Conheça 8 povos tradicionais que vivem em Mato Grosso
Mato Grosso possui 3,2 milhões de habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021. Deste total, 238 comunidades são formadas por povos tradicionais que vivem no estado, de acordo com mapeamento do Ministério Público Federal (MPF). São povos que aliam harmoniosamente a produção agrícola com o local onde vivem, ajudando a manter a floresta em pé.
De acordo com a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), os Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) são definidos como: “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam os territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas geradas e transmitidas pela tradição”.
Essas comunidades fazem uso dos recursos naturais, não apenas para seu sustento, mas também para reprodução cultural, social e religiosa.
Entre os PCTs de Mato Grosso, estão os povos indígenas, os quilombolas, as comunidades tradicionais de matriz africana ou de terreiro, os extrativistas, os ribeirinhos, os pantaneiros e outros.
O governo de Mato Grosso, por meio do Programa REM MT, apoia projetos que trabalham com os povos tradicionais reconhecidos em Mato Grosso. As informações desta matéria foram retiradas do livro “Diagnóstico de povos e comunidades tradicionais em Mato Grosso”, publicado em 2021, a partir de estudo realizado pelo IPAM, em parceria técnica e financeira com a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ).
Confira 8 povos tradicionais mato-grossenses:
1.Quilombolas
O termo “quilombo” é originário da etimologia banto, que significa “guerreiro da floresta”. Esse termo era usado pelos portugueses para designar as povoações construídas pelas pessoas escravizadas que fugiam. Atualmente, as comunidades são conhecidas pelas fortes relações de parentesco, vínculos de solidariedade, vizinhança e religiosidade.
Foto: Laura Ferreira/ Projeto Muxirum Quilombola
Ainda hoje, quilombolas e remanescentes precisam continuar lutando pela conquista e reconhecimento legal das terras ocupadas e cultivadas para sua moradia e sustento.
Ao todo, 27 municípios de Mato Grosso possuem registro de comunidades quilombolas, entre certificadas e em processo de identificação e titulação no INCRA. Poconé é a cidade que lidera com mais quilombolas, contando com 28 comunidades certificadas.
A produção agroextrativista dos quilombolas é bastante diversificada e essencialmente voltada para consumo próprio. Eles produzem para seu sustento e vendem o excedente, fazendo o manejo rotativo e contribuindo para a manutenção da floresta em pé.
Os principais produtos produzidos por eles são a mandioca, banana, animais pequenos e cana de açúcar. Além disso, também costumam produzir derivados, como farinhas, doces, conservas e outros.
Quilombolas dos municípios de Nossa Senhora do Livramento, Poconé, Barra do Bugres e Cáceres recebem apoio do Programa REM MT, por meio do projeto “Muxirum Quilombola”. Eles produzem cumbaru, pequi, bocaiuva e babaçu.
2.Retireiros e retireiras do Araguaia
Os retireiros e retireiras são conhecidos por viver nas áreas úmidas do rio Araguaia, possuindo semelhanças com comunidades ribeirinhas. As suas produções são voltadas exclusivamente ao ecossistema típico da região, acompanhando as cheias e secas do rio Araguaia.
Lidiane, liderança retireira (Foto: REM MT)
O nome “retireiro” se relaciona tanto a prática de se retirar da várzea junto com o gado durante o período chuvoso, como também as habitações em que vivem na várzea, que é uma casa simples coberta de palha, com curral, cisterna e piquete.
Em Mato Grosso, essas comunidades se concentram em Luciara e Santa Terezinha, contudo, há relatos de famílias retireiras em São Félix do Araguaia e Novo Santo Antônio.
A principal atividade produtiva das comunidades retireiras é a pecuária de corte e criação de bezerros, contando também com plantios e artesanato. O uso do pasto é coletivo e os trabalhos no território são feitos de forma solidária e recíproca.
Bandeira bordada à mão que representa os retireiros e retireiras do Araguaia (Foto: REM MT)
A venda do gado de corte é feita individualmente pelas famílias, diretamente para o mercado privado, como o açougue local. No entanto, as famílias podem se juntar para vender os bezerros de forma coletiva.
3.Pantaneiros
Pantaneiros e pantaneiras são as pessoas que fazem parte das comunidades que vivem no bioma Pantanal, e que apresentam aspectos peculiares de coexistência com a dinâmica das águas. Além de fazer do Pantanal a sua morada, fazem dela a sua identidade e cultura.
Claudia Sala de Pinho é Bióloga e liderança Pantaneira. Foto: Fernanda Fidelis/ REM MT
Uma das maiores planícies alagadas do mundo, o Pantanal se estende por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bolívia e Paraguai.
No território mato-grossense, o Pantanal abrange os municípios de Barão de Melgaço, Cáceres, Curvelândia, Itiquira, Nossa Senhora do Livramento, Poconé e Santo Antônio do Leverger.
Eles praticam atividades de pesca tradicional e artesanal, se organizando em colônias de pescas. Também há registros de pecuária de corte e plantação de banana, mandioca e verduras.
4.Morroquianos
Morroquianos são agricultores familiares que vivem na Morraria, região entre os arredores da Estação Ecológica da Serra das Araras, em Cáceres. Também ficam entre Nossa Senhora do Livramento, Poconé e Porto Estrela. Esse nome se dá por conta das diversas serras, morros, bocainas e córregos do lugar.
