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Sexta - 07 de Abril de 2023 às 07:36
Por: Dantielle Venturini/Gazeta Digital

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Otmar de Oliveira

Otmar de Oliveira

Cuiabá, que completa neste dia 8 de abril 304 anos, outrora famosa pelos grandes quintais com árvores frutíferas e paisagens verdes, já foi a capital mais arborizada do país. Resgatar o titulo de “Cidade Verde”, aquele que um dia fez jus e ostentou com muito orgulho, mas que há tempos se perdeu, é o ideal de vida, a missão de muitos moradores. Pessoas comuns, mas incansáveis defensores da “Cidade Verde” e que acreditam no impacto através de um trabalho de “formiguinha” feito por meio do plantio de árvores.

Há quem já superou a marca de mais de 200 mil árvores plantadas. Como já dizia a música de Moisés Martins, “Cidade verde, como mudou, de belo que tinha pouco ficou. Cidade verde dos mangueirais, Cidade verde da esperança, do meu texto de criança, que não volta mais”.

Um estudo divulgado pelo Instituto Centro de Vida (ICV) comprova o que diz a canção. Nas últimas 3 décadas, a capital de Mato Grosso perdeu 17% de áreas verdes, aproximadamente mais de 55 mil hectares, o equivalente a 714 vezes o tamanho do Parque Mãe Bonifácia. Ambientalistas acreditam que o deficit arbóreo de Cuiabá já ultrapassa 1 milhão.

Esse cenário visível se confirma nas grandes avenidas, onde os canteiros arborizados e cheios de sombras deram lugar apenas a um vazio, assim como as praças do centro da cidade, onde árvores centenárias foram substituídas por palmeiras. José Abel do Nascimento, 64, ambientalista e um dos mais conhecidos defensores do plantio de árvores na cidade, lembra que Cuiabá está bem aquém daquilo que seria ideal em relação à arborização e destaca a importância das árvores para garantia de saúde, bem estar, água e alimento.

Ele faz parte dos voluntários que plantaram grande parte das árvores na região do Parque Zé Bolo Flô, no Jardim Universitário, e destaca que embora pareça um trabalho de “formiguinha”, se cada um fizer a sua parte é possível mudar a realidade.

“A gente é responsável por uma sensibilização ambiental e ela é possível. É um trabalho feito ao longo do tempo, minha família, por exemplo, sempre caminhou comigo, sempre plantou, sempre ajudou”. Em suas ações, ele conta que já superou a marca de mais de 200 mil árvores, que começaram a ser plantadas em 1980. Uma delas, no bairro Jardim Gramado, em Cuiabá, tem um lugar especial no quintal de sua casa, a Enterolobium contortisiliquum, popularmente conhecida como Ximbuveira, Tamboril, Oreia de Macaco.

“Essa árvore está entre as primeiras, tem mais de 30 anos”, diz ele ao abraçá-laAbel afirma que é preciso entender que sem árvores nós não sobreviveremos, os rios não sobreviverão. “Em um dia você tem uma árvore, no outro você não tem mais. Em um dia você tem um rio, amanhã você não terá mais. Isso tudo causa indignação para quem tem uma sensibilidade ambiental”.

Ele conta que em sua casa produz diversas mudas de árvores frutíferas e nativas para doação e distribuição à população, na tentativa de ir contra o deficit arbóreo em Cuiabá que chega a mais de 1 milhão com diversos pontos da cidade degradados.

“Basta olhar nas ruas, você quase não tem mais”. Papel social Na Capital, o poder público deixa e muito a desejar em política de arborização que, na realidade, depende e muito do entusiasmo e paixão de voluntários, assim como de projetos sociais para acontecer. Nos bairros, por exemplo, são os próprios moradores que começam esse trabalho e que, muitas vezes, compram brigas para a não retirada de árvores.

Na região do Coxipó, por exemplo, onde grande parte dos bairros já tem mais de 60 anos, a própria comunidade foi quem plantou e cuidou, mesmo que não seja de forma coordenada. No bairro Jardim Universitário, Elizeu dos Santos Ferreira, 74, está desde 1986 na luta pela arborização da cidade, em especial do seu bairro. Ele se recorda que quando chegou ao bairro algumas áreas eram abertas e sem nada e, então, tomou a iniciativa de plantar e arborizar os terrenos.

O mais novo projeto dele é Praça das Árvores, onde escolheu mais um terreno que seguia abandonado para transformá-lo.

“Nós fazemos esse trabalho pensando no bem estar de quem vai chegar, pois daqui uns anosestou partindo, mas as pessoas terão isso como legado”. No espaço da Praça das Árvores o projeto começou em setembro de 2022 e o objetivo é ocupar o local com árvores frutíferas, como pequi e acerola. Sua relação com o verde, com as árvores, começou na infância, com o desejo de seguir profissionalmente no caminho.

“Desde criança sempre fui envolvido, aí entrei na universidade como jardineiro, depois aposentei como técnico na área de pesquisa e farmacologia, e ainda dou continuidade a esse ideal aqui”. Ronald Muzzi, 47, há mais de 20 anos trabalha com o plantio de árvores no seu bairro, o Recanto dos Pássaros, e é também um dos apoiadores da Praça das Árvores.

Defensor do verde desde criança, ele garante que o exemplo foi passado ao filho de 6 anos que segue no mesmo caminho. Ele afirma que é preciso maior consciência e participação da população, pois o cidadão tem um papel importante, inclusive na provocação do poder público.

“Não podemos esperar pelo poder público, é um processo de conscientização. O município ajuda com a doação de mudas, de pessoal para ações no dia do plantio, mas a gente tem que ter iniciativa”. Para ele, o plantio de árvores é um legado que será deixado e se cada um fizer sua parte, ao longo dos anos é possível uma mudança social. “Dá para manter o título Cidade Verde se cada um fizer sua parte. Plantar hoje pela sobrevivência do amanhã”





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