Sou piranha, diz blogueira que se propôs a transar com 100
Letícia Fernandez* só queria saber de sacanagem. Nada de ligações no dia seguinte, de joguinhos emocionais, de cenas de ciúme. Sexo “porque é bom” e ponto. Não, ela não é uma atriz pornô ou uma garota de programa. Letícia é o pseudônimo de uma jornalista de 32 anos que, em 2011, se propôs a brincadeira-meta de transar com cem homens em um ano. Mais que isso, ela decidiu relatar as experiências em um blog. Os 365 dias estipulados por Letícia se esgotaram. Eu quis saber se ela alcançou o placar e descobrir que balanço fez dessa jornada.
Para entender o que aconteceu a ela, é preciso olhar para trás. Letícia estava de férias em maio do ano passado, com bastante pique e tempo livre. Em uma página pessoal, escreveu que se continuasse naquele ritmo de pegação, chegaria a cem homens em um ano. O comentário rendeu e ela levou o desafio a sério. A ilustre anônima chamou atenção porque era uma mulher normal, não mais uma prostituta com diário virtual. Não cobrava pelos encontros e soltava o verbo na internet depois. Formada em direito e jornalismo, Letícia queria ser sexualmente livre.
Ela conhecia os caras nos mesmos lugares comuns, mas era bem mais direta que a média das mulheres. “Sou gorda e fora dos padrões de beleza”, diz. “Mas adoro flertar, atiro para todos os lados”. Letícia ia para cama sem contar do seu projeto secreto. No dia seguinte, colocava no ar a descrição da transa em detalhes. Da pegada ao gemido, das gafes aos absurdos. Nua e crua, Letícia não floreava nada em seus posts. “Na vida real, nem todo homem fica de pau duro e nem toda mulher, lubrificada”, diz. Por exemplo, ela fugiu do moço que lhe pediu para defecar durante o sexo e se decepcionou com outro que brochou no ménage a trois. Confessou até que um cara desistiu do oral alegando que ela estava com pêlos compridos e um odor desagradável. Em poucos meses, o blog alcançou centenas de milhares de visitantes por dia. Mas a autora parou de relatar seus causos no número 30.
Letícia diz ter cansado da cobrança dos leitores para que chegasse ao centésimo. E as agressões virtuais ficaram pesadas demais. À medida que sua identidade foi descoberta, ela também quis proteger os homens com quem saía. “Se me vissem com alguém e depois lessem uma história no blog, poderiam associar as duas coisas. Estava expondo quem não queria se expor.” Mesmo assim, Letícia continuou sua brincadeira. Usou e abusou, consensualmente, de quem bem entendesse. Com medo de que a família descobrisse sua vida dupla, contou ela mesma. “Temia que me achassem piranha”, diz. “Mas, de fato, é o que eu sou mesmo.” Ainda assim, Letícia não abre espaço para culpa e discursos moralistas.
A blogueira perdeu a virgindade aos 15 anos e teve alguns namorados possessivos, mas jura que a “brincadeira dos cem homens” não tem nada a ver com decepções amorosas. “A monogamia não serve para mim”. No final de 2011, Letícia conheceu um leitor do blog e se apaixonou. O casal ficou junto por dois meses, em uma relação aberta. Mas a mulher bem-resolvida levou um pé na bunda. Entrou em depressão. Com ajuda dos leitores, que diariamente mandavam dúvidas e pediam conselhos sexuais, ela mudou seu projeto. Há dois meses, criou o site CEM+1, com conteúdo informativo e opinitivo sobre sexo. A jornalista não conta com quantos homens Letícia, sua personagem, se deitou. Mas não se arrepende de nada. “Ela trouxe muita diversão a minha vida sexual”, diz.
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