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Segunda - 13 de Fevereiro de 2023 às 06:46
Por: Liz Bruneto/Mídia News

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Esquina onde foi demolida uma das últimas residências originais
Esquina onde foi demolida uma das últimas residências originais

Marco da expansão urbana de Cuiabá, um dos bairros mais icônicos da cidade completou em janeiro 35 anos de sua oficialização. O Bairro Popular nasceu em uma região considerada periférica à época e em poucas décadas se tornou uma das áreas mais nobres da Capital.

Essa história, no entanto, começa muito antes da sua criação oficial, quando em 1950, por meio da Fundação Casa Popular, foi lançado o Conjunto Habitacional Popular. Somente em 1988, na gestão do então prefeito Dante de Oliveira, a região receberia o nome de Bairro Popular (veja AQUI a lei municipal).

Esse foi o primeiro conjunto de habitações do Estado, época que Mato Grosso e Mato Grosso do Sul ainda eram um só.

Representação clara da própria transformação urbana intensa pela qual passou Cuiabá. É de uma importância histórica para a cidade


Para a arquiteta e urbanista Louise Logsdon, de 37 anos, o bairro é “a representação clara da própria transformação urbana intensa pela qual passou Cuiabá. É de uma importância histórica para a cidade”, disse.

“O nome do Bairro Popular e essa demarcação do que ele é veio depois com os avanços da própria legislação e dos mapas de abairramento da cidade e o Conjunto Popular. O loteamento era tão icônico que o bairro pegou o nome do conjunto que fazia parte dele”.

O loteamento construído para atender famílias de baixa renda que deu origem ao bairro hoje carrega um forte apelo cultural que, segundo a profissional, se caracteriza na Rua 24 de Outubro, além de ter se transformado em um dos principais pólos da vida noturna de Cuiabá.

“Naquela época a região era considerada periférica porque a cidade se originou no entorno da Igreja de São Benedito, da Igreja do Rosário, onde hoje é o Centro Histórico. Ela foi crescendo ao longo do córrego da Praínha e foi até o Porto”.

Do residencial ao comercial

Outra importante marca foi a transformação gradativa de um bairro puramente residencial em um dos principais núcleos comerciais da cidade. Se um dia a região foi considerada distante do Centro, hoje ocupa localização privilegiada para muitas empresas.

Reprodução/ Artigo

Bairro Popular

Registros da Praça popular nos anos de 1996 e 2002 respectivamente

A mudança representou diversos avanços, mas com ela vieram também contratempos. “Mudou quase que da água para o vinho e isso é resultado de uma dinâmica da cidade que deveria, através do planejamento urbano, ser um pouco mais controlado”, afirmou.

“A gente percebe alguns problemas decorrentes, em parte, da falta de planejamento e da influência da própria especulação imobiliária na dinâmica da cidade”, completou.

Segundo a profissional, os gestores públicos precisam controlar essa compra e venda de imóveis feitas a fim de aguardar a sua valorização (para venda ou locação), “pelo bem coletivo do bairro, da cidade e como um todo”.

Louise explica que é importante para o desenvolvimento da cidade que os bairros tenham diversidades de uso, o que implica em menos deslocamento e, consequentemente, em uma “vizinhança viva”.

“As ruas são movimentadas e eu inibo a insegurança, a depredação, os assaltos, porque eu tenho um movimento de pessoas e elas fazem dos olhos a segurança da região”, afirmou.

Mudou quase que da água para o vinho e isso é resultado de uma dinâmica da cidade que deveria, através do planejamento urbano, ser um pouco mais controlado

O intenso movimento, o trânsito congestionado, o barulho são diversos os contratempos que vêm com essa dinâmica.

“Acho que isso está muito relacionado à intensidade. Muitos bares e restaurantes em um mesmo lugar e isso certamente pode trazer transtornos para os moradores. O ideal seria algo mais equilibrado, ter sim essa vida noturna, mas em uma intensidade que não trouxesse problemas de trânsito e violência”.

Uma nova arquitetura

Para baratear os custos e acelerar a produção das 124 casas - parte delas construídas em Mato Grosso parte em Mato Grosso -, o conjunto representou, segundo Louise, uma “quebra dos padrões das antigas residências cuiabanas” ao usar alvenaria simples. “Quando a gente fala das antigas moradias cuiabanas, a gente tem uma tipologia diferente”, afirmou.

Dispostas uma ao lado da outra e alinhadas à calçada, com paredes grossas em adobe (tijolos de barro), o pé direito alto (distância do piso até o telhado), telhas de barro e janelas de madeira, as antigas casas cuiabanas tinham inspiração em uma arquitetura colonial.

No Conjunto Habitacional Popular as casas passaram a ter quintal e deixaram de ser uma colada à outra. Os tijolos passaram para os de cerâmica e o adobe deu lugar à alvenaria. A planta baixa passou a ser mais compartimentada. “Uma casa construída para ser mais compacta e ter um custo de construção menor e mais rápido”, afirmou.

“Visualmente e em termos técnicos, essas casas se diferenciavam do que vinha sendo construído tradicionalmente e os programas que seguiram acompanharam a mesma tipologia do Popular”.

Outro marco do conjunto habitacional foi a qualidade que as residências apresentavam.

Apenas na lembrança

As edificações da década de 50 ficaram apenas em registros fotográficos e na lembrança de quem viveu a época. Uma das últimas dessas residências foi demolida no ano passado.

“Teve toda a dinâmica da cidade que tornou aquela região valorizada e que hoje atrai outros tipos de imóveis como bares, restaurantes, edifícios residenciais e comerciais”, afirmou, explicando as mudanças arquitetônicas do Bairro Popular.

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Bairro Popular

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