VÍCIO MORTAL
“Vaper pode levar ao câncer; não sabemos o que tem lá dentro” Com 25 anos na oncologia, Crepaldi fala de tecnologia em tratamentos e importância da prevenção
O médico oncologista André Crepaldi faz um alerta sobre um costume crescente entre os jovens: o uso de cigarros eletrônicos, conhecidos como vaper ou pods. Um hábito pode levar a complicações e até mesmo ao câncer.
“Não há controle sobre o que tem nesses cigarros. Você não sabe de onde vem, o que tem lá dentro. Parece que tem nicotina, mas pode ter qualquer coisa, e acaba lesando o pulmão. Tem pessoas mais sensíveis que podem ter um processo inflamatório, piora da asma, bronquite... Eu vejo, realmente, como uma coisa bem ruim essas novas formas de cigarro”, disse.
Em entrevista ao MidiaNews, Crepaldi citou o avanço nos medicamentos utilizados para o tratamento dos diversos de câncer. Hoje, segundo ele, a medicina atua de modo a minimizar os efeitos colaterais e os fármacos têm maior poder de cura.
Um deles é o CAR-T Cell, um dos tratamentos mais modernos na medicina oncológica.
O médico, que tem mais de 25 anos dedicados à oncologia, também deu dicas para melhor qualidade de vida.
Confira os principais trechos da entrevista:
Repórter – Nos últimos anos, muitas pessoas trocaram o cigarro pelo vaper, imaginando estar fazendo um mal menor para o corpo. Qual a opinião do senhor a respeito dos vapers?
André Crepaldi - Mudou o instrumento. O cigarro, antes, era um instrumento de glamour, filmes, atletas. Agora é impressionante a quantidade de pessoas na noite com esse cigarro eletrônico.
Tem vários problemas; o primeiro é que vicia. A nicotina é uma das substâncias que mais vicia. E esse vaper facilita para ele migrar para um cigarro convencional, e acontece bastante. Começa que aquele instrumento é gostoso, aparece um outro cigarro, e abandona-se aquele.
Segundo é que são cigarros que você não tem o controle. Você não sabe de onde vem, o que tem lá dentro. Parece que tem nicotina, mas pode ter qualquer coisa lá, e acaba lesando o pulmão. Tem pessoas mais sensíveis que podem ter um processo inflamatório, piora da asma, bronquite. Eu vejo, realmente, como uma coisa bem ruim essas novas formas de cigarro.
Repórter - O senhor falou sobre malefícios ao pulmão. Não é porque é um instrumento que não ‘esquenta’, e que “não fede” que não lesiona o pulmão, é isso?
O médico, que tem mais de 25 anos dedicados à oncologia, também deu dicas para melhor qualidade de vida.
Confira os principais trechos da entrevista:
Repórter – Nos últimos anos, muitas pessoas trocaram o cigarro pelo vaper, imaginando estar fazendo um mal menor para o corpo. Qual a opinião do senhor a respeito dos vapers?
André Crepaldi - Mudou o instrumento. O cigarro, antes, era um instrumento de glamour, filmes, atletas. Agora é impressionante a quantidade de pessoas na noite com esse cigarro eletrônico.
Tem vários problemas; o primeiro é que vicia. A nicotina é uma das substâncias que mais vicia. E esse vaper facilita para ele migrar para um cigarro convencional, e acontece bastante. Começa que aquele instrumento é gostoso, aparece um outro cigarro, e abandona-se aquele.
Segundo é que são cigarros que você não tem o controle. Você não sabe de onde vem, o que tem lá dentro. Parece que tem nicotina, mas pode ter qualquer coisa lá, e acaba lesando o pulmão. Tem pessoas mais sensíveis que podem ter um processo inflamatório, piora da asma, bronquite. Eu vejo, realmente, como uma coisa bem ruim essas novas formas de cigarro.
Repórter - O senhor falou sobre malefícios ao pulmão. Não é porque é um instrumento que não ‘esquenta’, e que “não fede” que não lesiona o pulmão, é isso?
André Crepaldi – É um processo difícil. Tem aulas que ensinam e até treinamento para isso, mas o que mais conta é a empatia do médico com o paciente e a família. Saber explicar. Hoje, há como a gente contornar algumas situações, como em casos que não são curadas, que a gente vai utilizar dos tratamentos paliativo, para o controle de sintomas, até situações graves, mas curáveis.
