação durante o ato. Europeus, latino-americanos, africanos e asiáticos repudiaram a ação. Organismos internacionais, idem. No Brasil, o Judiciário e o Legislativo se uniram ao governo federal, contra a tentativa de golpe e o vandalismo.

Dentre os que participaram, várias figuras mato-grossenses da arraia-miúda, que estavam acampadas defronte o Quartel General do Exército.

A Polícia Federal e a Polícia Civil do Distrito Federal apuram os fatos e passam a limpo os participantes presos em flagrantes, e dentre eles moradores em Mirassol D'Oeste, Cuiabá, Cáceres, Barra do Garças e outras cidades mato-grossenses.

Além de qualificá-los, as autoridades também querem chegar aos seus patrocinadores e ao conjunto social que os manteve acampados em Brasília por mais de dois meses.

O episódio de 1964 resultou numa ditadura que se arrastou por 21 anos, e que foi ferida de morte pela emenda das Diretas do deputado mato-grossense Dante de Oliveira.

Os fatos de agora, que estão no noticiário, na memória coletiva e que podem ser visto tanto pela movimentação com as prisões quanto pelos destroços deixados nos palácios, são investidas contra a democracia, atentados contra o patrimônio e ofensa ao povo brasileiro.

A participação de alguns milhares de brasileiros nos atos em Brasília não significa grande apoio popular perante uma população de 207 milhões de habitantes. Não se traduz no pensamento dos partidos de todos os matizes ideológicos. Não encontram eco na razoabilidade e na serenidade.

Podem ser vistos como reedição piorada da invasão do Palácio do Planalto em 1964 e sem força para instalar um regime de exceção ou até mesmo para abalar as estruturas democráticas consolidadas ao longo do tempo por aqueles que tanto sabem vencer quanto perder eleição, como é o caso do presidente Lula da Silva e fica claro que não é a postura do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, ao longo de quatro anos, governou criticando o Judiciário e dizendo ao povo que o sistema eleitoral não é confiável.





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