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Domingo - 08 de Outubro de 2023 às 07:33
Por: Eduardo Gomes/Diário de Cuiabá

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Fora da vida pública é conversa pra boi dormir. Mesmo sem mandato desde fevereiro de 2015 e carregando uma pesada pecha que assumiu em delação premiada, o ex-deputado estadual José Riva foi o grande vencedor na eleição para a direção da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) disputada na segunda-feira, 2 de outubro. O presidente escolhido foi Leonardo Bortolin, o Léo (MDB), prefeito de Primavera do Leste, mas a vitória foi de Riva, que no momento não tem interesse pessoal na máquina eleitoral daquela entidade municipalista, pois o mesmo jamais concorreria com sua filha e deputada estadual Janaína Riva (MDB), para quem o zeloso papai costurou o desmoronamento do poderio de Neurilan Fraga, que desde 2015 acumulou vitórias para a presidência da AMM, mesmo sem ser prefeito. A eleição na entidade municipalista terá reflexos em 2026 e até lá Janaína terá uma AMM para chamar de sua.

No final de julho, faltando mais de dois meses para a eleição na AMM, Riva disse que Léo venceria com 70 votos. O ex-deputado bateu na trave. O prefeito de Primavera cravou 68 e Neurilan não foi além de 58. Riva tinha em mãos, e mais importante ainda, em mente, o posicionamento dos prefeitos. Sabia quem rezaria por sua cartilha e quem optaria pelo continuísmo com Neurilan. Conversando com o repórter, Riva revelou que: "quase toda a campanha do Léo é feita no meu escritório. Ele é muito amigo da Janaína. Os dois são jovens".

Nenhum político em Mato Grosso concentrou tanto poder quanto Riva ao longo dos 20 anos em que dirigiu a Assembleia ora na Presidência ora na Primeira Secretaria, de 1995 a 2015. Naquele período, prefeitos e vereadores faziam romaria ao seu gabinete não somente para o beija-mão, mas, também em busca de interesses para seus municípios e até mesmo para si ou parentes.

A sucessão política é lenta. Boa parte dos prefeitos é da era do beija-mão, alguns eram vice-prefeitos e vereadores, mas nem todos apoiaram Léo, o seu candidato. Foi assim com Zé Carlos do Pátio, de Rondonópolis; com Uilson José da Silva, de Nova Lacerda; Ronivon Parreira, de Ribeirãozinho; Seluir Peixer, de Aripuanã; Professor Mauto, de Salto do Céu e outros. Riva sabia muito bem desse cenário, mas confiava que a maioria estaria com seu candidato. A confiança de Riva começava pela presença do deputado federal Juarez Costa na Presidência de Honra na chapa de Léo – Juarez deve sua primeira eleição para prefeito de Sinop a Riva, do qual era liderado na Assembleia, onde cumpria mandato; Marcelo Aquino, de General Carneiro, vem de berço político umbilicalmente ligado a Riva; Carlos Sirena é prefeito de Juara, o berço político de Riva; Egon Hoepers viu Santa Rita do Trivelato nascer embalada por Riva. Tranquilidade, confiança, segurança e uma boa dose de discrição guiaram Riva durante a campanha.

Neurilan sempre estava às ordens para disputar eleição na AMM, mas na entidade, nos últimos dois anos, surgiram vozes contrárias ao continuísmo, sendo que algumas de dezenas de prefeitos eleitos em 2020, mas que foram impedidos de votar por força da mudança estatutária. Riva percebeu a situação e votou Léo em cena reforçado por Janaína na condição de defensora de sua candidatura. O governador Mauro Mendes e a bancada federal procuraram se afastar da disputa, mas o deputado estadual Dilmar Dal Bosco (UB), líder do governo não somente abraçou Neurilan como ganhou a honraria de ser presidente de Honra da chapa situacionista. Mesmo enfrentando oposição Neurilan não dava sinais de fraqueza e sua voz era ouvida por um expressivo grupo político, dado à sua habilidade e articulação. Porém, Riva tratou de miná-lo.