É preciso fazermos uma abordagem de maneira que acalme o paciente, porque por pior que seja a notícia, sempre vai ter uma maneira de você amenizar sintomas.
Repórter - E hoje não se esconde mais o diagnóstico do paciente, por mais duro que seja, não é?
André Crepaldi - Normalmente não, mas há exceções, como por exemplo o idoso. O paciente idoso, muitas vezes, não quer falar sobre a doença. A grande maioria entra no consultório junto com os familiares e esse acompanhante pede, com antecedência, para que não fale.
E, realmente, quando são abordados, o paciente não quer perguntar muito sobre aquilo. Eu sempre uso a palavra tumor, em vez de câncer. Muitas vezes, quanto o paciente vai sozinho, percebe que ele sabe que tem a doença e só não quer conversar sobre aquilo.
Repórter- E em quais casos é necessária a indicação de um tratamento psicológico?
André Crepaldi – A gente indica que todos passem por avaliação. Para que o paciente passe ao menos por uma consulta inicial para orientações. Depois, dependendo do tipo de situação do paciente, de negação, de revolta ou até depressão, acaba se fazendo um acompanhamento de maior intensidade.
Repórter - E quando se fala em quimioterapia, logo se pensa em efeitos colaterais mais severos, como perda capilar e enjoos, mas nem sempre é assim. Qual é a realidade do tratamento hoje?
André Crepaldi – Ainda tem isso em alguns casos, mas melhorou muito. A queda de cabelo a gente ainda tem. Tem remédios que, se não se fizer nada, tem quase 100% de queda de cabelo.
O cabelo cai porque está sempre em crescimento, em multiplicação e quando você usa um remédio quimioterapia a grande maioria acaba atuando, parando e interrompendo essa multiplicação.
Hoje, temos aparelhos, como a touca de resfriamento do couro cabeludo, que coloca na cabeça do paciente antes da infusão. E isso reduz a penetração dos remédios no couro cabeludo e com isso reduz a queda. Não é 100% eficaz, mas reduzem muito.
Do ponto de vista médico isso é um problema menor, mas do ponto de vista psicológico e pessoal do paciente é de extrema importância.
Algumas situações, ainda não se pode usar a toca, que são as doenças do sangue, como a leucemia.
Os outros efeitos melhoraram também, como náuseas e vômitos. Esse é o efeito mais temido. Na década de 70, quando se começaram os tratamentos, se internavam para ficar hidratando, porque não tinha remédio que segurasse isso. E hoje a gente consegue, com medicações, melhorar e muito.
Mas, isso vai depender muito do tipo de doença, da fase da doença e das medicações que usam. Mas podemos dizer que com os avanços que temos ano a ano provavelmente a gente vai ter cada vez menos efeitos colaterais.
Repórter – Quando um paciente deve procurar um médico oncologista? Eu ter um histórico familiar ou hábitos de vida ruins, já é motivo para procurar um especialista?
André Crepaldi – No homem, com relação ao câncer, aos 45 anos já é entendido na medicina que é necessário fazer o exame de intestino, que é colonoscopia. Aos 50 anos fazer o exame da próstata como toque da próstata e exame de sangue. Pacientes com história familiar, de raça negra, precisa começar os exames um pouquinho antes. No homem, esses são os exames chamados de detecção precoce.
Na mulher, os exames que se utilizam, além da colonoscopia com 45 anos, para buscar pequenas lesões no intestino, e exame de mama, que é a partir dos 40 anos. O exame ginecológico de Papanicolau indicado a partir do início da atividade sexual da mulher ou em 20 anos começar a coleta desses materiais do colo de útero.
Repórter - Que outras medidas são importantes?
André Crepaldi – Deve-se procurar um médico se perceber qualquer anormalidade no corpo. Como nódulos anormais, sintomas que não melhoram, como uma fraqueza, um estresse, cansaço. As medidas de saúde são de extrema importância, como manter peso adequado. Isso previne doenças cardíacas, doenças cerebrais...
É preciso fazer atividade física regular, que é boa para o corpo todo. Vai melhorar a atividade vascular, o cérebro, articulações. As atividades físicas feitas de duas a três horas por semana, que não é muita coisa, já reduz e muito a incidência de vários tipos de câncer, entre eles o de mama, que é o mais comum na mulher.
