Insegurança faz presidente determinar transferência da embaixada para Beirute
Dilma decide tirar diplomatas de Damasco, capital da Síria
Se um dos 575 cidadãos brasileiros radicados em Damasco bater nesta sexta-feira à porta da Embaixada do Brasil na Síria, vai encontrar um bilhete, escrito em árabe e inglês, com instruções explícitas para entrar em contato com o Consulado-Geral do Brasil em Beirute. Ou a Embaixada brasileira em Amã. Fontes ouvidas pelo GLOBO revelam que, por uma determinação direta da presidente Dilma Rousseff, o corpo diplomático brasileiro na Síria passa a trabalhar a partir de sexta-feira na capital do vizinho Líbano, devido à rápida deterioração da segurança.
Quatro diplomatas - entre eles o embaixador Edgard Casciano -, além de um funcionário administrativo e um oficial de chancelaria seriam levados a Beirute, de carro, logo nas primeiras horas da manhã de hoje, conforme previsto por um plano de emergência traçado há meses pelo Itamaraty. Os detalhes foram mantidos ocultos para preservar a segurança do deslocamento.
Entre as determinações de Brasília, porém, estava a queima de todos os documentos considerados secretos ou sensíveis. Um antigo funcionário da missão, sírio, vai ficar responsável pela manutenção do prédio, no bairro de Mezzeh.
- A embaixada não vai fechar, mas estará prestando aos cidadãos brasileiros toda a assistência consular necessária, temporariamente, em Beirute - explicou Alexandre Gonçalves, chefe do setor consular da Embaixada do Brasil em Damasco. - Não vamos abandonar os cidadãos brasileiros na Síria.
O início do mês sagrado do Ramadã, oficialmente marcado pelo governo Assad para sábado, tornou propícia uma retirada rápida. Segundo fontes diplomáticas, a militarização da capital, há cinco dias, acelerou a tomada de uma decisão que vinha sendo debatida, em Brasília, há algumas semanas.
Mas uma série de divergências internas no Itamaraty exigiu a intervenção direta da Presidência da República.
- O secretário-geral do Itamaraty (embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira) era favorável ao fechamento da embaixada; o embaixador era contra, e o ministro das Relações Exteriores (Antonio) Patriota contemporizava, oscilando entre os dois. Dilma foi decisiva ao dizer não para os riscos de manter os diplomatas em Damasco - assegurou a fonte.
Documentos sensíveis são incinerados
Até o envio de agentes de segurança para proteger a embaixada, anunciado no início da semana, foi suspenso devido à situação volátil.
O embaixador Edgard Casciano admitiu que ontem os combates e bombardeios intensos forçaram a suspensão do expediente. As condições de trabalho também se deterioraram. Segundo ele, durante todo o dia não houve acesso à internet. Telefonar para o Brasil era uma tarefa impossível.
- Não dá para colocar os pés na rua. Posso confirmar o uso de armas pesadas em Damasco. Coletei balas de fuzil Kalashnikov no jardim da minha casa e vejo os helicópteros sobrevoando a baixa altitude - relatou. - Pela primeira vez não consegui dormir à noite com o barulho de disparos e as explosões.
No posto há quatro anos, Casciano vinha mantendo contatos regulares não só com o governo sírio, mas com todos os representantes da oposição:
- O Brasil tem uma relação de Estado com a Síria. Temos contatos com todos e, no fim, esperamos que o Estado sírio seja preservado.
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