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Segunda - 16 de Outubro de 2023 às 10:13

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Mato Grosso, no coração do Brasil, tem a sétima população indígena do país, segundo o último censo do IBGE, de 2022. Os povos indígenas representam 1,59% da população do estado. Temos uma cultura de forte influência dos povos indígenas, para além da culinária, arte e filosofia. São lições de vida, como a relação inteligente e criativa com a natureza e lições de sobrevivência: a luta para resistir às crueldades da colonização e às invasões de suas terras, ação criminosa que se repete nos tempos atuais pelos garimpos, desmatamento e a pesca ilegais.

Justamente por conta desta relação histórica, cultural e política, e do devido respeito que os povos indígenas merecem, causa um profundo mal-estar o silêncio estridente dos poderosos brancos de Mato Grosso sobre a eleição de um indígena para a Academia Brasileira de Letras (ABL). O silêncio é uma espécie de confissão da ignorância sobre o valor do fato. Na lógica torta dos poderosos brancos de Mato Grosso, se é indígena, o fato não tem valor, e se é cultura, o fato tem ainda menos valor.

O fato

Nesta quinta-feira (5), Ailton Krenak, filósofo renomado, professor, escritor, poeta, ambientalista e líder ativista da causa dos povos originários, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Krenak tornou-se o primeiro indígena a integrar a prestigiosa instituição fundada por Machado de Assis. Aos 70 anos, ele assumiu a cadeira número 5, ocupada anteriormente por José Murilo de Carvalho, falecido em agosto.

Ailton Krenak, que já era membro da Academia Mineira de Letras desde março, foi considerado o favorito entre os 15 candidatos que disputavam a vaga. Ele recebeu 23 votos, enquanto Mary Lucy Murray Del Priore obteve 12 e Daniel Munduruku, 4. A data de posse ainda não foi definida pelo novo imortal da Academia, sendo um acerto dele com a ABL.

O valor
Segundo Gustavo Krause, em artigo para o Blog do Noblat, a presença de Krenak traz com ele tradições milenares e uma bem-vinda transgressão ao artigo primeiro do estatuto da Academia que estabelece como finalidade “a cultura da língua e da literatura nacional”. Para pôr em acordo as diversas fontes, é possível afirmar que existem 150 línguas e dialetos indígenas no Brasil e cerca de 250 etnias.

Krenak não quebra, acumula tradições; não transgride regra, amplia significados; ajuda a reescrever nossa história; estimula o debate sobre a dimensão temporal dos territórios e, mais profundamente, revela importantes reflexões sobre o debate da agenda contemporânea que envolve as relações entre a Humanidade e a Natureza, argumenta Krause.

Trazemos aqui, de duas obras do filósofo Ailton Krenak, “A vida não é útil” e “Ideias para adiar o fim do mundo”, algumas belas passagens que demonstram a potência estética do seu pensamento.

A estupidez de isolar a economia do estado da cultura
“Governos burros acham que a economia não pode parar. Mas a economia é uma atividade que os humanos inventaram e que depende de nós. Se os humanos estão em risco, qualquer atividade humana deixa de ter importância. Dizer que a economia é mais importante é como dizer que o navio importa mais do que a tripulação. Coisa de quem acha que a vida é baseada em meritocracia e luta pelo poder”.

Sonhar é útil
“Para algumas pessoas, a ideia de sonhar é abdicar da realidade, é renunciar ao sentido prático da vida. Porém, também podemos encontrar quem não veria sentido na vida se não fosse informado por sonhos nos quais pode buscar os cantos, a cura, a inspiração e mesmo a resolução de questões práticas que não consegue discernir, cujas as escolhas não consegue fazer fora do sonho, mas que ali estão abertas como possibilidade”.

A diversidade que nos une
“Definitivamente não somos iguais, e é maravilhoso saber que cada um de nós que está aqui é diferente do outro, como constelações. O fato de podermos compartilhar esse espaço, de estarmos juntos viajando não significa que somos iguais; significa exatamente que somos capazes de atrair uns aos outros pelas nossas diferenças, que deveriam guiar o nosso roteiro de vida. Ter diversidade, não isso de uma humanidade com o mesmo protocolo. Porque isso até agora foi só uma maneira de homogeneizar e tirar nossa alegria de estar vivos”.






Fonte: PNB Online

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