Não fumar, que é uma coisa bem sabida, mas com toda a informação, com aquelas fotos horríveis nas caixas, as pessoas ainda acabam aderindo ao cigarro.
E também alimentação mais saudável, retirando o que puder de industrializados. Parece que essas ações são as mais fáceis, mas são as mais difíceis: a de fazer atividade física, manter o peso, alimentar adequadamente, porque depende exclusivamente de você não alguém dando a ordem todos os dias.
Repórter - Neste ano, um paciente com linfoma não-Hodgkin teve remissão completa após ser submetido a um tratamento com a terapia CAR-T Cell, que é um tratamento que usa as próprias células de defesa do paciente para combater o câncer. Como enxerga essa cura?
André Crepaldi – Hoje, o CAR-T Cell faz parte do armamento de tratamento, porque no linfoma a gente tinha, basicamente, quimioterapia, radioterapia e, em alguns casos, o transplante. Foi um grande avanço da medicina e da terapia, a gente tinha terapia celular.
O CAR-T Cell a gente pode colocar como sendo uma imunoterapia. Porque se retira células do paciente, modifica, reinjeta e essas células lutam contra o tumor. E hoje é uma terapia corriqueira ou, podemos dizer, de uso normal, em grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.
Em algumas indicações, que antes não tinha cura, se consegue com esse tratamento. Por exemplo, o linfoma e a leucemia na infância.
Repórter – E é muito caro?
André Crepaldi – É muito cara, cerca de R$ 2 milhões. Para se ter uma ideia essa terapia, uma parte dela é colhida no brasil, mandada para fora do país, e depois volta. Estão tentando desenvolver em laboratórios aqui, para que reduza o custo e se aplique ao SUS.
Repórter – O tratamento de câncer em geral é muito caro, não é mesmo?
André Crepaldi – Muito. Se a gente conseguisse diagnósticos precoces o custo tratamento da saúde pública, pensando na Saúde Pública do Brasil e no Estado de Mato Grosso, cairia e poderíamos usar parte desse recurso para outras terapias.
Hoje, se faz um diagnostico muito tardio. Por exemplo, câncer de mama, que a gente vai entrar agora no outubro rosa. Tem países com estatísticas que mostram que 60% dos casos são diagnosticados na fase inicial. E no Brasil é o inverso, a gente diagnostica esses 60% ou 70% dos casos no estágio 2 e 3.
Repórter– Qual a dificuldade?
André Crepaldi – Acesso. Às vezes, a informação. Mas o grande limitador é o acesso ao sistema de saúde mesmo.
Repórter– Em tese, o SUS deveria fornecer esses exames.
André Crepaldi – Nosso país é gigante. Por exemplo, o nossa estado, tem uma quantidade de população muito distante que estão em locais de difícil acesso. Tem um dado da sociedade de mastologia que se necessitaria de 11 milhões de mamografias por ano no Pais. Hoje, o Brasil faz em torno de 2.200 a 2.700
Repórter - A idade sempre foi um dos principais fatores para o surgimento do câncer. Mas pesquisas recentes mostram que a doença está aparecendo em pessoas cada vez mais jovens. Existe uma explicação para este fenômeno?
André Crepaldi – Em alguns tipos não há explicação plausível, mas há questões como a modernidade, contato com substâncias químicas, ambiente, alimentação, produtos plásticos, etc que a gente ainda não controla.
O câncer de mama, por exemplo, é muito maior na idade avançada, mas temos, entre 20% a 30%, de casos abaixo dos 50 anos, que são jovens. E se busca, às vezes, fatores de risco e não acha. Realmente, alguns, são inexplicáveis.
Repórter - O senhor notou alguma mudança de perfil das pessoas diagnosticadas com câncer hoje em relação ao início da sua carreira na medicina?
André Crepaldi – A questão de falar sobre câncer mudou bastante. Eu voltei para Cuiabá em 1997, quando terminei minha residência em medicina. E naquela época havia um maior tabu para se conversar sobre câncer.
E de lá para cá, a informação e a mídia foram extremamente importante. Programas que começaram, como o Outubro Rosa, e foram para os outros meses do ano, e se começou a se falar sobre a doença.