A mudança estatutária na AMM foi uma jogada de Neurilan em 2020. Naquele ano Mato Grosso elegeu dezenas de prefeitos para o primeiro mandato; todos foram diplomados, mas impedidos de votar na AMM, porque Neurilan antecipou a eleição de janeiro de 2021 para dezembro de 2020. A antecipação tirou de cena prefeitos que não tinham nenhuma relação com Neurilan, o que facilitou sua vitória para o quarto mandato, devidamente aumentado de dois para três anos. Com essa manobra, dentre outros, não puderam votar Kalil Baracat (Várzea Grande), Roberto Dorner (Sinop), Wander Masson (Tangará da Serra), Adilson Gonçalves (Barra do Garças), Chico Gamba (Alta Floresta), Miguel Vaz (Lucas do Rio Verde), Mariano Kolankiewicz (Água Boa), André Bringsken (Vila Bela da Santíssima Trindade) Jo Soares (Santa Cruz do Xingu) e Alexandre Lopes (Campo Verde).

O eleitorado da AMM é pequeno. Não era preciso mídia nem barulho. Bastava um corpo a corpo, coisa que Riva domina como ninguém. Para reforçar o trabalho de Riva, Léo envenenou Neurilan com uma enxurrada de ações judiciais, que evidenciaram descompasso do presidente, que sequer conseguiu organizar a papelada para tentar se manter no cargo.

Riva não comemorou a vitória em público. Não foi ao vencedor, mas o recebeu em casa, pois a primeira visita de Léo foi para agradecê-lo. Inconscientemente o presidente eleito da AMM restabeleceu o antigo beija-mão.

LÉO - O primeiro ato de Léo, que aguarda a posse marcada para janeiro, foi conclamar os prefeitos para a união. No segundo passo ele quer novamente associar as 12 prefeituras que deixaram a AMM. A voz é a de Léo, mas o sentido é de Riva. Léo em política é aquilo que chama cria política. Nesse caso, de Riva. Mas é preciso observar que seus primeiros passos na vida pública foram assessorando vereadores e a Câmara de Primavera do Leste. O esquema de Riva naquele Legislativo vislumbrou futuro no jovem assessor. Em 2012 por indicação de Riva, Léo integrou a assessoria do então deputado estadual Luizinho Magalhães, ora vereador por Primavera. Luizinho rezava pela cartilha de Riva.

Em 2012 e 2016 Léo foi vereador por Primavera, pelo MDB; na primeira eleição Riva o amparou. Riva era filiado ao PSD, mas apadrinhava candidaturas na sopinha de siglas da política brasileira, como fez com Juarez Costa no PMDB em Sinop. Em janeiro de 2017 Léo elegeu-se presidente da Câmara e assumiu a prefeitura em razão da cassação do registro de candidatura do prefeito Getúlio Viana, por improbidade administrativa.

Em eleição suplementar realizada em 19 de novembro de 2017 Léo conquistou a prefeitura com 69,25% dos votos, e se manteve no cargo em 2020 com 89,04% da votação. Riva não participou publicamente da campanha em Primavera, pois cumpria prisão domiciliar, mas Janaína foi quase uma onipresença bela.

Léo é Leonardo Tadeu Bortolin, nascido no dia 13 de setembro de 1985, em Rio Claro (SP). É administrador de empresas e bacharel em direito. Administrará um orçamento mensal em torno de R$ 1,5 milhão em receita direta junto aos municípios associados, além de recursos externos transferidos por governos e parlamentares. Na AMM dois prefeitos exercerão cargos executivos em sua gestão: Janailza Taveira (UB), de São Félix do Araguaia, será secretária-geral, e Nelson Paim (PDT), de Poxoréu foi eleito tesoureiro geral. Além disso, claro, abrirá portas para Janaína.

Janaína não se manifestou após a eleição de Léo. Nem precisava. Sem dizer uma palavra sequer ele demonstrou o que sentia. Literalmente no ar rodopiou na AMM abraçada por Léo, ergueu o punho ao estilo comemoração de Pelé. Estampou o sorriso da filha que segue o caminho traçado pelo pai e que aponta para as opções do Palácio Paiaguás e do Senado, decisão essa que tomará ouvindo a sabedoria do papai e com o empurrão de Léo e seus prefeitos.e liga Rondonópolis a Guiratinga





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