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Policia MT
Segunda - 16 de Julho de 2012 às 16:12
Por: Lucas Bólico

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Lucas Bólico-OD

A denúncia de truculência e abuso de poder na ação policial durante o cumprimento de mandado de reintegração de posse na área denominada Parque Humaitá I, nas proximidades do Coxipó da Ponte, na qual crianças e idosos ficaram feridos com tiros de bala de borracha e golpes de cassetete é, pelo menos, a quinta denúncia grave de excessos de membros da Polícia Militar em Mato Grosso em menos de um ano.

Além das agressões contra as famílias que ocupavam o local, os policiais demoliram as casas e barracos construídos na área, extrapolando o que determinava a decisão judicial.

“Determino que o senhor. Oficial de Justiça proceda a intimação dos invasores para que desocupem a área pacificamente no prazo de 48h e, caso não haja desocupação voluntária, desde já defiro, para o cumprimento de mandado de reintegração, o esforço policial que deverá apenas auxiliar para manter a ordem e garantir a integridade física dos envolvidos”, consta no mandado.

Após a ação da PM, crianças ficaram com lesões de golpes de cassetetes nas coxas e marcas de munição não letal no rosto e em diversas partes do corpo. Um senhor de 67 anos levou chutes na altura da barriga e tiros de balas de borracha nas nádegas.

Caso Toni


Neste curto período de menos de um ano, talvez o caso mais emblemático seja o da morte do estudante africano Toni Bernardo da Silva, 27 anos. O rapaz faleceu por asfixia em setembro de 2011, após ser espancado por policiais militares em uma pizzaria em Cuiabá. A surra no estudante causou uma lesão na traquéia, o que o impediu de se manter respirando.

Apesar da repercussão da morte de Toni, a Polícia Militar inocentou administrativamente os dois membros da corporação envolvidos na agressão. O coronel Jorge Caratino Ribeiro informou na ocasião que a sindicância concluiu que a morte do rapaz após o espancamento foi um "acidente ".

Invasão em casa e tiro no cachorro

Em janeiro deste ano, policiais militares invadiram uma casa de família no bairro Pedregal, mataram um cachorro e fizeram um garoto de 10 anos limpar o sangue do animal de estimação. Sem mandado, os PMs entraram na residência. A justificativa para a ação seria, de acordo com a corporação, o fato de um bandido estar escondido no local.

O garoto mora com a mãe, um irmão e os avós, mas não havia ninguém, além dele, na residência. Os policiais invadiram a casa afirmando que procuravam pelo tio do menor, o pedreiro José Roberto.

Depois de matarem o animal, os policiais seguiram até um cômodo nos fundos da casa e efetuaram mais três disparos de arma de fogo para arrebentar o cadeado que trancava a porta. Eles entraram no quarto onde José Roberto morava e vasculharam tudo à procura de um notebook, supostamente produto de furto.

Advogada agredida no carnaval

No mês de fevereiro, foi a vez de uma advogada denunciar abusos cometidos pela PM. O fato aconteceu durante o carnaval em Nossa Senhora do Livramento (a 32 km de Cuiabá). De acordo com a reclamação de Ana Germana de Moraes, 32 anos, a confusão começou por preconceito racial contra um folião, que estaria sendo arrastado e espancado por PMs na praça central do município.

Ela contou que reconheceu o rapaz como Hélio, um dos alunos da academia que ela mantém com o marido em Várzea Grande. Ele estava correndo para escapar de um tumulto que se iniciava devido a uma briga na praça, mas foi segurado por policiais e levou uma “gravata”, além de golpes de cassetete.

Segundo Ana, Hélio foi agredido pela dupla devido à suspeita de que estaria incorrendo em alguma irregularidade, gerada tão somente pelo fato de ser negro. “Ele apanhava ouvindo ‘seu preto safado, você estava roubando, seu ladrão’”, conta a advogada.

Marido de Ana, A. W, 29 anos, foi tentar socorrer Hélio puxando-o, mas foi impedido por um dos policiais levando spray de pimenta direto nos olhos. Posteriormente, trinta agentes teriam sido chamados pelo capitão para conter o tumulto e fecharam o cerco ao redor de Ana, seu marido e os amigos V.L.L.S, J.R.J. e G.F.M (os quais preferem não ter seus nomes revelados por medo de represálias).

“Eles estavam em quinze e reuniram mais trinta. Fecharam três círculos: o primeiro para nos bater, o segundo para não deixar a gente escapar e nossos amigos entrarem para nos defender e o terceiro para a população não encostar”.

O relato segue com mais denúncias de abusos. De pronto os policiais teriam tentado imobilizar A.W. e colocar suas mãos para trás; em seguida, ele foi agredido e forçado a deitar no chão, onde levou pancadas nas costas diversas vezes.

Enquanto isso, Ana era imobilizada por dois agentes, sendo um aquele que tentou lhe tirar a câmera, e levava uma “gravata” enquanto tinha um dos braços torcido, recebia xingamentos e pancadas de bastão policial. Seus amigos também foram imobilizados. Dois deles, G.F.M. e J.R.J., teriam sido também espancados e recebido borrifada de spray de pimenta no rosto.

Agressão a turistas argentinos

A mais recente denúncia de truculência policial aconteceu há poucos meses, em abril, quando dois turistas argentinos denunciaram dois policiais militares de Mato Grosso por agressão e prisão sem motivo aparente, durante saída de uma casa noturna em Cuiabá. Na ocasião, uma das vítimas chegou a ter os dentes da frente quebrados.

Os PMs não teriam se identificado e espancaram os irmãos Ignácio Luiz Marcelo Lujan, 29 anos, e Ignácio Augustin Lujan, 26, na tentativa de obrigá-los a confessar o suposto furto de um celular e uma câmera fotográfica.

Os dois argentinos teriam sido acusados de furto qualificado, sem provas ou mesmo qualquer indício palpável. Na tentativa de obter uma confissão rápida, Ignácio Augustin foi espancado ainda dentro da boate.

Ainda na porta da casa noturna, os policiais revistaram o carro na presença dos irmãos, mas nada encontraram dos produtos reclamados pela suposta vítima. Diante da falta de provas, a polícia levou o veículo até o Cisc Planalto, onde teriam aparecido o celular e a máquina fotográfica supostamente furtada.






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