Repórter - A ciência mostrou sua capacidade de produzir vacina para Covid em tempo recorde. Por que, passados tantos anos de estudo, a ciência ainda não conseguiu a cura para alguns tipos de câncer?
André Crepaldi - Porque não é uma doença só, essa é a dificuldade. O que é um câncer? É uma célula do nosso corpo, que é um mecanismo interno de divisão celular e controle que se perdeu. Vamos falar de pele. A nossa pele está sempre descamando, cresce debaixo e uma encosta na outra e aí tem uma mensagem para parar de crescer. Se ela está normal, vêm outras células de defesa e elimina essa célula doente.
No câncer não, ela consegue fugir de todos esses mecanismos de defesa do nosso corpo e cresce de forma desenfreada. E esse mesmo tipo de câncer de pele pode ter vários mecanismos de desenvolvimento.
Uma coisa que é bastante comum, por exemplo, no melanoma, tem uma série de alterações moleculares dentro dele, que são alvos de tratamento e tem vários medicados que podem ser usados contra. O grande problema é, você achou o remédio que o trate, mas na doença já avançada, ele tem efeito por pouco tempo. Porque essa célula cria mecanismos de resistência e é preciso mudar.
O mecanismo da célula todo é muito complexo e, por isso, em muito casos não conseguiremos a cura total. Em algumas patologias, já temos grandes avanços. Por exemplo, um tumor de testículo. Mesmo com a doença espalhada, que é quando ele sai do testículo e vai para o pulmão tem uma alta taxa de cura, mais de 90%.
Ou seja, alguns tipos de tumores a gente já tem excelentes avanços. Outros não, ainda está caminhando, mas vemos que esses avanços ocorrem em velocidade maior.
Hoje falamos de CAR-T Cell, e há pouco tempo a gente só usava remédios venosos, que é terapia clássica, e usava alguns comprimidos para tratamento. E para o nosso país, que é grande, também faltam muitas medidas de orientação e prevenção.
Repórter – Quando se fala em um diagnóstico de metástase, paciente e familiares interpretam como uma sentença de morte. É isso mesmo?
André Crepaldi - Hoje não, mudou. Há situações de metástase muito graves, em alguns tipos de tumores. E outros tumores que se tornaram doenças crônicas, manejáveis. Óbvio que em algum momento a doença vai progredir.
Hoje, por exemplo, o câncer de próstata com metástase para osso, em alguns tratamentos duram 10, 15 anos, com a doença, fazendo as atividades da vida normal, mas tomando remédio que na grande maioria das vezes é comprimido.
A leucemia crônica, é outro exemplo. Antes se fazia quimioterapia e transplantes. Se não tivesse resolução o paciente ia acabar falecendo. Hoje, existe um comprimido que a pessoa toma a vida inteira e o paciente vai controlado da doença.
Repórter – Há uns anos, uma pílula milagrosa, atribuída a USP (Universidade de São Paulo), dizia curar todos os tipos de câncer. Há ainda indicações populares como ervas, plantas, que também prometem a cura. Como analisa esse tipo de situação?
André Crepaldi - É difícil. Nas crenças individuais, tem várias populações que acreditam e no Brasil ainda temos a crença em raízes e plantas. E muitas são boas mesmo.
O mais importante é que discuta com o médico. Vejo paciente, depois de um tempo, que passa uns meses tomando e vem falar que estava usando em conjunto. Ficam com vergonha ou medo.
É importante o paciente explorar isso junto com o profissional. Geralmente, a gente orienta que não abandone o tratamento. Nos Estados Unidos, as terapias complementares são bem estabelecidas, como por exemplo se viu o benefício da yoga.
Repórter - Nesses tratamentos mais delicados, se recorre muito a religiosidade de pacientes e familiares. Como a religião é tratada dentro da oncologia hoje? Um paciente com a religiosidade pode ter mais chances de cura?
André Crepaldi - Se fala muito disso, mas não tem grandes estatísticas. O que vejo na prática, no dia a dia, é que pacientes com mais positividade, que aceitam melhor o tratamento, normalmente acabam tendo uma evolução melhor, do que pacientes que são mais negativos.
E se sabe que a imunidade tem a ver com a parte mental, astral e a positividade. Uma das terapias de câncer é a imunoterapia, que estimula seu sistema imunológico a lutar contra doenças. A parte mental é extremamente importante, não só para o câncer, mas para outras situações do corpo.
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