Valéria, liderança morroquiana (Foto: REM MT)
Os morroquianos possuem diversas percepções no cuidado do campo, roça, quintal, pasto, recursos madeireiros, áreas de uso comum e recursos naturais.
Portanto, a produção das comunidades morroquianas é bastante diversificada. Entre elas, destaca-se a “chacra”, muitas vezes associada a quintais e roças. A chacra fica próxima da casa do agricultor, podendo ter entre 0,43 a 2 hectares. A produção é voltada para consumo próprio, podendo haver eventual venda para o comércio como a farinha, produzida com mandioca.
Na chacra ainda são cultivados: quiabo, melancia, laranja, jabuticaba, goiaba, gergelim, coco da bahia, cará, batata doce e abóbora, milho, arroz, mandioca, feijão, abacaxi, banana, rúcula, couve, cana, pimentão e pepino.
Contam também com produção de espécies nativas, como paratudo, barbatimão, angelim e outras.
5.Extrativistas (e seringueiros)
O extrativismo é a atividade de gerar bens em que os recursos naturais são extraídos diretamente da sua área de ocorrência natural. Ou seja, famílias e comunidades que moram na região extraem os produtos, utilizando baixas tecnologias e saberes populares.
Foto: Vitória Lopes/ REM MT
Os produtos coletados são frutos, plantas medicinais, madeiras, resinas, óleos, látex, tintura e outros. As finalidades são diversas, podendo ser alimentares, medicinais e matéria prima para confecção de bens e serviços.
De maneira geral, são colhidos mel, cumbaru, bocaiuva, babaçu, pequi, mangaba, copaíba, castanha do Brasil, poaia e látex.
Os extrativistas estão em 36 municípios mato-grossenses, sem contar com a Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, localizada entre Colniza, Aripuanã e Rondolândia.
A extração da borracha, por sua vez, pode ser praticada em florestas naturais ou plantadas. O segmento de seringueiros é marcado principalmente pelas práticas de extração do látex.
Por meio do Programa REM MT, famílias de extrativistas da Associação de Coletores da Castanha-do-Brasil do Assentamento Juruena (ACCPAJ), também contam com o projeto “Cutiando - Castanha e Sustentabilidade na região noroeste de Mato Grosso” e o Pacto das Águas.
6.Ribeirinhos e pescadores artesanais
Como o nome sugere, ribeirinhos vivem à beira de rios. A atividade predominante desses povos é a atividade pesqueira, com suporte da agricultura de várzea e de terra firme. Também desenvolvem economia de subsistência, com cultivo de hortaliças, frutas, raízes e grãos.
Lourival Motta é Presidente da Associação de Pescadores de Cáceres. Foto: Fernanda Fidelis/ REM MT
O rio e sua dinâmica fazem parte literalmente da vida dessas comunidades, integrando sua cultura e características econômicas. Por conta da riqueza hidrográfica de Mato Grosso, esses povos vivem em 70 municípios no território.
Costumam formar associações e colônias de pesca, mas também cultivam melancia, limão, laranja, poncã, manga, goiaba e produtos da sociobiodiversidade, como mel, cumbaru, bocaiuva, babaçu, pequi e outros.
7. Povos de terreiro/raizeiras
Povos de terreiros formam comunidades de raizeiros, parteiras, umbandistas e candomblecistas. A base da religião é a manutenção da floresta em pé e da biodiversidade, já que nenhuma das atividades culturais e religiosas é desenvolvida sem usar folhas e ervas.
Maria Divina Cabral é raizeira e benzedeira cigana e teve sua história contada por uma websérie. Foto: Karen Ferreira
As casas de terreiros são responsáveis por muitas atividades sociais nas comunidades, como atendimento à saúde, oficinas de reciclagens e doações de mudas. Atuam também na manutenção da cultura, religião e saberes tradicionais, bem como a gastronomia ameríndia e afro-brasileira.
Possuem pequenas hortas e viveiros para produzir mudas de plantas nativas, que servem para doação ou reflorestamento. Cultivam ainda plantas sagradas para os trabalhos do terreiro e plantas medicinais.
Artesanatos como tigelas de cerâmicas, atabaques e outros fazem parte da sua renda. Esses povos estão em 19 municípios mato-grossenses.
8.Ciganos
Existem várias comunidades entre os ciganos, com histórias diferentes. No entanto, todas se autodenominam andarilhas. Em Mato Grosso, são majoritariamente da identidade Kalon, vivendo no estado há mais de 100 anos.
Cigano à direita (de chapéu) durante a Oficina Povos e Comunidades Tradicionais e o Programa REM: Construindo Caminhos, em 2020. Foto: Fernanda Fidelis/ REM MT
Estão em sua maioria nos municípios de Alto Garças, Cuiabá, Juscimeira, Guiratinga, Juara, Pedra Preta, Rondonópolis, São José do Povo, Sinop, Lucas do Rio Verde, Tangará da Serra e Várzea Grande.
O nível de consumo dos ciganos é baixo, visto que costumam migrar com frequência. O uso dos meios naturais ocorria apenas para sobrevivência, sem desenvolvimento de degradação ambiental e poluição.
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