Mudar velhos hábitos demanda mais que apenas 21 dias
Um novo ano começa e com ele vêm as promessas de mudança de hábito que, muitas vezes, não se mantém. A empolgação impulsiona a mudança, mas estabelecer novos costumes nem sempre é tarefa fácil e muitas pessoas desistem rapidamente. Para esclarecer sobre o processo de se estabelecer nova rotina e dar dicas para que elas sejam perenes, o Gazeta Digital conversou com a psicóloga Sani Neves. A profissional também ponderou sobre os “21 dias para se fixar um hábito”. Será que funciona para todo mundo.
Para começar, a terapeuta explica que o hábito é uma maneira corriqueira de comportamento. Algo que se faz sem esforço, algo quase automático. Sair dessa maneira “robotizada” e estabelecer novas maneiras de se viver exige tomada de decisão e dedicação, algo que demanda energia até que a mudança ser torne habitual.
Essa mudança leva tempo, que pode ser mais do que os 21 dias que se tornou quase um conhecimento popular.
“Dentro de uma perspectiva realista, conforme estudos mais recentes, até mesmo uma pessoa considerada saudável poderá precisar de cerca de 66 dias ou mais para mudar um hábito e não apenas 21 dias. Ressaltando que tudo dependerá das suas habilidades. Não espere mudar um hábito da noite para o dia. Tenha calma e não queira mudar vários hábitos de uma vez”, explica Sani.
A teoria dos 21 dias surgiu a partir do estudo do cirurgião plástico plástico americano Maxwell Maltz, ainda nos anos 1960. Em sua pesquisa, percebeu que os pacientes começaram a notar os benefícios das cirurgias 21 dias depois dos procedimentos. O que o levou a crer que neste curto período era possível estabelecer mudanças consideráveis.
Para algumas pessoas é possível que isso aconteça, mas não é razoável aplicar a mesma metodologia para todos.
“Para ilustrar trago um exemplo: imagine dizer para uma pessoa com diagnóstico de TDAH que se esforce para mudar um determinado hábito em 21 dias. Para esse grupo específico isso será uma tortura, algo extremamente difícil e até inalcançável devido a dificuldade para ter foco, e ansiedade comumente presentes neste transtorno. Portanto, será necessário um olhar humanizado e tratamento adequado que incluirá psicoterapia e em alguns casos inclusive o uso de medicamentos para que posteriormente ou paralelamente o enfoque seja a mudança de hábito. Ao contrário, forçá-los a essa mudança rápida de apenas 21 dias poderá reforçar crenças negativas a respeito de si, além de piorar sintomas ansiosos e depressivos causando extremo sofrimento mental”, exemplifica.
Seja para ler mais, comer melhor, praticar atividade física, cozinhar mais, não importa o hábito, é necessário persistência, foco e não tentar alterar tudo ao mesmo tempo.
“Se há uma insatisfação na sua rotina é necessário descobrir de onde ela vem exatamente, em qual área sente insatisfação e desmotivação para, em seguida, pensar nas mudanças necessárias. Não espere mudar um hábito da noite para o dia tenha calma e não queira mudar vários hábitos de uma vez, o ideal é escolher um hábito por vez", orienta.
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