Estudos apoiados pelo REM MT identificam impactos da produção diversificada no Cerrado
Pesquisadores produziram um artigo científico sobre produção de soja em solos arenosos (Foto: UFR)
Considerado o segundo maior bioma da América do Sul, o cerrado é conhecido pelas suas características predominantes, como árvores de tronco grosso e tortuoso, além de gramíneas e arbustos. O solo arenoso também é reconhecido por suas diferentes profundidades, texturas e fertilidades. Preocupadas com a falta de nutrientes do solo do Cerrado, Evelyn Custódio Gonçalves e Vivian Ionara Oliveira Santos produziram duas dissertações, enquanto Polyana Freitas Ponce foi responsável por uma iniciação científica sobre o tema.
Os estudos foram apoiados pelo Programa REM Mato Grosso, por meio do Subprograma Produção, Inovação e Mercado Sustentáveis (PIMS), que se dedica a projetos relacionados à pecuária sustentável, soja e manejo florestal madeireiro sustentável, além de ações relacionadas à difusão de boas práticas e inovação tecnológica.
Somente em Mato Grosso, o bioma Cerrado corresponde a 34% do território estadual. Nessa região, compreende-se diversas comunidades e produtores que utilizam do cerrado como forma de sustento.
O artigo “Sistemas diversificados de produção em solos arenosos do Cerrado: dinâmica de nutrientes e produtividade da soja” começou em 2017, em uma área de experimentação no Instituto Mato-grossense do Algodão (IMA), de aproximadamente 5,6 hectares. O estudo foi coordenado pelo professor Edicarlos Damacena.
De acordo com a mestranda de Agronomia – Produção Vegetal, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Polyana Freitas, a melhoria da qualidade dos solos do cerrado foi estudada a partir de suas composições físicas, químicas e biológicas.
O objetivo era identificar como seria a produção diversificada nesse solo. “Observamos níveis crescentes de diversidade funcional e florística, de maneira que esses fatores viabilizassem respostas positivas em relação à qualidade e produtividade do solo, bem como também trouxessem respostas quanto à absorção e ciclagem de nutrientes do mesmo”.
Pesquisas buscaram entender como o solo arenoso do cerrado pode obter mais nutrientes (Foto: UFR)
Segundo explica o professor, Edicarlos, quanto mais diversidade na área plantada, mais o solo se enriquece, por isso o sistema demonstrou sucesso. “ Nosso objetivo era avaliar a atividade biológica do solo. Nós observamos que no aumento da diversidade de plantas na fase de pastagem, tem um incremento na atividade biológica e enzimática do solo”, comenta.
Para a profissional sênior do Subprograma Produção, Inovação e Mercado Sustentáveis, Leonora Goes, falar em diversificação de sistemas de produção em Mato Grosso, que majoritariamente possui monocultivo de culturas agrícolas, por si só já é um desafio.
O trabalho desenvolvido pelo professor e seus alunos trouxe mais diálogo e compartilhamento de vivências.
“Tive o privilégio de acompanhar alguns encontros com produtores rurais da região sul de Mato Grosso. Nesses eventos, os produtores se comunicam com os pesquisadores, falando a mesma linguagem e existe uma troca muito enriquecedora: de um lado, os produtores apresentam os desafios e suas vivências práticas; de outro, os pesquisadores demonstram seus resultados experimentais de campo e apresentam novas possibilidades”, conta Leonora sobre a experiência.
Solo arenoso e sem nutrientes
O experimento consta de combinações de sistemas de manejo de culturas com níveis crescentes de diversidade de plantas (Foto: UFR)
No cerrado, os solos são resultados da ação conjunta do clima, material de origem (rochas), organismos, relevo e tempo, apresentam diferentes cores que vão de matizes do avermelhado, vermelho-amarelado, preto, cinza e até mosqueado.
Apesar de apresentar rica biodiversidade, do ponto de vista da agricultura, o solo do cerrado não é o ideal, pois é pobre em nutrientes e, consequentemente, apresenta baixa fertilidade.
“Os solos do cerrado são conhecidos por serem solos bem drenados, logo, altamente lixiviados. O que leva a perda de nutrientes por essa lixiviação, bem como também a outros problemas que esse tipo de solo pode trazer em relação à estrutura e produtividade do solo”, explica Polyana.
Na área do IMEA, por exemplo, a terra tinha diferentes experimentos, visto que era altamente arenoso. Portanto, o local era de difícil manejo, por conta da falta de retenção de nutrientes e fácil compactação.
Cerrado produtivo e de pé
Sistemas de produção de grãos com rotação de culturas em plantio direto (Foto: UFR)
A partir do estudo, foram obtidos resultados positivos em relação à ciclagem de nutrientes do solo. Com um solo nutrido, é possível produzir mais numa área menor, evitando abrir mais pasto e consequentemente, desmatando.
“Quando você produz mais na mesma área, com a mesma unidade de nutriente, você produz mais comida na mesma área e com a mesma unidade de nutrientes. Você diminui a necessidade de abertura de novas áreas, ou seja, você consegue fazer com que a verticalização suprima esse desmatamento, causando aumento de abertura de áreas”, explica Edicarlos.
A mestranda enfatiza a importância da conversação e manejo sustentável para que o bioma continue vivo.
“O sistema de conservação permite que esses, entre tantos outros problemas que esses solos apresentam, sejam devidamente corrigidos, de forma a aproveitar e potencializar o melhor que esses solos podem nos oferecer de maneira adequada, como, por exemplo, utilizando o sistema de níveis crescentes de diversidade”, pontua.
Leonora revela ainda que o resultado foi compartilhado como destaque entre o meio científico internacional. “Além da difusão dos sistemas integrados de produção, seus inúmeros benefícios para a recuperação e manutenção dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo, e aumento da produtividade, nós temos muita satisfação de ver os resultados dos experimentos financiados pelo REM MT publicados em revistas internacionalmente relevantes”.
Ainda de acordo com Edicarlos, o apoio do Programa REM MT foi essencial para que os alunos se dedicassem exclusivamente ao estudo dos solos, que colabora com a ciência e no aumento de produção de alimento, assim como reduz a pressão de abertura de novas áreas.
“O Programa REM MT contribuiu com esse projeto oferecendo suporte financeiro, para que a gente pudesse adquirir alguns equipamentos necessários para pesquisa. Além de fornecer subsídio financeiro pra que esses alunos de mestrado e doutorado pudessem conduzir suas pesquisas, se dedicar integralmente à pesquisa, sem a necessidade de estar trabalhando em outra função e conduzindo a dissertação de mestrado. O programa foi extremamente importante para possibilitar, oportunizar esses alunos a concluírem os seus cursos de pós-graduação e produzir ciência de alta qualidade", garante.
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