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Quinta - 22 de Junho de 2023 às 17:40
Por: Cíntia Borges/Midia News

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A ex-servidora da Câmara de Cuiabá, Laura Natasha Oliveira
A ex-servidora da Câmara de Cuiabá, Laura Natasha Oliveira

A ex-servidora da Câmara de Cuiabá, Laura Natasha Oliveira, confirmou que repassava mensalmente R$ 5 mil referentes à VI (verba indenizatória) para a conta da vereadora Edna Sampaio (PT), nos cinco meses em que trabalhou como chefe de gabinete da parlamentar, no passado.

Nesta quinta-feira (22), Laura Natasha foi ouvida como testemunha da Comissão de Ética da Câmara de Cuiabá, na qual a petista é alvo de um processo disciplinar. Edna é acusada de desvio de finalidade de recurso por um suposto esquema de "rachadinha" da verba em seu gabinete.

A ex-servidora afirmou à Comissão que não tinha conhecimento da finalidade da VI e que foi orientada a repassar os valores para a conta da vereadora.

“Eu não sabia a real fidelidade da VI. No gabinete, sempre foi tratado como ‘VI do gabinete’. Em nenhum momento falavam que era do chefe do gabinete, que era uma ajuda de custo ou para custear os gastos do cargo. Em nenhum momento isso foi explicado para mim. E eu, com falta de experiência e conhecimento, acreditei”, disse ela à comissão.



Eu não sabia a real fidelidade da VI. [...] Em nenhum momento falavam que era do chefe do gabinete, que era uma ajuda de custo ou para custear os gastos do cargo

A cobrança, segundo a mulher, era feita mensalmente pelo marido de Edna, o servidor público William Sampaio, e depositado em uma conta bancária em nome da vereadora.

“Ele me perguntava: ‘Já caiu a VI do gabinete?’. ‘Já transferiu a VI do gabinete?", revelou.

“A conta era em nome da Edna, e eu nunca tive acesso a conta da Edna, nem ao cartão, nem movimentação, nem prestação de contas. Eu não podia movimentar esse dinheiro. Eu só transferia”, completou.

Ela ainda revelou que fazia um relatório – pedido pela vereadora - com os supostos gastos da verba de maneira “padronizada” e que esse relatório não era subsidiado por notas fiscais ou informações repassadas pela vereadora.

“Ela não me apresentava nota fiscal de nada, comprovante de pagamento, nem nada. Eu não tinha acesso de comprovante de pagamento nem prestação de contas. Eu não tinha acesso a conta bancária, nem a movimentação desse dinheiro”, disse a ex-servidora ao ser questionada sobre os relatórios.

Demissão: “Questão delicada”

Ela falou para mim que não teria condições de ficar comigo, porque ela é mãe de três filhos, e sabia como era estar grávida, e que a minha condição iria custar para o mandato dela

O escândalo da suposta “rachadinha” veio à tona meses após a ex-chefe de gabinete ter seu caso de demissão exposto na Câmara. É que Laura Natasha foi demitida do cargo, no ano passado, enquanto estava grávida.

A prática é vedada pelas leis trabalhistas sem justa causa. Segundo Laura, o RH da Câmara lhe explicou que a demissão poderia ocorrer, mas seu salário seria preservado durante sua gestação até o fim da licença-maternidade. Por conta disso, recebeu R$ 70 mil da Câmara.

Questionada pela comissão a respeito das circunstâncias da sua demissão, Laura contou ser uma “questão delicada”. Segundo ela, após meses trabalhando para Edna sem nenhuma intercorrência, descobriu a gravidez e a comunicou. A gestação trouxe enjoo, náuseas e mal estar, o que dificultou o desempenho da função.

“Eu precisei tomar soro várias vezes. Isso prejudicou meu trabalho. Fiquei incomodada e chamei a Edna para conversar e me desculpar por não entregar os meus 100%, como gostaria, por conta da minha condição. E foi nessa conversa que ela comunicou a minha exoneração”, revelou.

A ex-chefe de gabinete contou que chegou a implorar pelo emprego à vereadora por conta da questão financeira.

“Ela falou para mim que não teria condições de ficar comigo, porque ela é mãe de três filhos, e sabia como era estar grávida, e que a minha condição iria custar para o mandato dela. E eu não estou mentindo”.

E ela disse para mim que eu sabia que [aquele cargo] era temporário e que minha situação financeira não era um problema que ela tinha que resolver

“Ela disse que tinha dois anos de mandato e precisava de alguém que pudesse se doar 100%. E na condição que eu estava, isso não era possível. E eu disse para ela: ‘Edna, eu não sou a primeira mulher que fica grávida e precisa trabalhar. Muitas mulheres passam por isso, e trabalha até o final da gestação’”.

“Ela disse: ‘Laura, é difícil para mim fazer isso, mas não tem como eu continuar'. E eu perguntei para ela: ‘Edna, como eu vou fazer? Edna, como vou sustentar dois filhos com R$ 1,5 mil que recebo da Prefeitura? Como vou fazer para fazer o enxoval?’”.

“E ela disse para mim que eu sabia que [aquele cargo] era temporário e que minha situação financeira não era um problema que ela tinha que resolver. A partir disso, eu aceitei a decisão dela”, disse.

Veja depoimento na íntegra:

A Comissão de Ética

A Comissão de Ética é presidida pelo vereador Rodrigo de Arruda e Sá (Cidadania), tendo Kássio Coelho (Patriota) como relator e Wilson Kero Kero (Podemos) como membro.

Edna é alvo do grupo após uma reportagem publicada pelo site RD News mostrar comprovantes de transferências bancárias e conversas de WhatsApp indicando que parte dos recebimentos de sua ex-chefe de gabinete foram parar nas contas da petista.

Edna nega e diz que a denúncia tem cunho político, com intuito, segundo ela, de "prejudicá-la na Câmara Municipal por ser oposição" ao prefeito Emanuel Pinheiro (MDB).

O processo disciplinar que pode levar à cassação da vereadora Edna.





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