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Quinta - 12 de Janeiro de 2023 às 06:51
Por: Por Gabi Braz, TV Centro América

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A professora foi vítima de racismo por usar um turbante enquanto tentava tirar uma foto para renovar a CNH. — Foto: TVCA
A professora foi vítima de racismo por usar um turbante enquanto tentava tirar uma foto para renovar a CNH. — Foto: TVCA

A professora Keila Pereira da Silva, de 37 anos, alega ter sido vítima de racismo por ter cabelos crespos e estar usando um turbante quando tentava tirar a foto para renovar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em uma unidade do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá.

O órgão informou que portaria da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) não permite nenhum tipo de adereço que atrapalhe a identificação facial, tais como óculos de sol, boné, lenços, turbantes e afins, mas o caso foi encaminhado à Ouvidoria.

À TV Centro América, Keila, que atua na educação infantil do município e é pesquisadora do campo de relações étnico-raciais foi até a unidade do Jardim Modelo e, no local, a servidora responsável por tirar as fotos disse que ela só poderia ser fotografada se retirasse o turbante. Para ela, foi a primeira situação de constrangimento que enfrentaria no Detran.

Após ter retirado o adereço da cabeça, a professora ainda teve que repetir a foto diversas vezes, enquanto outras pessoas aguardavam na fila. Keila relata que, nesse momento, a servidora, que não foi identificada, repetia frases como “seu cabelo está muito alto”, “seu cabelo não está aparecendo na foto”, “não estou conseguindo tirar a foto por causa do seu cabelo”, “não estou conseguindo fazer o enquadramento porque seu cabelo é muito alto.”

Keila ainda perguntou à atendente se ela entendia que aquela situação era racismo. A mulher riu, segundo a professora, que registrou boletim de ocorrência sobre o ocorrido.

“Foi como se eu estivesse atrapalhando quem estava ali para ser atendido. Foi uma situação muito vexatória. Como se eu tivesse alguma culpa por ter cabelo crespo e alto. Senti na pele as consequências do racismo estrutural. Isso precisa mudar”, desabafou.

A resistência que vem da dor

Keila explicou que, tanto o turbante quanto o próprio formato do cabelo fazem parte da identidade dela, da ancestralidade e da cultura da qual pertencente.

"Eu sinto dor? Sinto. Dói na alma? Dói. Mas eu preciso lutar, porque, antes de mim, vieram outros que lutaram pra mim chegar até aqui. Eu preciso lutar hoje para que outros que virão depois de mim tenham mais condições de viver do que eu tive. A gente teve muita evolução, mas a gente precisa evoluir mais ainda", disse.


O objetivo agora, segundo ela, é transformar a situação em luta para que outras pessoas negras possam, no futuro, se verem livres de olhares, momentos e crimes.

"Quero falar para as mulheres negras, para os povos negros que se vocês forem para algum lugar e passarem por constrangimento, por racismo, denunciem. A gente precisa deixar de se silenciar, precisa falar, porque a nossa legislação mudou, mas a gente precisa avançar", refletiu.

Outro lado

Em nota, o Detran-MT informou que a repetição e a demora no processo de fotografia pode acontecer em casos em que fatores como iluminação ou má qualidade da câmera estejam prejudicando o resultado final.

Além disso, a entidade informou que a Portaria nº 968, de julho de 2022, da Secretaria Nacional de Trânsito determina que, para a captura de imagens para confecção da CNH, o cidadão não pode estar usando nenhum tipo de adereço que atrapalhe a identificação facial, tais como óculos de sol, boné, lenços, turbantes e afins.

Por fim, o Detran-MT lamentou o fato, informou que não concorda com casos como o vivido por Keila e que o assunto já está na Ouvidoria do órgão para ser apurado.





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