Mulheres assassinadas em Cuiabá não tinham medida protetiva
Em 8 meses, Mato Grosso registrou 20 feminicídios e Cuiabá foi a cidade onde mais ocorreram os crimes, totalizando 4 entre janeiro e agosto. Feminicídio é considerada a última instância dos crimes contra a honra das mulheres. Segundo dados divulgados pelo Tribunal de Justiça (TJMT), das 9.112 medidas protetivas de urgência solicitadas, 1.951 foram registradas na Capital, porém nenhuma das vítimas mortas tinha o amparo.
Em comparação aos anos anteriores, os dados continuam alarmantes e os assassinos - que na grande maioria são ex-companheiros das vítimas - estão cada vez mais descrentes na punição diante dos crimes.
Um dos casos de grande repercussão foi o de Thays Machado, morta a tiros pelo ex-namorado, Carlos Alberto Bezerra, 57. Vítima chegou a procurar a delegacia um dia antes do crime, mas não conseguiu registrar o boletim de ocorrência e pedir proteção. Ela foi morta à luz do dia, com vários tiros, com o então namorado. Assassino é filho do deputado Carlos Bezerra e foi preso horas depois.
Apesar de não ter registrado queixa naquele dia, ela havia comunicado a polícia sobre a violência do ex-namorado anteriormente.
Assim também aconteceu com Emily Bispo da Cruz, 20, morta a facadas pelo ex- namorado na frente do filho. Testemunhas confirmaram que ela já vinha sendo ameaçada dias antes da ação criminosa. Ela foi golpeada 14 vezes em uma das ruas do bairro Pedra 90. Antônio Aluízio da Conceição Maciano foi preso e já condenado a 20 anos de prisão pelo assassinato.
Já Maria de Almeida Gonçalves, 68, degolada e posteriormente queimada, não teve tempo de registrar qualquer ocorrência contra o namorado José Carlos Jesus da Silva. Crime ocorreu em janeiro deste ano no Pedra 90 e o assassino condenado a 27 anos em julho.
Quarta vítima foi a advogada Cristiane Castrillon, 48, morta brutalmente no primeiro encontro com o ex-policial militar Almir Monteiro. Ele foi preso no mesmo dia em que cometeu o crime. Ele estuprou, bateu e asfixiou a mulher porque ela recusou a realizar determinada prática sexual. Criminoso confessou o crime e segue preso.
Machismo social
Assassinos demonstraram nas atitudes violentas que possuem capacidade total em cometer o ato, sendo frios e calculistas. Eles não demonstram arrependimento durante o interrogatório, conforme explicou ao Gazeta Digital a delegada Ana Paula Marien, responsável por investigação de crimes contra mulheres.
"Geralmente, quando eles são interrogados até dizem que estão arrependidos. Mas, logo se justificam dizendo que cometeram o crime por culpa da vítima, alegando que só mataram porque 'perderam a cabeça', para mim isso não é arrependimento", frisou.
Delegado Marcel Gomes disse que esses crimes ocorrem como forma de desprezo pelo gênero feminino. Assassino acredita ter poder sobre a mulher, que, ao negar algum desejo, será penalizada com a morte e ainda julgada pela sociedade com um discurso machista.
"A mulher tem liberdade para sair com quem quiser, para onde quiser, assim como os homens fazem. Então, no momento em que ela diz não, é não. A sociedade culpar a vítima é um discurso carregado de preconceito contra mulher, essa mentalidade de querer relativizar a vítima, assim como o feminicídio, é uma violência ao gênero, carregada de machismo que menospreza e joga no lixo a condição dela dispor do gênero feminino", pontuou o policial.
Em meio a campanha do Agosto Lilás, que atua para conscientizar e combater a violência contra mulher, o Ministério Público de Mato Grosso usou a página no Instagram para chamar atenção da sociedade sobre as atitudes a serem abolidas.
Pontuando que vítima é vítima e julgamento é sinal de desumanidade.
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