Mato Grosso segue fora do poder de decisão em Brasília
Depois do término da posse e da eleição da Mesa Diretora, senadores de todo o Brasil iniciaram na quinta-feira (2) a 57ª legislatura na Casa Alta. O comando vai ficar novamente com Rodrigo Pacheco (PSD), que foi reeleito para o biênio 2023-2024. Na Mesa, o presidente do Congresso Nacional terá a companhia de filiados a partidos da base de apoio do presidente Lula (PT). Porém, além de governista, a Mesa Diretora do Senado marcou outro fato que tem sido recorrente há anos: a falta de representatividade de parlamentares mato-grossenses na Casa.
O cargo mais alto que um senador de Mato Grosso ocupou na Mesa Diretora, desde a redemocratização até os dias atuais, foi o de 1º secretário, no biênio 1993-1994, com o ex-governador Júlio Campos, que à época era do Partido da Frente Liberal (PFL). Além dele, outras 6 vezes mato-grossenses fizeram parte da Mesa Diretora do Senado. A última foi Serys Slhessarenko, no biênio 2009-2010, quando era filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT). Nunca nenhum senador de Mato Grosso foi presidente do Congresso Nacional.
Para o ex-governador, a falta de interesse dos políticos em participar da Mesa Diretora. Além disso, o deputado estadual opinou que os senadores mato-grossenses precisam melhorar mais a relação com os colegas parlamentares.
Falta de interesse dos parlamentares. Para ser um membro da Mesa Diretora da Câmara ou do Senado tem que querer, tem que lutar, tem que se destacar, apresentar bons projetos, relacionar bem com os colegas e demonstrar interesse. Mas, eu não vejo nenhum senador com esse interesse. A maioria fica pouco tempo em Brasília, só vão terça e voltam quinta. Antigamente, a gente morava em Brasília, fazia contato social permanente. Era mais charmoso, contou Julio ao jornal A Gazeta.
A atual Mesa é composta por, além de Pacheco, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) como 1º vice-presidente, Rodrigo Cunha (União-AL) como 2º vice-presidente, Rogério Carvalho (PT-SE) como 1º secretário, Weverton (PDT-MA) será o 2º secretário, Chico Rodrigues (PSB-RR) como 3º secretário e Styvenson Valentim (Pode-RN) como 4º secretário.
Alfredo da Mota Menezes, PhD em História da América Latina pela Tulane University, justificou a baixa participação dos mato-grossenses argumentando que os parlamentares não possuem interesse em se candidatar a cargos menores no alto escalão.
Os parlamentares devem pensar: Qual importância isso vai ter para o meu eleitorado se eu for 2º ou 3º secretário? Eu, na minha opinião, acho que tem, mas muitos pensam que não. Fora a presidência e a 1ª secretaria, será que outra função daria visibilidade perante o eleitorado? Acredito nisso, disse o professor.
Para o professor, historiador e mestre em História pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Suelme Fernandes, a falta de proximidade com o presidente da República, além de Mato Grosso ser um estado periférico, dificulta uma maior representatividade na alta cúpula da Casa.
A eleição de Mesa Diretora do Senado Federal é muito difícil para parlamentares de estados periféricos do interior do Brasil, porque ela acaba passando por uma articulação do presidente da República. A eleição da Mesa está relacionada a uma composição maior dos projetos do presidente da República, explicou o especialista.
Levantamento
Ao todo, Mato Grosso já teve 6 representantes após a redemocratização. Além de Júlio e Serys participaram: Louremberg Ribeiro Nunes Rocha (PTB) como 4º secretário (1989-1990), José Márcio Pannot de Lacerda (PMDB) como 2º secretário (1991-1992), Júlio foi 1º secretário (1993 - 1994) e 2º vice-presidente (1995-1996), Jonas Pinheiro da Silva (PFL) como 3º suplente (1999-2000), Antero Paes de Barros como 2º secretário (2001 - 2002) e 2º vice-presidente (2005 - 2006) e Serys como 2ª vice-presidente (2009 - 2010).
A pesquisa ainda aponta que em outras quatro vezes um representante de Mato Grosso foi suplente na diretoria do Congresso Nacional. Jonas Pinheiro da Silva, pela extinto PFL, foi 3º suplente em 1999 e 2000. Serys também exerceu o cargo de suplente em 2003 e 2004. Neste biênio, ela foi 2ª suplente.
A ex-senadora voltou a ser suplente em 2005 e 2006, mas neste caso ela foi 1ª suplente. E o último senador de Mato Grosso que ocupou a suplência foi o atual senador Jayme Campos (União). Em 2012 e 2013, ele foi 2º suplente pelo extinto Democratas. A sigla deixou de existir se fundir com o Partido Social Liberal (PSL), ex-agremiação do ex-presidente Jair Bolsonaro, que hoje está no Partido Liberal (PL).
Pedro Taques derrotado
O ex-senador cuiabano Pedro Taques (Solidariedade) chegou a se candidatar à presidência do Senado em 2013. À época, o ex-governador estava filiado ao PDT e perdeu para o senador Renan Calheiros, que estava filiado ao extinto PMDB-AL e era o favorito para assumir o comando da Casa Alta. Calheiros obteve 56 votos dos pares. Taques, por sua vez, obteve 18 votos. Participaram da eleição 78 senadores e foram contabilizados dois votos nulos e dois em brancos. O senador de Alagoas comandou a Casa de Leis no biênio 2013 e 2014.
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